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Ensaio sobre a decepção
Ela não mata, mas endurece o coração.
Luzia de Fátima Ferreira Marques Oliveira

Um dia alguém se aproxima de você e faz de você seu melhor amigo.
Assim como o Pequeno Príncipe fez da raposa alguém especial em cem mil pessoas no mundo, da mesma forma esse alguém te fez sentir especial. Procurou ouvir suas ideias diariamente, compartilhou contigo também seus pensamentos. Fez planos que te envolveram e sonhou sonhos que também te cabiam.
Um dia esse alguém pediu sua opinião sobre tudo, demonstrou carinho por você e apreço pela sua amizade. Esse alguém estava sempre por perto, trocando ideias, pedindo informações sobre coisas, pessoas e situações diversas. E você se abriu a essa amizade e passou a confiar a essa pessoa um pedaço de seu ser através de seus pensamentos mais profundos compartilhados em momentos de amizade confidente.
Porém um dia, essa mesma pessoa antes tão próxima, viu uma oportunidade de crescer e voar além. E de repente você já não era mais tão importante... seus pensamentos e suas ideias já não eram mais necessárias, pois tudo que você podia inspirar nessa pessoa já foi feito e alguém mais interessante te substituiu, com novas ideias, pensamentos e possibilidades.
Agora você não é mais necessário, já perdeu sua utilidade.
Então como um objeto descartável, sem compreender direito o que está acontecendo, é simplesmente deixado de lado, jogado para escanteio. Não merece mais fazer mais parte do rol dos melhores, dos maiorais, dos excepcionais, adjetivos antes usados para descrever sua importância para tal pessoa. Hoje o novo grupo de melhores, excelentes, maiorais te olha como se você fosse nada, como se grande parte das grandes ideias surgidas agora não tivessem surgido após muitas reflexões feitas com você.
Sem entender nada, você começa a expressar seus pensamentos, suas críticas, como sempre o fez e antes geravam admiração. Contudo, agora seus pensamentos, suas ideias e sua sinceridade são indesejáveis, são desconfortáveis, incomodam. De pessoa brilhante, você se tornou simplesmente alguém "do mal", que não merece uma oportunidade, não merece uma última conversa, um último esclarecimento e simplesmente é abandonado ao ostracismo, a tentativa de apagarem de vez seu brilho, de tornarem-te uma "não-pessoa" como na obra de Orwell. Até mesmos suas conquistas agora tornam-se um incômodo e você percebe um tentativa sutil de tentarem desmerecê-las.

Decepção é o que se sente nessa hora. Aquela sensação de ter sido usado e descartado, descobrindo que a amizade estava apenas do seu lado, não era recíproca. E que você era visto apenas como uma fonte de informações, totalmente descartável agora.

Quem já passou por isso, quem já sentiu na pele essa decepção, sabe bem sobre o que eu falamos aqui e sobre a dor que ela causa. Sobre aquela sensação de ter sido enganado, usado e manipulado por alguém em quem você confiava.

Pude experimentar essa sensação num momento recente, mas não tão recente assim. Levei um tempo para conseguir encontrar uma forma de expressar o sentimento em palavras e não consegui defini-lo em outra além de DECEPÇÃO. Nenhuma outra pôde descrever melhor esse sentimento.

Entretanto, aprendi também que a vida é como uma roda gigante, ninguém fica em cima e ninguém fica embaixo eternamente. Ela está sempre em movimento e em algum momento desse giro podemos nos reencontrar com quem nos decepcionou e situações opostas às atuais. Podemos estar em posições talvez trocadas ou em posição em que a pessoa nem vai se lembrar das ações decepcionantes de hoje e caberá a mim decidir como lidar com isso.

E não é que a roda girou, minha gente?!


Biografia:
Amante de artes, de literatura, cinéfila, apaixonada por dramas coreanos, pelo belo e pelo profundo da vida.
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