Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Sangue nas Agulhas
Rodrigo Barcellos

Mulher com boa mão para costura e o mexer das agulhas. Vermelhas. Costurando roupas numa vida rasgada. Rasgos de um amor bordado em desilusão e sangue. Bordas sem bainha à tricotar sem agulhas. Agulhadas de tricot em coração puído de pele. Retalhos de marido adúltero, ausente de cama e mesa. Esposa de homem casado, em matrimônio com a madrugada. Cerziu ela um dia vestido de cor imaculada, dos tempos que era mulher nova, quando mãe não era. Calo nas mãos, calada no peito.
Homem com mão boa para bater. Batidas em corpo alheio. Alheio à tudo que está ao seu redor. Rodeando aqui e ali em busca do feminino. Macho de esposa casada, casado de mulher só e marido de mulheres. Amante em casório boêmio. Submerso na imersão do copo. Apenas mais um alguém na cama e na mesa. A que tem mão boa para costura, cozeu com agulhas que sangram vestido da mocidade para satisfazer o homem que vinha. Do vinho.
— Mulher, que vestido é esse vestido que tu veste?
— É vestido de renda, mais mostra que esconde.
— Mostra não. Mulher minha não usa esses troço.
— Costurei, lavei, tive calo nas mãos. Gosta? Fiz pra teu agrado.
— Me agrada tua boca sem voz. Bota pano de mulher casada.
Ela cala. Ele não. Olha com olhos cegos pra ele. O outro devolve com olhos embriagados. Sentados na cozinha apenas um homem e uma mulher. Não há palavra que fale nem sentimento que sentir. Em seu pensamento, pensava em coisas não esquecidas, costuradas entre lãs e tecidos. Tricotar na carne amaciada com álcool. E que agora apareciam brotando como flores, daquelas igual se põe em túmulos de pessoa já morrida. É assim que ela vê ele, um corpo vestido de morte. Se afasta dele, que fica resmungando com ela e a garrafa.
Ainda vestindo o vestido rendado de renda, ela aproxima do homem casado, marido sem matrimônio, esposo de mulher nenhuma, sentado como estava há pouco, inerte e quase adormecido de pinga. Com a agilidade ágil de suas mãos tricotadeiras e costuradouras, crava no peito de seu ex-casado a agulha que dá vida para suas roupas.
Agora, o vestido veste tons escarlate.


Biografia:
Já trabalho com livros faz bastante tempo, e participei de 9 coletâneas de contos, além de mediador de eventos.
Número de vezes que este texto foi lido: 52884


Outros títulos do mesmo autor

Contos A Consulta Rodrigo Barcellos
Poesias Ouvinte Rodrigo Barcellos
Poesias Atos Rodrigo Barcellos
Contos No Enterro Rodrigo Barcellos
Contos Sangue nas Agulhas Rodrigo Barcellos

Páginas: Primeira Anterior

Publicações de número 11 até 15 de um total de 15.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
Ressignificação Mental - Caroline Loureiro Prado 36 Visitas
🔴 O Homem-Falência - Rafael da Silva Claro 28 Visitas
Bullying - Michela Aparecida Biltge 25 Visitas
Votuporanguense vence a A3 2024 - Vander Roberto 15 Visitas
Definida a final da A4 em 2024 - Vander Roberto 11 Visitas
🔴 Vestidos para matar de rir - Rafael da Silva Claro 3 Visitas

Páginas: Primeira Anterior