"Pra que a gente quer peixe?" - pra comer!
Dizia o velho Inácio a quem lhe dizia
Com o rosto rude era espelho de muito pescador
Com o bigode rebelde e taludo era motivo de muito sarro
Com os cabelos longos fazia muita graça
Era uma espécie de entidade sagrada do porto,
Sujeitinho pé quente: sempre que subia o rio, descia cheio de peixe
Havia quem dizia que era coisa da natureza,
Mas na verdade era mais que isso, era uma coisa de santo, ou causa de trambique, mas o seu ganho era o mais cobiçado.
Quando na paisagem surgia a vela tenaz e remendada,
A meninada se embebia em alvoroço,
Achava graça - sabiam que naquela terra de pescador, quem era seu Inácio se fazia rei.
O homem fechava a cara, descia a colheita e não dava uma prosa, aquilo era seu maior bem,
Viveu muito já, mas família não tinha, nao sabia contar,
Não sabia ler,
Mas tinha o título de governante das Américas
Reinava em uma vila de pobres,
Só tinha para comer a benção do rio
A calça mais longa batia no joelho
Pelejava no caminho da volta pra casa
As juntas já não eram as mesmas,
Em seu lar não tinha nem cachorro
Só um ventilador e uma rede
Mas o que lhe consumia mesmo era a solidão,
A noite era seu algoz, - a luz do sol era o herói do porto, ao frio da madrugada: um bêbado!
Naquele dia, um suspiro aliviado se sentiu em cada canto de água
A noite mascarou o frio, não foi como num filme... fez calor!
Ao amanhecer a meninada brincou embebiba em alvoroço,
Achou graça. Muito se indagou...
O silêncio naquele porto se alojou por muito tempo
Em cada barco, em cada homem, em cada coração,
Lá no alto, nas três Marias,
Numa nebulosa escarlate.
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