Autobiografia
Durante a Ditadura
onde tudo era impune
eu, moleque, travessura
fui da Ubes para a Une.
Depois de muita porrada
de tanto meu pai sonhar
fui servir à Patria amada
marchar, marchar e marchar.
Eis que o pai do tenente
num março desses - maldade!
morreu assim, de repente
e voltei prá faculdade.
Física foi sempre a meta
desde ainda um menino
e lá estava eu, poeta
entre as nuvens e o ensino.
Mas preciso confessar
de dentro daquela grei
não me agradava ensinar
o que eu mesmo não sei.
E por mais que estudasse
e tentasse aprender
vivia sempre no impasse
de ainda menos saber.
O resultado disso tudo
larguei logo para trás
deixei as salas de estudo
e entrei na Petrobrás.
Em cada fase da vida
entre a marcha e um ponto
tinha uma escapulida
eu escrevia algum conto.
Já na grande estatal
onde guardo bons amigos
era o Professor Pardal
de inventos e perigos.
Mas minhalma é canário
não canta quando estática
então virei empresário
do ramo da informática.
E lá dentro do peito
onde bate uma geléia
não adianta, não tem jeito
sobrevive uma idéia.
Contar as minhas estórias
de passado e futuro
de honra, poder e glórias
de amor e lado escuro.
Escritor é tão-somente
um canal para o escrito
este sim, é que é gente
e a gente é só o mito.
J. Miguel (25abr2007)
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