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O Deboche Evangélico
Pedro Paulo Rodrigues Cardoso de Melo

Participei de três cultos evangélicos em três igrejas diferentes em três oportunidades diferentes e, para minha surpresa, em todos eles o tema foi o mesmo: o armagedon apocalíptico, a destruição do mundo e, a condenação dos infiéis (ou seja, aqueles que não eram membros e alienados das ditas igrejas) ao fogo eterno do inferno.

Não sei se por falta de criatividade ou por coincidência mesmo, os três cultos não eram iguais apenas nos temas, mas na ênfase dada à necessidade do homem “se” salvar da “condenação certa”, tornando-se membro fiel de cada uma dessas igrejas, em particular, e no fato dos três pregadores afirmarem que as suas falas não eram suas, mas de Deus (o próprio Todo Poderoso).

Pois é justamente essa última fala que embola o meio de campo, pois, partindo do princípio que os três estão certos quanto à verdade de que, somente nas suas igrejas os homens serão salvos da “condenação certa” ao fogo ardente do inferno, há que se considerar que ou Deus mentiu, ou Deus tem um senso de humor um tanto quanto sádico e eticamente questionável ou ainda que os pregadores e suas respectivas igrejas possuem, cada um deles, um deus particular e um céu idem.

Poderia haver uma outra explicação, pensei. Os pregadores poderiam estar equivocados por tentarem adaptar às suas doutrinas (que, não custa lembrar, são humanas e foram construídas historicamente) e às suas visões de mundo, uma linguagem extremamente metafórica e simbólica datada do fim do primeiro século da nossa era.

Mas, bastou eu conversar com um dos pregadores citados para eu desistir dessa idéia. Nessa conversa, descobri que pastor evangélico não erra por ser o próprio Deus encarnado na terra. Pelo menos aquele que eu abordei. Isso porque, segundo ele, “ao pregar não sou quem fala, mas o Espírito Santo de Deus que está em mim”. (Vem cá, qual a diferença disso para o espiritismo?).

Ouvindo-o falar isso foi pior. Conclui que aqueles inúmeros membros estão sendo levados a acreditar em um Deus que mente, em um Deus que brinca de confundir os seus servos apenas por falta do que fazer, em um Deus que consegue a proeza de ser mais baixo, mais vil e mais cafajeste que o pior dos humanos por pura diversão, enfim, em um Deus que faz mal.

Ora, se o pregador da primeira igreja estivesse certo e realmente fosse lá à certeza da salvação do fogo eterno do inferno os outros dois estariam enganados ou, mentindo mesmo. Até ai tudo bem, se as suas falas fossem suas. Mas, segundo eles próprios, não eram eles que estavam falando, mas o próprio Deus, através do seu Santo Espírito. E agora?

Bem, foi o efeito dessa história toda sobre a minha pessoa que me surpreendeu. No lugar de ficar feliz e me sentir triunfante sobre esse descaramento eclesiástico (pois, há muito tempo, desisti de buscar Deus através da religião por sempre ter conseguido enxergar a prática dos homens mentirem em Seu nome em benefício próprio), fiquei triste e decepcionado.

Triste e decepcionado por ver que, infelizmente, a visão medieval e irracional de um Deus que habita templos e segue religião (seja ela qual for) ainda reina para o mal disfarçado de bem da humanidade; triste e decepcionado por ver que o deboche religioso impera porque ele é apenas o reflexo de um povo que nunca assumiu o dom da racionalidade (dado por Deus, por sinal) por puro comodismo e preguiça; triste e decepcionado por saber que a religião é importante demais para ser tão mal conduzida e usada tão competentemente para emburrecer e empobrecer ainda mais um povo que precisa tanto de tanta coisa.

O bom da história foi constatar que eu não perdi muito em rejeitar o deus religioso. Pelo contrário, renovei a minha convicção de não querer esse deus e de não querer ir para o seu céu. Aliás, quero distância desse deus e ir para o seu céu será, para mim, pior que ir para o inferno. Graças a Deus, o verdadeiro, o que vive em mim, o que é amor por ser justo e que por ser justo é amor (uma coisa não pode ser separada da outra, como afirmam por ai), eu estou livre desse inferno chamado de céu pelas religiões.








Biografia:
Psicólogo Clínico e Empresarial,Psicopedagogo, Conferencista, Professor de Graduação e Pós-Graduação.
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