LOVECRASH - Parte 2 (Suspense)
As mortes de parentes
A primeira vez que lhe falaram a palavra morte, com gravidade, foi quando tia Nana falecera. Renata tinha 6 anos.
O corpo estava presente na missa. A igreja do bairro da Iputinga situava-se próximo à barulhenta avenida principal. Poucas árvores. Muitas ruas sem asfalto. Os últimos raios de sol atingiam a poeira que se levantava irritada do chão de barro alaranjado, e sujavam a fachada triangular e simples da igreja sem sino.
A tia-avó, aos 37 anos, morrera por complicações de câncer de ovário. Mas além do sofrimento longo por conta da moléstia, sofrera abuso físico e psicólogo do marido bruto. Foi o que ouviu Renata, enquanto brincava entre os bancos da igreja, esperando tal encontro/dever de família terminar. Por causa dessa notícia, nunca conseguiu entender como o viúvo violento posteriormente se casara com a cunhada mais velha, ainda que com a desculpa da necessidade de cuidar dos 9 filhos ainda pequenos da falecida.
A morta estava com o semblante tranquilo. Pó compacto rosa nas maçãs do rosto fino, cuja pele branquinha possuía aspecto ainda sedoso. Luminosos cabelos loiros escuros cuidadosamente penteados para trás. Terço com contas peroladas entre as mãos pequenas e delicadas. Unhas pintadas com esmalte rosa-bebê levemente brilhante. Vestido de seda branco, com finíssima renda também branca na gola.
Ao longo de 45 anos, como a natureza exige, vários parentes de Renata faleceram e, obviamente, precisaram ser enterrados. Antes, todavia, os familiares prestavam as últimas homenagens, com velório, missa, choros, lamentos, despedidas, choros, trancamento das tarraxas douradas dos ataúdes. Caminhada penosa até o momento de fechamento da gaveta ou da cova, momento em que algo dentro da gente se desespera, e sufoca o peito.
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