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Alice
Elias Martins

.........................................................Alice.....................................................



......Alice. Hoje, 20 anos. Há dois no curso de letras de uma faculdade particular de sua cidade natal. Pele alva, quase transparente, como diria meu amigo Cândido: "azul, cor de veia". Exagero. Cabelos louros, lisos, bem cuidados. Olhos claros. Mas, as atenções voltam-se facilmente para o seu corpo esbelto e formoso. No primeiro olhar, o primeiro pensamento é: maravilhosa! Filha única de pais que no passado, até meados de sua adolescência, tinham dinheiro e faziam os gostos dela. Todos eles.
           O pai, senhor Carlo Gero, quando se viu em situação financeira extremamente difícil, fez de tudo para convencer a filha a fazer faculdade, pois temia pelo futuro dela.
      Alice não se conformava com aquela decadência, não conseguia reconhecer-se em meio a restrições nunca antes experimentadas. Não entendia como que o mais simples dos seus desejos de consumo poderia não ser realizado. Ela nunca tinha visto o dinheiro em ação, pois, antes tudo que ela desejava, simplesmente, aparecia sem restrições, sem esforço e sem economia.
           A mãe, dona Rubra Rosa, jovem senhora robusta, vermelha de saúde, gostava de fartura. Às vezes fartura demais. Desperdícios. Mulher outrora esbelta por determinação da remota pobreza, ela conheceu as limitações da miséria, mas, pensou que tudo tinha acabado.
     Senhor Gero, descendente direto de italianos, apaixonou-se pela nordestina Rosa e logo se casaram. Ele era proprietário de uma microempresa do ramo de máquinas industriais, juntamente com um sócio. Fez razoável fortuna em pouco tempo, mas o sócio aplicou-lhe um golpe e ele teve de vender todo o patrimônio para saldar dívidas. Decadência... No entanto, senhor Gero era ainda moço e bastante esforçado e trabalhador.
     As amigas de Alice eram, obviamente, da alta sociedade. Desfilavam com roupas de marcas caras, vários celulares e com todos os outros aparelhos reprodutores de mídia, sempre do momento. Mas, o padrão de vida de Alice, não declinou de maneira considerável. Curiosamente, manteve-se quase o mesmo.
     Ela tentava, de todas as formas, ocultar a real situação de sua família e, como as amigas a viam gastar, aparentemente, sem preocupações consideráveis com alguma economia de dinheiro, não chegavam a suspeitar. Portanto, essa curiosidade é privilégio apenas do caro leitor. Ao menos por enquanto.
     Marcos Vinícius é um jovem pertencente à classe mais humilde da sociedade, trabalhava vendendo carros de todas as marcas e modelos na loja de um primo. Ele é simpático, cabelos lisos e pretos, moreno claro e, às vezes, faz algum sucesso com garotas de modesta beleza.
     No curso de letras esse rapaz, Vinícius como era chamado, é da turma de Alice. Talvez seja um dos únicos homens, ou o único, pois, não é segredo para ninguém que vários rapazes desta turma tinham outras preferências. Inclusive foi um destes que propiciou, ou serviu de ponte de acesso à frágil amizade entre Vinícius e Alice.
     Vinícius é esforçado de virtude e inteligente de elogio. Talvez até fosse inteligente mesmo, vai saber, mas o fato é que, logo a sua afeição a Alice começou a render-lhe trabalhos acadêmicos que ele fazia por ele mesmo e para ela. O poder feminino! Ele nutria um sentimento tão pulsante por ela que, o quanto ele conseguisse imaginar o seu futuro, lá estava ela impregnada como o próprio azul do céu, embelezando todos os caminhos e meios, e estradas e linhas imaginárias que ele produzia; nem mesmo o cheiro dela era possível ter fim.
     Mas, ele não conseguia que ela o considerasse como um amigo. Ela o procurava somente quando precisava de alguma coisa que já tinha procurado no seu grupo de amigos e não obteve êxito.
      Diferente de Alice, Vinícius sonhava em ter um curso superior, passar num concurso público com ótimo salário e construir um bom futuro. A ideia era trabalhar tranqüilo e ganhar bem. Quando se formasse ele seria o único da família a ter curso superior. Orgulho para alguns e inveja para outros.
      Alice tinha problemas com notas. Ia para o próximo semestre sempre devendo uma ou mais cadeiras. Isso estava ficando cada vez mais caro para ela. Seu pai já não pagava as mensalidades do curso, mas ela dizia que tinha uma bolsa de estudos. Há pouco tempo, sua amizade com um rapaz chamado Renê, que estudava em outra turma, começou a estreitar-se muito rapidamente. Este fato chamou a atenção de Vinícius, pois, do tal rapaz sabia-se que mulher não o atraia, portanto, um interesse comum entre ele e Alice seria um tanto curioso. Suspeito.
      Renê buscava Alice duas vezes na semana, sempre na terça e na quinta. Ela perdia os 20 minutos das últimas aulas destes dias.
      Havia um professor na faculdade que era extremamente exigente e muito rígido. Cobrava bastante, sabia muito. Mestre Gildo ensinava linguística. Quase todas as cadeiras relacionadas à linguística ele era o titular. Gigantesco problema para os que têm “alergia” a esta matéria. O terror! Como diz a menina da novela: “a treva”! Alice, por exemplo, devia todas as matérias deste distinto mestre. Não conseguiu passar em nenhuma. Mas, logo teria de dar um jeito, pois concluir o curso dessa maneira era absolutamente impossível.
     O caro mestre e doutorando, Gildo Moraes, era um tanto moço ainda, 40 anos, casado há oito anos, dois filhos, e, sócio da faculdade. Alcançou, há pouco, a classe média alta. Ele era quase arrogante, mas, às vezes, ainda se lembrava de sua humilde origem e permitia-se o acesso de alguns alunos. Os mais bajuladores e influentes é claro. As más línguas diziam que ele privilegiava as alunas mais interessantes, porém, não havia qualquer tipo de registro a esse respeito, e se houvesse alguma testemunha, esta nunca, jamais ousaria pronunciar-se, nem mesmo balbuciar qualquer palavra relacionada.
     Mestre Gildo, como era chamado o referido professor, tinha um gabinete exclusivo na faculdade. Geralmente, ele era um dos últimos a sair das dependências do prédio, então ele costumava ficar em sua luxuosa sala, nos momentos em que não estava dando aulas, tratando da burocracia e recebendo amigos e investidores. Também passou a admirar o gosto peculiar do uísque (15 anos) que bebia com gelo de água de coco, o qual servia também aos empresários que tinham relações com a faculdade.
     Numa bela e surpreendente noite, Vinícius precisou conversar com o Mestre Gildo, então, depois da última aula, ele dirigiu-se ao gabinete do Mestre, mas, ao aproximar-se começou a ouvir o que parecia uma discussão em tom um tanto exaltado, e, logo percebeu que se tratava da voz do caro professor. Vinícius não pode evitar chegar mais perto para saber o motivo de tal discussão que, ao que parecia, expressava uma indignação. Então, ele confirmou que era a voz do Gildo, em que este dizia para alguém que ela o respeitasse, pois ele era um homem casado, pai de dois filhos e tinha uma conduta idônea, correta e que somente um fraco poderia aceitar tal situação.
     A curiosidade do aluno estava deixando-o quase louco, mas, ele não poderia jamais se deixar ser visto pelo Mestre, devido ao respeito que ele o tinha e ao claro constrangimento que geraria, porém, ele percebeu que a conversa parou subitamente e as persianas da janela fecharam-se. Vinícius testemunhou apenas o silêncio absoluto durante, pelo menos, 20 minutos. Havia uma ansiedade que se agigantava dentro do rapaz, pois, ele sabia que não poderia permanecer por mais tempo no local, porque o horário de permanência de alunos no campus tinha se esgotado, logo os agentes fariam a ronda para garantir a segurança do perímetro e somente pessoas autorizadas poderiam estar no local. Então, ele teve de deixar a área sem saber o que tinha acontecido.
     Alice repetiu as disciplinas do Mestre Gildo e foi aprovada em cada uma delas. Não só Vinícius, mas também, muitos colegas repararam que ela não pediu ajuda a ninguém. Mas, qualquer um pode esforçar-se e aprender, não é verdade? Não é?
     O mestre começou a apresentar um súbito interesse pela área de esportes da faculdade. Realmente, notava-se que ele estava precisando melhorar sua forma física, pois estava à cima do peso por levar uma vida muito estressante e sem tempo para cuidar da saúde. Ele, rapidamente, pareceu um tanto rejuvenescido e mais corado.
      A família de Vinícius era de gente muito simples, muito pobre mesmo, inclusive conta-se que um tio dele teria morrido por falta de dinheiro para uma urgente assistência médica. Também se sabia de casos de doenças por má alimentação. O seu avô, senhor Ozório Campanário, ainda vivo, tinha uma venda, um pequeno estabelecimento com apenas duas portinhas onde se vendia de quase tudo, de cachaça a pastilhas de aparelhos eletrônicos de repelir pernilongos. Mas, o interessante é que esta venda ficava no centro da cidade, numa das avenidas mais comerciais, em meio a prédios luxuosos residenciais e comerciais. Ele já tinha recebido inúmeras propostas milionárias para vender o terreno, mas ele era irredutível, não vendia de jeito nenhum, e já tinha feito um testamento em que deixaria o imóvel para alguém, mas, com um contrato em que não permitia a venda do terreno em menos de cinco anos depois de sua morte.
     Ozório Campanário nunca se casou. Teve quatro filhos com mulheres diferentes. Um destes filhos foi o tio de Vinícius que morreu. Existia uma história que o povo contava sobre o Ozório, da época em que ele era um jovem de 18 anos, aproximadamente. Dizia que uma vez ele estava pescando sozinho perto da roça onde morava, quando viu no reflexo da água, o que parecia uma estrela que se movia e ficava maior a cada instante. Então, ele olhou para o céu e viu algo brilhante que se aproximava rapidamente do local onde ele estava e que caiu do outro lado de um morro bem próximo. Campanário subiu o morro, muito assustado, e viu lá em baixo um buraco em que saía um pouco de fogo e muita fumaça. Ele foi embora, com medo, mas, não conseguiu dormir, pois a curiosidade o perturbou a noite inteira, então, antes ainda de amanhecer, ele voltou ao local. Chegando lá, tudo já estava mais calmo e no fundo do buraco tinha uma pedra que parecia preta, ele a achou bonita e a levou.
     Por muito tempo ele tentou quebrar essa pedra, mas não conseguiu nem arranhá-la. As pessoas só contam até aí, mas o Ozório contou para o pai de Vinícius que um dia ele conseguiu quebrar um pedacinho da pedra, e este pedacinho assumiu uma tonalidade azul bem forte e o resto da pedra ficou mais escuro ainda. Uma vez, um americano que ficou sabendo dessa história comprou a pedra na mão de Ozório, foi quando este comprou o terreno e construiu a tal vendinha.
     Campanário finalmente morreu aos 94 anos. Ninguém conhecia uma pessoa de idade tão avançada que fosse totalmente lúcido, produtivo e ativo como ele. O enterro foi um grande acontecimento na cidade. Muita consternação por parte de pessoas de todas as idades. Vinícius chorou muito, pois seu avô era um homem muito sábio e muito justo também. As más línguas só conseguiam dizer um defeito dele, que era o seu vício por mulheres. Nos bastidores afirmavam que quase todo sábado era certo que ele frequentava uma determinada “casa de tolerância”, como diziam antigamente. Lá ele se divertia de verdade; bebia pouco, às vezes fumava um cigarro de palha, mas não desses que se compram prontos hoje, pois ele fazia questão de fazer o seu próprio, com palha e fumo de sua vendinha. E, finalmente, escolhia somente uma mulher que tivesse o dom da profissão.
     No testamento, Ozório deixou a venda para Vinícius e também a chave e o segredo de um velho e pequeno cofre, escondido nos fundos do estabelecimento. Neste cofre só tinham um pedacinho de uma pedra, que tinha a cor de uma tonalidade que parecia um azul um tanto forte, e, um papel com uma escrita que parecia alguma instrução. Ao ler o que estava escrito Vinícius logo queimou o papel. Em pouco tempo, ele vendeu tudo que tinha na vendinha e passou a morar no local. Começou a usar um discreto anel com a pedra, propositadamente, inalterada.
     No último ano de faculdade aconteceram coisas inusitadas. Renê, o amigo de Alice, foi preso juntamente com mais dois importantes empresários da cidade. Estes ficaram menos de doze horas prestando depoimentos na delegacia, mas, o rapazinho que não tinha tanta relevância, pernoitou duas vezes na cela. Boatos foram muitos, mas não se soube ao certo o motivo da prisão, pois a ocorrência não pode vir a público; claro que por força dos advogados dos empresários em questão.
     Alice começou a demonstrar uma discreta preocupação. Isolava-se facilmente e vivia com um “olhar flutuante”. Mas, nada conseguia nem mesmo fazer sombra sobre sua inebriante beleza que suscitava quase que uma comoção nas pessoas; muitos diziam, até, que ficavam emocionados ao olharem para ela, mesmo fazendo um gigantesco esforço para serem discretos. Tentativa inútil, pois certo era sucumbirem-se alegremente sob os abundantes adjetivos da moça.
     Então, o Vinícius “que não é bobo”, enxergou a oportunidade de se aproximar dela, com a intenção de atingi-la, de sondá-la para saber o que a incomodava. Ele realmente queria ajudá-la. Mas, ela, apesar de mostrar-se educada e quase simpática, não era fácil, não abria seu coração, não falava de problemas pessoais. Porém, Vinícius não se cansava, insistia, perseverava até que começou lentamente a tornar-se um companheiro, e, só não era totalmente presente porque ela, às vezes, dava um jeito de excluí-lo sutilmente de alguns eventos de sua vida.
     Alice mudou sensivelmente o seu comportamento. Não saía mais com tanta frequência com suas antigas amigas; mesmo porque quase todas já sabiam de sua situação e começaram a afastarem-se lentamente. E, lentamente também, ela começou a notar Vinícius, sentia que ele já era um tanto importante em sua vida, porém, ela ainda não considerava a possibilidade de envolver-se emocionalmente com ele. Havia ainda muitas obscuridades nas intenções e ações desta garota.
     O pai dela, senhor Carlo Gero, estava recuperando-se financeiramente, aos poucos. Abriu uma nova empresa, e, por incrível que pareça, o seu antigo sócio fora preso quando tentava dar o mesmo golpe em outro empresário, mas, este descobriu a tempo e acionou a polícia. Quando esta notícia veio a público, senhor Gero também foi beneficiado. Claro que o meliante já não dispunha mais de toda a fortuna, mas a justiça confiscou os bens dele e o obrigou a pagar, mesmo que em longo prazo, a todos que ele havia lesado. Senhor Gero não estava rico, mas também, já não se encontrava naquela miséria de antes. Sua esposa, Dona Rosa, aprendeu enfim a ser mais cautelosa “nas farturas”.
     Mas, nem tudo era alegria, senhor Gero descobriu uma coisa que o deixou muito triste. Alice nunca teve bolsa de estudos. Ele voltou a pagar as mensalidades dela. Preferiu não perguntar como que ela vinha pagando as mensalidades.
     Vinícius começou a vender carros como nunca havia vendido antes, mesmo na baixa temporada; parecia que, na cidade, somente a loja de seu primo é que conseguia vender. Logo ele comprou parte da agência e tornou-se sócio do primo. O estabelecimento era alugado, e num valor muito alto. Então, como os negócios estavam muito bons, eles resolveram comprar a loja. Obviamente que os lucros aumentaram. Antes de terminar o ano, Vinícius comprou a parte do primo na loja. Finalmente, nos últimos dias do ano, ele se formou e recebeu também, honra de aluno destaque. Ele viu Alice vencer o concurso de garota mais bonita da faculdade. Venceu fácil, diga-se de passagem.
     No ano seguinte, ele iniciou seu curso de pós-graduação na mesma faculdade, e, convenceu Alice a fazer também. Não foi fácil convencê-la, mas ele passou para ela a bolsa de estudos que ganhou por ter sido aluno destaque.
Os negócios continuaram dando muito certo, tanto que comprou mais duas agências de veículos e empregou quase todos os seus parentes que quiseram trabalhar. Mostrou-se um patrão bastante justo.
     O jovem Marcus Vinícius estava prosperando de forma muito rápida e consistente, inclusive, concluiu com louvor a sua pós-graduação. Parecia que tudo que ele fazia dava certo. Detalhe importante é que sua preocupação com os necessitados também estava aumentando. Ele fez um acordo com várias instituições de caridade e com algumas igrejas. Ele fazia reuniões com os responsáveis destas instituições, descobria o que as pessoas necessitavam e os ajudavam. Conseguia outras ajudas também. Convocava alguns empresários que ele passou a conhecer em virtude de sua ascensão nos negócios, e oferecia a eles a oportunidade de ajudarem os carentes. Seu jeito era simples, mas funcionava muito bem.
     Alice venceu, com facilidade, alguns concursos de beleza na cidade e região. Tornou-se quase uma celebridade. E, estes eventos estavam tomando muito de seu tempo. Obviamente que a pós-graduação ficou em segundo plano. Muitas empresas queriam associar a beleza dela a alguns de seus produtos. Ela estava ganhando muito dinheiro. Muito mesmo. Dinheiro que ela gastava com extrema facilidade e rapidez, e logo aparecia mais e mais dinheiro.
          Em uma das agências de Vinícius trabalhava uma moça muito interessante. Simone Lúcia é morena, cabelos pretos e bem lisos, olhos castanhos claros, bonita e, principalmente, uma típica mulher brasileira, ou seja, dotada de uma formosura notável, admirável e simplesmente pungente. Porém, ela apenas conseguia desconfiar do grande poder que dela irradiava. Este é conferido aos seres que reúnem em si mesmos duas grandezas, a beleza e a simpatia. E estas lhes eram abundantes. Por conta disso e, obviamente que ela nunca prestou atenção, mas a maioria absoluta das pessoas não conseguia ser-lhe indiferente. Ela estava concluindo o curso de fisioterapia. Por ser de família humilde, teve de trabalhar bastante para pagar a faculdade.
     O “destino”, então, resolveu se exibir, e, como é de costume, o fez de forma brusca, violenta e dolorosa. Vinícius caiu feio quando jogava futebol, de final de semana, com seus amigos. Quebrou o braço, e depois de vários dias de imobilização percebeu que os movimentos ficaram prejudicados. Neste ínterim, Simone formou-se fisioterapeuta; como é fácil presumir, seu chefe tornou-se seu primeiro paciente. Claro que um envolvimento entre os dois seria inevitável. Ela, como se sabe, era muito simpática, e ele não era bobo.
     Alice readquiriu uma propriedade que seu pai teve que vender na época decadente da família. Ela comprou novamente o sítio onde, na sua infância, passavam as férias em família. Todos ficaram muito felizes, pois o último dono conservara tudo do jeito que eles haviam entregado. Claro que quem tinha comprado o sítio só podia ser um amigo da família.
     Num lindo final de semana, senhor Gero e família saiu de casa com destino ao grande sítio. Eles embarcaram no luxuoso (SUV), veículo utilitário e esportivo, mas, apesar da insistência do pai, Alice não quis colocar o cinto de segurança. Na estrada, de repente, apareceram duas carretas emparelhadas; o sol estava contra os carreteiros que, naquele instante, tiveram a visão ofuscada pela luz solar. Senhor Gero, então, saiu da estrada para evitar a fatal colisão frontal, mas não conseguiu evitar o impacto com uma grande árvore. Alice foi arremessada para cima de sua mãe que estava no banco da frente ao lado do marido. Dona Rosa machucou bastante o rosto, quebrou costelas e o braço direito. Senhor Gero quebrou o braço esquerdo e teve cortes no rosto e no braço direito. Alice fraturou alguns dedos da mão direita, teve cortes no rosto e se feriu também na coluna.
     Foram socorridos no melhor hospital da região. O caso mais grave foi o de Alice. Depois de várias cirurgias os médicos não afirmavam se ela retornaria a andar. Quando ela retomou a consciência conseguiu entender que sua mãe não teria machucado-se tanto se ela estivesse usando o cinto, como seu pai havia recomendado insistentemente. Ela ficou profundamente deprimida e, por isso, sua recuperação estagnou. Seu pai já estava bom e sua mãe estava quase totalmente recuperada, mas ela não conseguia andar.
     Vinícius visitou a família de Alice várias vezes; era o amigo mais presente. Logo começou a conversar com ela. Alice estava revoltada. Ela se culpava e mantinha um ressentimento por causa do sofrimento da mãe que permanecera com marcas profundas das lesões. Vinícius lhe disse que, enquanto ela não se curasse por dentro não aconteceria a cura física. Ela não acreditava que um dia voltaria a andar, mas ele não tinha dúvida alguma de que ela se recuperaria plenamente.
     Passou-se algum tempo e Alice começou a esquecer a mágoa. Sua recuperação acelerou. Como Vinícius conhecia uma ótima fisioterapeuta, Simone também participou da reabilitação de Alice. Depois de Vinícius ter dito que ela voltaria a andar, no decorrer de um mês ela recuperou os movimentos das pernas.
     Alice, Vinícius e Simone tornaram-se amigos. Porém, o relacionamento dele com Simone era peculiar. Tinha uma cumplicidade que beirava a perfeição, era algo bem íntimo e maravilhosamente secreto. Alice, mesmo usando toda sua intuição feminina apenas conseguia desconfiar.
     Vinícius, finalmente, tinha Alice; ela estava completamente encantada por ele. Então, um relacionamento amoroso lentamente começou a se desenvolver entre eles e, logo ela começou a fazer planos de matrimônio.
     Numa manhã de sábado, Vinícius estava indo ao seu “sagrado” futebol quando, ao parar num sinal, olhou para o lado e percebeu um mendigo sentado na calçada. Bom, isso é fato corriqueiro de qualquer cidade, mas, algo o intrigou. As feições do referido mendigo de alguma maneira não lhe pareciam desconhecidas. Ele encostou o carro, como geralmente ele é caridoso com os pobres, aproximou-se do homem e observou detidamente sua aparência. Quando o maltrapilho percebeu que alguém o reparava, olhou discretamente e, de súbito levantou-se e correu como se tivesse se deparado com o próprio terror encarnado.
     Vinícius não compreendeu a atitude do sujeito, mas algo naquela fisionomia perturbava-o de forma gritante e quase que estridente. Não conseguiu divertir-se no futebol, nem dormiu bem à noite. No domingo, na companhia de Simone, tomaram algumas doses de whisky; ele a contou o ocorrido e ficaram tecendo algumas teorias sobre o assunto. Ah, Alice estava viajando.
     Na segunda-feira, algo o levou ao prédio de sua ex-faculdade. Talvez a nostalgia também tenha cooperado para impulsioná-lo até o mencionado local, mas, provavelmente foi extremamente menos mística do que a verdadeira razão impulsionadora. Já dentro do estabelecimento, começou a observar os retratos de seus antigos amigos de faculdade. Olhou atentamente para cada um deles, mas nada respondia àquela pontiaguda pergunta que lhe espetava o íntimo. Sua intuição o levara ao lugar certo, porém, não à pessoa certa. Quando já se despedia dos presentes, seus olhos paralisaram numa foto deslocada de seu grupo, destacada numa imponente moldura. Era ele sim. O mendigo. Vinícius foi correndo em direção à sala da administração em busca de respostas. Encontrou uma história que ele preferiu mil vezes nunca ter sabido.
      A esposa do recém-doutor Gildo Moraes é uma mulher um tanto inteligente, tem um apurado senso de justiça e um raciocínio claro. Sua beleza fora beneficiada ao longo do tempo, principalmente nos últimos tempos que foram de considerável crescimento financeiro. Lutou junto ao marido, com muita obstinação, para criar as filhas e também contribuir na prosperidade que conquistaram.
     Dona Mércia renunciou a prazeres individuais, como toda pessoa casada. Era formada em administração de empresas e empregava seus conhecimentos no benefício das finanças familiares.
     Conheceu o Gildo na faculdade quando o pai dele ainda lutava para conseguir pagar as mensalidades. Interessante é que Gildo perdeu o pai antes de concluir os estudos, e, o pai dela teve de ajudá-lo a terminar de pagar, pois, a Mércia engravidou e seu pai queria que ela se casasse com um homem que tivesse uma profissão. Naquela época professor era um cargo de prestígio e a remuneração não era a miséria que é hoje.
     Mércia dedicou seu tempo livre e boa parte de sua vida à família. Ultimamente, com as filhas já iniciando os estudos acadêmicos, passou a ter mais tempo livre, e, logo começou a investir na própria profissão. Como sempre gostou de regras e de administrar, aplicando este notável talento nas finanças da família, abriu uma firma de consultoria e gestão empresarial. Informou-se, fez cursos, obteve certificados, licenças, autorizações e credenciamentos. Sua competência logo fez a diferença. Empresas apresentaram lucros nunca antes registrados. O interesse de diretores e donos de empresas logo influenciou diretamente no êxito da consultora Mércia e, obviamente, no aumento da demanda de serviços. Na maior parte do tempo, ela trabalhava em casa prestando consultoria remota através de seu site. Em pouco tempo, ela passou a ganhar quase tanto quanto seu marido.
     Esta esposa, por muito tempo não prestou muita atenção em seu marido, porém, com mais tempo livre, naturalmente isso mudou. Claro que algumas de suas amigas fizeram comentários, insinuações de uma suposta infidelidade do Gildo, mesmo porque, eles eram muito bem sucedidos e isso gera, entre outras coisas, muita inveja. Mércia nunca havia pensado nisso, porém, passou a notar pistas que ele, displicentemente, deixava. Excesso de confiança por parte do parvo, do safado. Ela, então, usou a inteligência e concluiu que ele tinha uma amante.
     Certo dia, Mércia o seguiu e, facilmente, o viu entrar num motel de uma cidade vizinha, com uma loira. Acostumado. Cachorro! Então, ela voltou para casa e refletiu bastante sobre a situação. Primeiro sentiu muita raiva. Sentiu-se a pior das criaturas. Ingratidão... Raciocinou, raciocinou. Analisou toda a sua vida. Não viu nada errado. Viu conquistas, prosperidade. Teve medo das prováveis alterações. Mas, manteve-se indignada, não entendia o que poderia estar faltando para o seu safado marido. O que o teria levado a tamanha transgressão? Ele nunca foi perfeito, mas era um excelente pai, amorosíssimo, e, até então, um ótimo esposo.
     Passou-se algum tempo, e, em uma visita a uma importante empresa, Mércia conheceu um dos empresários mais bem sucedidos da região. Homem de meia idade que herdara os negócios da família e, com muito talento, herança imaterial, ampliou e prosperou sua empresa. Recém-divorciado, dotado de uma beleza fabricada e mantida pelo dinheiro que lhe era abundante, fazia sucesso com as mulheres, causando-lhes boas impressões.
     Mauro Torres, além de tudo era um discreto galanteador. O dinheiro o fazia sentir-se bastante poderoso. Não costumava colocar limites em seus desejos. Ele havia convidado a Mércia ao seu escritório porque o talento dela estava despertando o interesse de importantes lideranças regionais, então, ele logo se antecipou à concorrência.
     Numa breve entrevista, Mércia discorreu sobre seus projetos e, logo, ele percebeu que o segredo do sucesso dela estava em seu raciocínio simples, prático e extremamente eficiente. Mas, a índole galanteadora de Mauro não permitiu que ele deixasse de notar a elegância e a feminilidade da entrevistada. Ele não se conteve e iniciou suaves e discretos cortejos direcionados à distinta senhora. Em princípio ela não percebeu, mas quando sentiu a malícia do galã, teve um misto de indignação, vaidade e medo. Casada. Mesmo assim isso não intimidou o safado.
     Mauro apresentou-lhe uma proposta irrecusável, mesmo assim ela postergou a decisão. Então, eles se encontraram outras vezes para esclarecer e combinar termos e condições de trabalho, tudo isso ainda como proposta. Ele nunca perdia a oportunidade de se insinuar a ela. Suavemente, educadamente e gentilmente. Ela se envaidecia. Em um desses encontros, ele foi mais contundente. Inicialmente ela quase se indignou, porém, o sedutor já tinha massageado o ego dela o suficiente. Ela pensou no marido, e, de súbito veio uma bastante coragem. Saíram. Ele foi um amante perfeito, superlativo...
     Dr. Gildo, durante quase dois anos vinha escondendo uma inquietação, mas ultimamente um estranho nervosismo o estava deixando, às vezes, no limite do desequilíbrio. Pessoas íntimas notaram algo, porém, pensaram logo que se tratava de estresse no trabalho, pois algumas vezes ele chegava tarde da noite. Isso era normal para um homem na posição dele. Inclusive sua esposa começou a ter receio de que ele desconfiava do envolvimento dela com o Mauro. Mas, não era nada disso. Sua amante estivera “fora de cena” por motivos sérios de saúde e, nas últimas vezes que se encontraram ela esteve muito estranha. Desde então, ele tem ficado muito tenso.
     Uma noite, eles se encontraram novamente no mesmo motel de uma cidade distante uns 40 minutos. Entretanto, depois de manterem relações sexuais, em vez da calmaria veio a tempestade, a tragédia. Ela o revelou que amava outro homem e que só estava com ele por causa do dinheiro. E anunciou o término definitivo do relacionamento. Ele não entendeu, não gostou, entristeceu-se, decepcionou-se, deprimiu-se, não se conformou, enfureceu-se...
     Gildo foi à loucura. Começou a destruir a suíte, quebrou tudo que via pela frente. A amante saiu correndo assustada, pegou um táxi e foi embora. Mas, ele estava descontrolado e continuava quebrando tudo. Os funcionários do estabelecimento acionaram a polícia. Ele desacatou os oficiais, alguns bateram nele. Repórteres abelhudos adentraram ao recinto; tiraram fotos. Gildo foi recolhido à delegacia onde pernoitou. No dia seguinte, logo cedo, Mércia e o advogado que era amigo íntimo do doutor, apareceram para livrá-lo da cadeia. Gildo estava estranho. Na verdade beirava a carência afetiva. Mas, a esposa, com um jornal na mão contendo um relato malicioso do ocorrido, teve uma reação muito mais estranha ainda. Ela o olhou com desprezo e desferiu palavras de indignação que destituía a moral daquele cidadão rebaixando-a a um nível mais baixo do que o piso podre daquela carceragem. E isso durante 10 minutos ininterruptos. Foi tão forte que, os presentes começaram a pensar que ele era “o verme do excremento do cavalo do bandido”. O advogado e amigo do caríssimo doutor Gildo teve de conter a fúria da esposa. Ela parou de falar, mas, jogou o jornal no rosto do marido, que estava encharcado de suor, e saiu.
     Na página que grudou no rosto doutor, tinha uma foto grande e colorida que mostrava ele algemado, o quarto destruído, e, na cama um detalhe de suma importância futura, o único vestígio da amante, uma tornozeleira de ouro maciço, demasiadamente reluzente e com detalhes muito peculiares.
      Depois que Mércia saiu, o advogado cuidou de tudo. Sua amizade com o Gildo o permitiu perceber que o mesmo estava desnorteado como nunca se viu. Quando o acadêmico doutor Gildo começou a pensar percebeu o quanto que a esposa tinha razão. Sentiu muita vergonha, mas, ainda estava muito fragilizado. Precisava conversar com ela, pedir perdão. Porém seu conflito interno era gigantesco, pois sentia muito a falta da amante, mas sabia que precisava muito mais da esposa. Quando chegou em casa, suas filhas já sabiam de tudo. Estavam indignadas, revoltadas com ele, pois passariam vergonha em meio à sociedade. Feridas na vaidade. Totalmente solidárias à mãe e com muita raiva do pai. Rejeitaram-no. Xingaram-no. Ofenderam-no. Ele começou a perceber a extensão do seu erro. Logo suas filhas, os seres mais preciosos para ele; sua vida foi amar essas filhas e se regozijar pelo amor que elas o demonstravam. Elas disseram palavras que ele nunca achou possível que saíssem delas. Seu coração estava dilacerado. Ele saiu de casa, mas, quando quis imediatamente voltar para tentar pedir perdão, o portão se fechou, suas roupas foram atiradas na calçada. Então, num ato de extremo desespero, ele começou a gritar por perdão ali mesmo, em frente a casa, em público. Ele gritava, implorava, se acusava. Curiosos se aglomeravam, riam, gritavam junto. Novamente, polícia. Novamente, fotos. Um jornal publicou a reportagem completa, unindo as duas histórias.
     O caríssimo Gildo foi ao fundo do poço. Mudou-se temporariamente para a casa de seu amigo, o advogado. Sua esposa pediu o divórcio. A maioria dos bens ficaria com ela e com as filhas. Ele estava quase pobre, pois também a faculdade não o quis mais como sócio, porém compraram a parte dele. Ele sofria demasiadamente a falta da esposa e das filhas, pois as amava muito. “Quando se perde alguém ou alguma coisa é que se dá o devido valor”. Quanto mais se lembrava das virtudes da esposa, mais se achava um completo otário. Começou a acreditar que nunca a mereceu, e isso o doía a alma. Seu amigo o viu definhar em depressão.
     Então, como não há situação tão ruim que não possa piorar, veio o golpe de misericórdia. Numa segunda-feira, à tarde, ele ouviu um barulho na caixa de correios, abriu-a e lá estava um envelope pardo, anônimo, mas, ele era o destinatário. Abriu-o e ficou atônito. Havia fotos e um bilhete com informações. Ele esperou chegar a noite. Não comeu, nem bebeu, pegou uma câmera digital e saiu. Andou até o extremo da cidade. Área dos motéis de luxo. Ficou na espreita e viu um determinado carro importado chegar, mas, não conseguiu reconhecer os ocupantes por causa dos vidros escuros, porém a placa e o modelo do carro, Honda Accord preto, conferiam com as informações recebidas anteriormente. Seu coração disparou. Esperou do lado de fora por quase três horas quando, de repente, aquele carro saiu. Ele saltou na frente do veículo e constatou o caso de sua esposa com o empresário Mauro Torres. Com a câmera digital na mão tirou a foto. O Honda saiu cantando pneus. Gildo ficou ali, parado. Alguém ligou para a polícia. O advogado veio também. Encontraram o doutor em estado de choque, catatônico. Não falava, não focalizava os olhos. Seu amigo retirou a câmera de sua mão. Repórteres registraram tudo, novamente.
     A dita foto foi usada, juntamente com as outras evidências e, conseguiu-se evitar que a ex-mulher do coitado em questão, o deixasse na miséria. As filhas ficaram revoltadas mais ainda, agora também com a mãe.
     O caro Dr. Gildo Moraes desistiu da vida civilizada. Não quis mais viver em casas, nem usar talheres para comer, nem usar automóveis, nem cortar os cabelos ou fazer a barba. Não animava nem mesmo a falar. Vive agora como os vários mendigos que vemos todos os dias nas ruas. Suas filhas acham até que ele morreu. Poucos sabem da sua situação.
     Marcus Vinícius estava na sala da administração de sua antiga faculdade, conversando com um dos funcionários mais antigos. Este tinha em mãos alguns recortes de jornais antigos, e, devidamente amparado com estas provas, que mais pareciam ilustrações da tragédia do Dr. Gildo Moraes, relatou tudo com riqueza de detalhes e com muita emoção, ou comoção.
     Vinícius saiu dali com a cabeça cheia, emocionado, impressionado. Mas, logo sua velha e boa intuição começou a lhe perturbar novamente. Tinha algo em uma daquelas fotos. Algo estranho, um objeto que lhe desafiou a memória. Ele foi andando pelo caminho, forçando a mente. Depois de um bom tempo de agonia, finalmente, ele percebeu que o que estava abalando-lhe o sossego era aquela tornozeleira de ouro, a qual sobre ela escreveu-se no jornal que só poderia ter sido feita por encomenda. Seria peça única. Ele sentiu uma forte impressão de já tê-la visto num lindo tornozelo em que não se sabia se ela o enfeitava ou ele a ela.
     O jovem Vinícius foi fiel à sua intuição. No dia seguinte conversou com Alice e esclareceu que não se achava pronto para se casar. Ela ficou estarrecida pois, já contava como certo o matrimônio. Namoraram ainda por um tempo, mas ela terminou o romance e logo se casou com um rico e importante político da cidade. Não demorou a engravidar. E nasceu seu filho Róger.Vinícius foi visitá-los e quando ele olhou para o menino sua intuição levemente o incomodou.
     Simone ainda manteve seu romance com Vinícius, discretamente, como sempre. Engravidou e ele registrou sua filha chamando-a de Maria Eduarda.
      


É o fins!!!!


     













Biografia:
Elias Martins. 44 anos. Natural de Teófilo Otoni- MG. Graduado em Letras pela Universidade Federal de Ouro Preto - MG (UFOP). Pós-graduado em Ensino, Língua Portuguesa e Literatura pela Universidade Vale do Rio Doce. Professor da rede estadual. Professor de Linguística em faculdade particular.

Este texto é administrado por: ELIAS MARTINS
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