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O currículo e as diferenças culturais
Resenha crítica
ARTHUR BRENO STÜRMER

Resumo:
O currículo é um espaço-tempo de encontro de diferentes tradições culturais que contemplam a diferença. Podemos entendê-lo como um espaço híbrido, onde se percebem as marcas do poder e da resistência e para o qual confluem diferentes visões.

No artigo Currículo como espaço-tempo de fronteira cultural, Elizabeth Macedo, que é professora da Universidade do Estado do Rio de Janeiro e integra o respectivo Programa de Pós-Graduação em Educação, desenvolve traz uma nova visão do currículo, trazendo para o debate as teorias críticas e pós-críticas de currículo. A intenção é justificar a noção de currículo enquanto espaço-tempo de convergência de tradições culturais que contemplem a diferença.

A discussão inicia lembrando que os estudos sobre o currículo sempre se caracterizaram pelo interesse político, que, atualmente, se articula à economia e à cultura, exigindo uma nova leitura desta última, na medida em que, refuncionalizada como mercadoria, rearticula a dimensão política do currículo.

Posicionando-se pela conceitualização do currículo como espaço-tempo cultural, o artigo apresenta uma análise do hibridismo de perspectivas teóricas que, no Brasil, contribuíram para a o desenvolvimento do conceito de cultura e sua relação com o currículo, os quais permanecem sendo teorizados de acordo com a perspectiva multicultural ou sob a influência dos estudos culturais.

Após percorrer autores como Tomaz Tadeu Silva, Antônio Flávio B. Moreira, Elizabeth Macedo e Ana Canen, afirma que a aproximação entre abordagens críticas e pós-críticas “tem dificultado a compreensão da dinâmica do currículo como cultura e prejudicado a análise da diferença no interior do espaço-tempo da escola e do currículo.” (p. 287).

Nesse ponto, o posicionamento da autora a respeito da diferença vai se consolidando ao afirmar que discorda da concepção de currículo como lugar de confronto entre culturas, pois que o currículo seria, antes, “um espaço-tempo de fronteira no qual interagem diferentes tradições culturais e em que se pode viver de múltiplas formas.” Na seqüência, apresenta seu conceito de currículo, o qual incorpora o incerto, a arena da negociação, ou seja: nesse currículo, as identidades dos sujeitos são múltiplas, não-determinadas – pois que serão negociadas –, privilegiando a opção do sujeito segundo seus diversos pertencimentos. Em suas palavras: “o currículo é um espaço-tempo em que sujeitos diferentes interagem, tendo por referência seus diversos pertencimentos, e que essa interação é um processo cultural” (p. 288).

As conseqüências dessa abordagem de currículo para a escola é deixada clara nos parágrafos seguintes, quando os currículos escolares são apontados como híbridos culturais. Com isso, Elizabeth Macedo explora a ambivalência da constituição de qualquer currículo, que é ser polidiscursivo, isto é, possui conteúdos que privilegiam certos grupos, enquanto, ao mesmo tempo, incitam outros à resistência. É assim que a autora explica a legitimação de diferentes culturas através do currículo. Como disse Silva (2001, p. 129) ao interpretar os escritos de Bhabha, “O híbrido carrega as marcas do poder, mas também as marcas da resistência.”

Recorrendo a um exemplo, Macedo recorda que, na Modernidade, a busca do equilíbrio entre regulação e emancipação resultou na “submissão da subjetividade (...) ao coletivo homogeneizado” (p. 290) e à ocultação da diferença. Hoje, a disputa entre localismos e globalismos coloca o currículo enquanto espaço-tempo (híbrido) de fronteira na mira da experiência colonial, em que as culturas globais dominam as culturas locais de alunos e professores. Neste ponto, a explanação da autora perpassa a teoria da colonização do currículo segundo Bhabha.

Macedo conclui, ao final do texto, da necessidade de se implementar um currículo da diferença cultural, ou seja, um currículo para lidar com a diferença e propõe, para redesenhar o global, a impor as culturas subalternas em lugares-tempo híbridos de sentido a serem ainda criados (p. 294).

O artigo é uma boa leitura para o público acadêmico interessado em se aprofundar na teoria pós-colonial do currículo, pois utiliza essa referência para analisar o currículo e propor uma visão ampla das interseções de culturas nesse espaço-tempo híbrido. Contribui, deste modo, para nos chamar a atenção quanto à importância dos estudos sobre cultura e currículo, especialmente na época histórica em que vivemos – repleta de interpelações quanto às culturas locais e quanto à sua validade diante das culturas globais no mundo contemporâneo.

De modo um tanto objetivo, abusando de terminologias próprias dos estudos do currículo, a autora consegue transmitir a relevância da temática de forma simples, com cada tema retornando ao texto no momento certo. Por ser uma leitura inicialmente densa, ela requer paciência do leitor leigo no assunto. Do contrário, para o público acadêmico, o texto pode servir logo de guia para o estudo das concepções críticas e pós-críticas sobre o currículo e também auxiliar na introdução ao pensamento pedagógico contemporâneo cultura.

Referências:

MACEDO, Elizabeth. Currículo como espaço-tempo de fronteira cultural. In: Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, RJ, v. 11, n. 32, p. 285-296, maio/ago. 2006.

SILVA, Tomaz Tadeu da. Documentos de identidade: uma introdução às teorias do currículo. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica, 2001.



Biografia:
Professor e Assistente Técnico-Pedagógico da Rede de Ensino Pública Catarinense (2009).
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