LOVECRASH - Parte 3 (Suspense)
Vida x Morte
Renata ultimamente costuma prestar atenção naquilo que está vivo e na sua diferença daquilo que está morto.
O vivo mexe-se ativamente, respira com sofreguidão risonha, tem brilho, disposição, abre a boca e expele ar aveludado. É uma espécie de fábrica de inspiração e esperança. Ele canta, dança e gosta de interagir com tudo e com todos. É uma estrela cintilante. Um vento quente e generoso. Seda em movimento pela paisagem. Energia pura e encantamento. Chama da criação. Tudo e todos valem a pena para o Vivo. O Vivo é o Amor personificado, julgava entusiasmada Renata.
O morto é parado e gelado. Um poço de silêncios. Desistência autêntica. Uma ausência permanente no mundo, ora lamentada, ora deslembrada, ora religiosamente conformada. São sussurros carregados pelo vento. Algo seu sopra nas folhas das árvores noturnas. Vestidos arrastando pelo chão molhado. Inexistência de sentidos. Lápides. É o fim da vida personificado, concluía angustiada Renata.
Porém existe o meio termo, o vivo-morto, ou morto-vivo, se preferir. É justamente aquele ser que percebe mais fortemente a diferença entre a vida e a morte. Isso porque quem está vivo, na quase totalidade do tempo, nem lembra que existe a morte. É como se o vivo se sentisse imortal. Já quem está morto simplesmente não sente, e pronto. Entretanto o morto-vivo já enfrentou os dois mundos ... E, por isso, percebe o quanto de vida se vai a cada segundo. Ele vê assombrado cada grão da ampulheta cair acenando um adeus espantado.
Um aperto no peito sufoca Renata. Refletir sobre isso sempre lhe causa pavor ...
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