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PEQUENAS CONSIDERAÇÕES SOBRE O SONETO
Amauri Carius Ferreira

Soneto (originariamente o vocábulo significava "pequeno som") poesia de forma fixa, ou seja, utiliza métrica (medida de versos) e esquema de rimas (ritmo). É composto por 14 (catorze) versos, distribuídos em 02 (dois) quartetos e 02 (dois) tercetos (soneto italiano), geralmente utiliza versos decassílabos (dez sílabas poéticas) ou alexandrinos (doze sílabas poéticas). Também pode ser formado por 03 (três) quartetos e 01 (um) dístico (dois versos) - soneto inglês.

Esquema mais frequente de rimas: abba - abba- cde - cde (soneto italiano).

No Modernismo Brasileiro (1922 - Atualidade) foi muito cultivado o soneto branco, isto é, catorze versos sem rimas, porém, com métrica (versos decassílabos ou alexandrinos).
Principal cultor no Brasil: Mário de Andrade (1893-1945).


SONETOS ITALIANOS

SONHO DE POETA

Cantas tua musa e tuas verdades.
Tu és alegre, tu és sensível.
Queres para o Mundo: felicidades.
Poeta torne seu sonho possível.
Desejas para todos: liberdades.
Tu possuis idealismo invencível.
Sonhador... Artesão das sensibilidades...
poeta criatura indestrutível.
Defendas os valores cotidianos.
Que tua vontade dure por anos.
Canta o choro do coração fendido.
vítima flechada pelo Cupido.
Cantas para o Amor que não frutificou
da triste alma que o destino separou.

"Que ninguém doma um coração de poeta!"
Augusto dos Anjo (1884 - 1914)

A FAMÍLIA CAJU

Era uma vez a FAMÍLIA CAJU
composta por Pai, Mamãe, Sofia e Ju.
Sofia (CAJU): faz balé e natação,
livros, textos, cinema e televisão.
Por que CAJU? Chamam-na de Jujú,
todos dizem - vem cá Ju - (CAJU) ficou.
A família (CAJU) vive a viajar,
rota: Rio, Saquarema, Petrópolis e BH.
Papai (CAJU) come: jiló com chuchu.
Mamãe (CAJU) gosta de aipo e angu.
CAJU tem os cabelos cacheados
corre para não serem penteados.
Cresce a família caju.
Aos domingos: churrasco e peixe cru.

SONETO BRANCO

SONHO DE AMOR

Sonhei em sonho de amor que estava
em terra de paz e felicidade.
Cicerone: fantástica loura.
Musa: grandes, lindos olhos azuis.
Um corpo magro, modelado, esguio...
Adorei esta loura e, encantado,
quis com as forças do meu coração
namorar esta maviosamulher.
Infelizmente, intrépido não sou,
não tenho Símbolo de Nobreza,
humilde discípulo em Letras sou.
Mesmo assim, Ela deu-me o "telefone",
"liguei"..., obstou a família e NÃO!!!
Adorável sonho... Sex Rapunzel!!!


PEQUENA ANTOLOGIA DE SONETOS


Melhores sonetistas de Portugal:

Luís Vaz de Camões (1524 - 1580) - Renascimento.
Nasceu (provavelmente) em Lisboa.
1572 - Primeira edição de Os Lusíadas.
Poesias: Rimas (1595).

Principais sonetos:

Sete anos de pastor Jacó servia
Labão, pai de Raquel, serrana bela;
Mas, não servia ao pai, servia a ela,
e a ela só por prêmio pretendia.
Os dias na esperança de um só dia,
passava, contentando-se com vê-la;
Pórem o pai, usando de cautela,
Em lugar de Raquel lhe dava Lia.
Vendo o triste pastor que com enganos
Lhe fora assim negada a sua pastora,
Como se a não tivera merecida,
Começa de servir outros sete anos,
Dizendo: - Mais servira, se não fora
Para tão longo amor tão curta a vida!

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.
Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada. (ligada)
Mas está linda e pura semideia, (semideusa)
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim com a alma minha se conforma,
Está no pensamento como idéia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como a matéria simples busca a forma.

Alma minha gentil, que te partiste
Tão cedo desta vida, descontente,
Repousa lá no Céu eternamente
E viva eu cá na terra sempre triste.
Se lá no assento etéreo onde subiste,
memória desta vida se consente,
Não te esqueças daquele amor ardente
Que já nos olhos meus tão puro viste.
E se vires que pode merecer-te
Alguma cousa a dor que me ficou
Da mágoa, sem remédio, de perder-te,
Roga a Deus que teus anos encurtou,
Que tão cedo me leve a ver-te,
Quão cedo de olhos te levou.


Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o Mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades,
O tempo cobre o chão de verde manto,
que já coberto foi de neve fria,
e em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
outra mudança faz de mor espanto,
que não se muda já como soía.

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?


Manuel Maria Barbosa du Bocage (1765 - 1805). Neoclacissismo ou Arcadismo (1756 - 1825).
"Elmano Sadino".
Nasceu em Setúbal.
Poesias: Idílios Marítimos; Rimas (3 volumes) e Parnaso Bocagiano - poesias eróticas, burlescas e satíricas.
Principais sonetos:

Soneto V

Meu ar evaporei na lida insana
Do tropel de paixões que me arrastava;
Ah!, cego eu cria, ah!, mísero eu sonhava
Em mim quase imortal a essência humana.
De que inúmeros sóis a mente ufana
Existência falaz me não doirava!
Mais eis sucumbe Natureza escrava
Ao mal que a vida em sua origem dana.
Prazeres, sócios meus e meus tiranos!
Esta alma que sedenta em si não coube,
No abismo vos sumiu dos desenganos.
Deus, oh Deus!...Quando a morte à luz me roube,
Ganhe um momento o que perderam anos,
Saiba morrer o que viver não soube.


Retrato Próprio (Soneto LXXXI)

Magro, de olhos azuis, carão moreno,
bem servido de pés, meão na altura,
triste de facha, o mesmo de figura,
nariz alto no meio, e não pequeno.
Incapaz de assistir num só terreno,
mais propenso ao furor do que à ternura;
bebendo em níveis mãos por taça escura
de zelos infernais letal veneno.
Devoto incensador de mil deidades
(digo, de moças mil) num só momento,
e somente no altar amando os frades.
Eis Bocage, em quem luz algum talento;
saíram dele mesmo estas verdades
num dia em que se achou mais pachorrento.


Antero de Quental (1842 - 1891) - Realismo.
Nasceu em Açores (Ponta Delgada).
Obras:
1ª fase - Odes modernas (1865); Primaveras românticas (1862) e Raios de extinta luz (1892).
2ª fase - Sonetos completos.

Principais sonetos:

Mais luz!

A Guilherme de Azevedo

Amem a noite os magros crapulosos,
E os que sonham com virgens impossíveis,
E os que se inclinam mudos, impassíveis,
À borda dos abismos silenciosos...
Tu, lua, com teus raios vaporosos,
Cobre-os, tapa-os e torna-os e insensíveis,
Tanto aos vícios cruéis e inextínguiveis,
Como aos longos cuidados dolorosos!
Eu amarei a santa madrugada,
E o meio dia em vida refervendo,
E a tarde rumorosa e repousada.
Viva e trabalhe em plena luz: depois,
Seja-me dado ainda ver morrendo,
o claro sol, amigo dos heróis!


Soneto II

Num céu intemerato e cristalino
Pode habitar talvez um Deus distante,
Vendo passar um sonho cambiante
O Ser como espetáculo divino.
Mas o homem, na terra onde o destino
O lançou, vive e agita-se incessante:
Encher o ar da terra o seu pulmão possante...
Cá na terra blasfema ou ergue o hino...
a idéia encarna em peitos que palpitam:
O seu pulsar são chamas que crepitam,
Paixões ardentes como vivos sóis!
Cambatei pois na terra árida e bruta,
Té que a revolta o remoinhar da luta,
Té que a fecunde o sangue dos heróis!

A JOÃO DE DEUS

Se é lei, que rege o escuro pensamento,
Ser vã toda a pesquisa da verdade,
Em vez da luz achara escuridade,
Ser uma queda nova cada invento;
É lei também, embora cru tormento,
Buscar, sempre buscar a claridade,
E só ter como certa realidade
O que nos mostra claro o entendimento.
O que há-de a alma escolher, em tanto engano?
Se uma hora crê de fé, logo duvida:
Se procura, só acha... o desatino!
Só Deus pode acudir em tanto dano:
Esperemos a luz de uma outra vida,
Seja a terra degredo, o céu destino.



Grandes cultores no Brasil:

Gregório de Matos e Guerra (1636-1696) - Barroco.
Nascido em Salvador, Bahia.
Por ser muito crítico à sociedade de seu tempo foi apelidado de "Boca de Inferno".
Somente no século XX é que a Academia Brasileira de Letras deu lume as suas obras, organizadas da seguinte maneira:
I - Sacra (1929);
II - Lírica (1923);
III - Graciosa (1930);
IV e V - Satírica (1930);
VI - Última (1930).
Sonetos mais conhecidos:
"Buscando a Cristo". (Sacro)
"Sonetos a D. Ângelade Sousa Paredes". (Lírico)
"A Jesus Cristo Nosso Senhor". (Sacro)
"A instabilidade das coisas do mundo". (Lírico)
"À cidade da Bahia". (Satírico)
"Aos Caramurus da Bahia". (Satírico)
"Descreve o que era naquele tempo a cidade da Bahia". (Satírico)

Cláudio Manuel da Costa ("Glauceste Satúrnio").
(1729-1789) - Arcadismo.
Nascido em Mariana, Minas Gerais.
Participou do movimento denominado "Inconfidência Mineira".
Poesias:
Obras poéticas (1768) - obra literária que inaugurou o Arcadismo (1768 - 1836) no Brasil.

Principais sonetos:

Soneto XCVIII

Destes penhascos fez a natureza
O berço, em que nasci: oh quem cuidara
Que entre penhas tão duras se criara
Uma alma terna,um peito sem dureza!
Amor, que vence os Tigres, por empresa
Tomou logo render-me; ele declara
Contra o meu coração guerra tão rara,
Que não me foi bastante a fortaleza.
Por mais que eu mesmo conhecesse o dano,
A que dava ocasião minha brandura,
Nunca pude fugir ao cego engano:
Vós que ostentais a condição mais dura,
Temei penhas, temei; que Amor tirano,
Ondehá mais resistência mais se apura.


Soneto XIII

Nise? Nise? onde estás? Aonde espera
Achar-te uma alma, que por ti suspira;
Se quando a vista se dilata e gira,
Tanto mais de encontrar-te desespera!
Ah se ao menos teu nome ouvir pudera
Entre esta aura suave que respira!
Nise, cuido, que diz; mas é mentira.
Nise cuidei que ouvia; e tal não era.
Grutas, troncos, penhascos da espessura,
Se o meu bem, se a minha alma em vós se esconde,
Mostrai, mostrai-me a sua formosura.
Nem ao menos o eco me responde!
Ah como é certa a minha desventura!
Nise? Nise? onde estás? aonde estás?

Soneto II

Leia a posteridade, ó pátrio Rio,
Em meus versos teu nome celebrado;
Por que vejas uma hora despertado
O sono vil do esquecimento frio:
Não vês nas tuas margens o sombrio,
Fresco assento de um álamo copado;
Não vês ninfa cantar, pastar o gado
Na tarde clara do calmoso estio.
Turvo banhando as pálidas areias
Nas porções do riquíssimo tesouro
O vasto campo da ambição recreias.
Que de seus raios o planeta louro
Enriquecendo o influxo em tuas veias,
Quando em chamas fecunda, brota em ouro.

Soneto XIV

Quem deixa o trato pastoril amado
Pela ingrata, civil correspondência,
Ou desconhece o rosto da violência,
Ou do retiro a paz não tem provado.
Que bem é ver nos campos transladado
No gênio do pastor, o da inocência!
E que mal é no trato e na aparência
Ver sempre o cortesão dissimulado!
Ali respira amor sinceridade;
Aqui sempre a traição seu rosto encobre;
Um só trato a mentira, outro a verdade.
Ali não há fortuna, que soçobre;
Aqui quanto se observa, é variedade:
Oh ventura do rico! Oh bem do pobre!


OLAVO BILAC (1865-1918) - PARNASIANISMO (1870 - 1922).
Nasceu no Rio de Janeiro.
Membro fundador da Academia Brasileira de Letras (1896).
Em 1907, foi eleito "Principe dos Poetas".
Poesias:
Poesias (1888);
Poesias infantis (1904);
Tarde (1919).

Sonetos de maior realce:

XIII

"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...
E conversamos toda noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.
Direi agora: "Treloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem quando estão contigo?"
E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas". (VIA-LÁCTEA)

XXV

A Bocage

Tu, que no pego impuro das orgias
Mergulhavas ansioso e descontente,
E, quando à tona vinhas de repente,
Cheias as mãos de pérolas trazias;
Tu, que do amor e pelo amor vivias,
E que, como de límpida nascente,
Dos lábios e dos olhos torrente
Dos versos e das lágrimas vertias;
Mestre querido! viverás, enquanto
Houver quem pulse o mágico instrumento,
E preze a língua que prezavas tanto:
E enquanto houver num canto do universo
Quem ame e sofra, e amor e sofrimento
Saiba, chorando, traduzir no verso. (IDEM)

Nel mezzo del camin...

Cheguei. Chegaste. Vinha fatigada
E triste, e triste e fatigado eu vinha,
Tinhas a alma de sonhos povoada,
E a alma de sonhos povoada eu tinha...
E paramos de súbito na estrada
Da vida: longos anos, presa à minha
A tua mão, a vista deslumbrada
Tive da luz que teu olhar continha.
Hoje, segues de novo... Na partida
Nem o pranto os teus olhos umedece,
Nem te comove a dor da despedida.
E eu, solitário, volto a face, e tremo,
Vendo o teu vulto que desaparece
Na extrema curva do caminho extremo. (SARÇAS DE FOGO)

Língua portuguesa

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...
Amo-te assim, desconhecida e obscura,
Tuba de alto clangor, lira singela
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!
Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,
Em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho! (TARDE)

A um poeta

Longe do estéril turbilhão da rua,
Beneditino, escreve! No aconchego
Do clustro, na paciência e no sossego,
Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!
Mas que na forma se disfarce o emprego
Do esforço; e a trama viva se constitua
De tal modo, que a imagem fique nua,
Rica mas sóbria, como um templo grego.
Não se mostra na fábrica o suplício
Do mestre. E, natural, o efeito agrade,
Sem lembrar os andaimes do edifício:
Porque a Beleza, gêmea da Verdade,
Arte pura, inimiga do artifício,
É a força e a graça na simplicidade. (IDEM)

A Iara

Vive dentro de mim, como num rio,
Uma linda mulher, esquiva e rara,
Num borbulhar de argênteos flocos, Iara
De cabeleira de ouro e corpo frio.
Entre as ninféias a namoro e espio:
E ela, do espelho móbil da onda clara,
Com os verdes olhos úmidos me encara,
E oferece-me o seio alvo e macio.
Precipito-me, num ímpeto de esposo,
Na desesperação da glória suma,
Para a estreitar, louco de orgulho e gozo...
Mas nos meus braços a ilusão se esfuma:
E a mãe-d'água, exalando um ai piedoso,
Desfaz-se em mortas pérolas de espuma. (TARDE)


Raimundo Correia (1859 - 1911) - Parnasianismo.
Nascido no Maranhão.
Juntamente com Alberto de Oliveira e Olavo Bilac formaram a "Trindade Parnasiana".
Poesias: Sinfonias (1883).
Principais soneto: "As pombas" e "Mal secreto".

Alberto de Oliveira (1857 - 1937) - Parnasianismo.
Palmital de Saquarema, Rio de Janeiro.
1924 - Eleito "Príncipe dos Poetas" no vaga de Olavo Bilac.
Poesias: Meridionais.
Sonetos mais conhecidos: "Vaso grego", "Vaso chinês" e "A estátua".

VINÍCIUS DE MORAES (1913 - 1980) - MODERNISMO.
Nasceu no Rio de Janeiro.
Poesias:
Obra poética (1968);
Poesia completa e prosa (1974).

Principais sonetos:

Soneto de Fidelidade

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assimn, quanto mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive);
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.

Soneto de Separação

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do movimento imóvel fez-se o drama.
De repente não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.
Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.










Amauri Carius Ferreira (Augusto de Sênior)





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Referência bibliográfica:

MOISÉS. Massaud. A LITERATURA BRASILEIRA ATRAVÉS DOS TEXTOS. 23ª ed. São Paulo: Editora Cultrix, 2002.
------- PEQUENO DICIONÁRIO DE LITERATURA BRASILEIRA. 6ª ed. São Paulo: Cultrix, 2001.
NICOLA, José de. LITERATURA BRASILEIRA DAS ORIGENS AOS NOSSOS DIAS. São Paulo: Scipione, 1998.
CAMPEDELLI, Samira Youssef. LITERATURA - HISTÓRIA E TEXTO.4ª ed. v.1 - São Paulo: Editora Saraiva, 1996.
------- E ABDALA JÚNIOR, Benjamim. TEMPOS DA LITERATURA BRASILEIRA. 6ª ed. São Paulo: Editora Ática, 2001. (Série Fundamentos)
HOLANDA FERREIRA, Aurélio Buarque de. NOVO DICIONÁRIO AURÉLIO DA LÍNGUA PORTUGUESA. 2ª edição revista e aumentada. Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1986.
AMARAL, Emília et al. NOVAS PALAVRAS: LITERATURA, GRAMÁTICA, REDAÇÃO E LEITURA. V.1 e V.2 - São Paulo: FDT, 1997. - (Coleção Novas palavras)


Biografia:
Professor de Língua Portuguesa, Literaturas, Redação e Leitura, poeta, contista, cronista e romancista.
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