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DONA RUTH, A PROFESSORA DE CORTE E COSTURA
era bem afinada e gostava de cantar
Bete Bissoli

Resumo:
Como a cana machucava os braços desses trabalhadores, eles se protegiam usando camisas de manga comprida, compradas na loja da dona Ruthinha, como muitas pessoas carinhosamente a chamavam.

DONA RUTH, A PROFESSORA DE CORTE E COSTURA

Por Bete Bissoli

As histórias ficam! E ficam para eternizarem as pessoas! Vou falar um pouco da minha mãe. Entendo que ela fez parte da história da nossa cidade, porque é, graças a Deus, constantemente lembrada com muito carinho por quem a conheceu! Sempre tem alguém rememorando a loja da dona Ruth e, principalmente, as aulas de corte e costura da dona Ruth.
Ruth Tavares Bissoli nasceu em 1926, em um sítio em Santa Maria (hoje, Santa Maria da Serra), na época pertencente ao distrito sede de São Pedro, Estado de São Paulo. Aos 6 anos, após a morte de seu pai, veio do sítio para a cidade, com a mãe e a irmã, e aqui morou até 30 de junho de 2010, data em que faleceu, aos 84 anos.
Era casada com Luiz Antonio Bissoli e filha de Amália Franzin Tavares e Pedro Tavares de Oliveira, todos falecidos. Tinha uma irmã, Dorothy, e três filhas: Maria Elisabete, Sueli Aparecida e Edna Conceição.
Cursou o primário completo no Grupo Escolar de São Pedro, que, em 1939, passou a chamar-se Grupo Escolar Gustavo Teixeira, em homenagem ao poeta são-pedrense, falecido em 1937. Filha de costureira, desde muito jovenzinha exerceu, com muito amor, o mesmo ofício de sua mãe. Foi professora de corte e costura, doceira (junto do marido fazia doces de laranja e de goiaba para vender) e comerciante (teve loja de tecidos e armarinhos durante muitos anos).
Tenho nítido na memória que, desde que eu era criança (meados da década de 50), minha mãe ensinava costura, em casa, para uma turma alegre e ruidosa de moças! Nessa época, a gente morava na Rua Floriano Peixoto, em uma casa própria, e que fazia esquina com a Rua Valentim Amaral, chamada na época de Rua Boiadeira, pois era por ali que passavam as boiadas (ficou gravado em minha lembrança o som dos berrantes que os boiadeiros tocavam, e que eu sempre achei lindo!).
Frequentemente, depois que a aula terminava, alguma das jovens, ou mesmo minha mãe, que era bem afinada e gostava de cantar, entoava alguma canção, que meu pai acompanhava ao violão.
Anos depois, quando nos mudamos para a Rua Veríssimo Prado, meu pai construiu, na casa comprada (a mesma em que moro até hoje), dois salões: um para ele, que era barbeiro, montar sua barbearia, e outro, que alugou por um tempo. Posteriormente, nesse salão montou uma loja para minha mãe, que nele continuou dando aula de corte e costura para a moçada. E as turmas iam se renovando, à medida que iam aprendendo a profissão!
Muitas moças saíram dali costureiras e têm a costura como profissão até hoje. Muitas foram embora de São Pedro e continuaram costurando, inclusive em confecção. Uma delas, até recentemente, deu aula de corte e costura. É bastante comum eu encontrar jovens senhoras, hoje com idade em torno de 70 anos, que foram alunas da minha mãe e todas relembram com carinho e saudade da dona Ruth e desse tempo!
Pelo fato de a loja vender tecidos e armarinhos e ser, por um bom tempo, a única no bairro Santa Cruz com essa característica, as meninas aprendiam a costurar e se tornavam freguesas da loja quando começavam a costurar para ganhar. Compravam tudo da dona Ruth e a mercadoria era marcada em um caderno de capa vermelha, bem me lembro! Depois que elas recebiam, iam à loja para acertar a conta das linhas, botões, sinhaninhas, pontos-russos e que tais!
Algumas delas costuravam para a própria loja da minha mãe, que, mais tarde, passou a vender também roupas feitas.
Naqueles tempos já vivíamos em uma região canavieira. A disseminação da cultura da cana-de-açúcar era muito acentuada. Na época da colheita, ou do corte da cana, como se dizia, caminhões lotados de homens e mulheres   os chamados cortadores de cana   saíam de madrugadinha rumo aos canaviais das fazendas para o trabalho.
Como a cana machucava os braços desses trabalhadores, eles se protegiam usando camisas de manga comprida, compradas na loja da dona Ruthinha, como muitas pessoas carinhosamente a chamavam.
O tecido das camisas (cachá) era grosso o suficiente para proteger a pele sem machucá-la e era xadrez. As camisas, confeccionadas por várias moças que aprenderam a costurar com minha mãe! E também “entrei na dança”! Ela cortava os tecidos e dava para eu costurar. Eu penava um pouco na hora de costurar manga e gola, mas daí ela me socorria. Como na loja tinha uma máquina de costura, na parte da tarde eu olhava a loja e costurava camisas!
Não tenho conhecimento de ter existido naquela época alguma outra professora de costura na cidade de São Pedro. Gostaria de saber se existiu, mas tenho para mim que minha mãe foi a única durante longo tempo.
Enfim, dona Ruth ensinou, com a maior dedicação, esse “ganha-pão” a muitas mulheres de nossa cidade.
Volta e meia encontro também alguma ex-aluna que frequentava as aulas (com autorização do pai, claro!). Na verdade, o que algumas queriam era ter um motivo para sair de casa, passar por algum ponto em que o paquera ou namorado estava esperando, para ao menos trocar um olhar. Tem casamento que saiu dali!
Como se vê, além de ter sido uma ótima profissão para muitas moças, em alguns casos o “amor” pela costura era uma “desculpa esfarrapada”!


Biografia:
Bete Bissoli Compositora paulista premiada em vários festivais de MPB, é uma cancionista. Em geral faz melodia e letra, mas tem algumas parcerias. Teve desde criança influência das reuniões realizadas na casa de seus pais, em São Pedro, onde rolavam chorinho, seresta, música de raiz e os sucessos da época áurea da Rádio Nacional do Rio de Janeiro. A música internacional também fez sua cabeça. Mais tarde, foi fisgada pela bossa nova. Em fins de 80, foi aluna de violão do compositor e arranjador Hermelino Neder, que a incentivou a mostrar suas canções. Participou de festivais como FAMPOP, em Avaré (primeiro lugar com o choro-canção Ela, em parceria com Ítalo Perón); Festival Nacional de MPB do Carrefour, (primeiro lugar, com Nada a Ver, de sua autoria); MPB de Rio Claro (segundo lugar com Trenzinho Lento, em parceria com Carlinhos Veronezi) e finalista do Viola de Todos os Cantos, da EPTV (afiliada Globo), em 2006, com Alma Pantaneira, parceria com Carlinhos Veronezi, e em 2007, com Sou Violeiro e Cantador, dela. Tem músicas gravadas por Sandra Pereira, pelas duplas Lorito e Loreto, Moacyr e Sandra, Mazinho Quevedo e Soraya Ravenle. Sua marchinha Pra Carmen, uma homenagem a Carmen Miranda, interpretada pela cantora e atriz Soraya Ravenle, foi a campeã do II Concurso Nacional de Marchinhas Carnavalescas da Fundição Progresso/Fantástico, no Rio de Janeiro. A música faz parte do CD As Melhores Marchinhas Carnavalescas do Carnaval 2007, da Som Livre. Jornalista, Bete dedica-se também a pesquisas e criação de projetos musicais. O show Paulicéia Musicada, de sua autoria, desde 2001 vem sendo apresentado pelos cantores Moacyr e Sandra e em 2005 fez parte da Agenda Oficial das Comemorações dos 450 Anos da Cidade de São Paulo. Em junho de 2010, Bete Bissoli participou, com outros compositores, músicos e cantores da cidade de São Pedro, SP, do show Música, Poesia e Amigos, projeto aprovado pelo Proac (Programa de Ação Cultural do Estado de São Paulo). Em 2013 esse musical foi reapresentado em cidades do interior de São Paulo. O repertório de Bete passeia, sem preconceitos, entre o elaborado e o simples, o lírico e o contundente, o tradicional e o moderno, o nostálgico e o bem-humorado, o rural e o urbano. “Eu amo fazer música. Compor, pra mim, é respirar”, diz ela.
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