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A FORÇA DE VONTADE
Ismael Monteiro

Resumo:
O artigo analisa a importância da força de vontade



A Força de Vontade
Ismael Monteiro

Quase sempre há no homem uma grande soma de forças que ele deixa inativas. O conhecer-se acertadamente é um maravilhoso segredo para fazer muitas e grandes coisas. Ficamos impressionados diante de certos trabalhos realizados pela necessidade. Em situações de necessidade, o homem transforma-se e muda, por assim dizer, de natureza.

A inteligência se engrandece, adquire uma penetração, uma lucidez e uma precisão maravilhosas; o coração se dilata, nada assombra a sua audácia; até o corpo adquire mais vigor. E por quê? Criaram-se por ventura novas faculdades no homem? Não, mas as faculdades que dormiam foram despertadas. Onde tudo era repouso, tudo se tornou movimento, tudo convergiu para um fim determinado. Aguilhoada pelo perigo, a vontade se desenvolve em sua irresistível potência; ordena imperiosamente a todas as faculdades que concorram para a ação comum; presta-lhe sua energia e sua decisão. Espanta-se o homem ao sentir-se inteiramente mudado; o que apenas ousaria imaginar, o impossível de ontem, torna-se o fato realizado do presente.

O que praticamos nas circunstâncias extremas e sob o império da necessidade nos deixa ver o que podemos no curso ordinário da vida. Para obter, é mister querer; mas querer com vontade decidida, resoluta, inconcussa; com vontade que caminha para o fim sem desanimar com os obstáculos ou fadigas. Mas às vezes parece-nos ter vontade, quando só temos veleidades. Quereríamos, mas não queremos. Quereríamos, se não fora preciso romper com nossa preguiça, afrontar certos perigos, vencer certas dificuldades. Escasseando de energia a nossa vontade, molemente desenvolveremos nossas faculdades e cairemos desfalecidos a meio do caminho.

Querer com firmeza! Esta firmeza assegura o sucesso nas empresas difíceis; por meio dela nos dominamos a nós mesmos, condição indispensável para dominar as coisas. Há dois homens em cada homem: um, inteligente, ativo, elevado, nobre em seus pensamentos e em seus desejos, submetido às leis da razão, cheio de ousadia e generosidade; outro inteligente, sem arrojo, sem expediente, não se atrevendo a levantar nem a cabeça nem o coração acima do pó da terra, envolvido inteiramente nos instintos e nos interesses materiais. O último é um ser de sensações e de gozos; nem lembrança de ontem, nem previsão de amanhã; para ele, a hora presente, o gozo presente é que constituem a felicidade; tudo o mais é nada. Em contrapartida, o primeiro instrui-se com as lições do passado, sabe ler no futuro, há para ele outros interesses que os de momento; não circunscreve em tão estreito círculo o que se chama a vida, a aspiração da alma imortal. Sabe que o homem é uma criatura formada à imagem de Deus; levanta o pensamento e o coração para o céu; conhece a sua dignidade; compenetra-se da nobreza da sua origem e de seus destinos, paira acima da região dos sentidos. Que direi ainda? Ao gozo prefere o dever.
Nenhum progresso sólido e permanente é possível se não favorecemos a parte nobre da alma, sujeitando-lhe o homem inferior. O que se domina a si mesmo, facilmente domina as circunstâncias. Uma vontade firme e perseverante, além de outras qualidades, liga ou subjuga as vontades mais fracas, e lhes impõe naturalmente e sem esforço a sua superioridade.


UM EXEMPLO DA FORÇA DE VONTADE: A HISTÓRIA DE THANISE

     A história de Thanise, uma menina com deficiência é relatada por seu pai, que nesta caminhada, busca explicações para que as dificuldades cedam lugar à luta para superar as limitações pessoais e as barreiras culturais que se apresentam às pessoas com deficiências.
     Na fase de espera de Thanise, os pais elaboraram planos, planejamentos, a escolha de um nome. Nem de longe o casal pensava em deficiência. É a fase em que os pais tem muitas esperanças e expectativas a respeito da criança, antes desta nascer.
     O primeiro sobressalto ocorreu na gravidez da mãe, por ocasião do contágio de caxumba pela mesma. Porém, os médicos consultados afirmaram que tal doença não afetaria o feto em desenvolvimento.
     O nascimento de Thanise ocorreu sem maiores problemas, com parto normal. Inicialmente, a criança não aparentava problema algum e nada diferenciava de qualquer outro recém-nascido, com a constatação pelos médicos, que não diagnosticaram nenhuma lesão física ou psíquica na menina. Porém, os atrasos no desenvolvimento de Thanise aumentavam, o que levou seus pais a consultarem um pediatra, que nada constatou, acabando por receitar alguns medicamentos a base de cálcio e potássio.
     Os exames clínicos em Santa Maria e em São Paulo, diagnosticaram que Thanise tinha sofrido uma lesão cerebral nas zonas corticais do cérebro, o que limitaria para sempre o seu desenvolvimento geral e o desenvolvimento específico. A menina apresentava uma lesão cerebral do tipo tetraplégica espástica, com predominância no hemisfério esquerdo do seu cérebro, comprometendo grande parte da sua função motora e o seu desenvolvimento pleno. Esta lesão impede que Thanise fale, caminhe ou se mova livremente, necessitando de auxílio integral pela família.
     O conhecimento da deficiência, como se observou, foi súbito, e a primeira reação, de incredulidade de que isso pudesse ter acontecido. A segunda reação foi de pranto e de indignação diante de um problema tão candente na sociedade brasileira, que se pode ser configurado como erro médico.
     Para se ter uma idéia da reação dos pais de Thanise, seu pai assim falou:
     A realidade nos pegou de modo tão desprevenido e imprevisto quanto demolidor, ao mesmo tempo em que fez com que fizéssemos importantes mudanças na estrutura familiar. Percebi que a presença em casa de um filho que necessita de cuidados especiais abre uma nova frente de trabalho geralmente para as mães. Se ela tiver que dedicar atenção exclusiva ao filho, cuidar das atividades domésticas, repartir carinho e atenção com outros filhos e dedicar parte deste tempo ao trabalho externo, estará cumprindo tarefas dificilmente suportáveis. A divisão de tarefas entre todos os familiares é uma boa solução. A desculpa de “não tenho tempo”, neste caso, jamais será aceita.      
     Os próprios pais perceberam que a solução para o desenvolvimento das potencialidades da menina não cairia do céu, mas estava neles mesmos, ou seja, precisariam assumir a natureza da sua filha, ou seja, precisariam de ter muito boa vontade para isso.
     Uma considerável lista de sentimentos que foram observados e relatados pelos pais: depressão, sentimentos de isolamento, choque, frustração e cólera; culpa pela possibilidade de que a deficiência possa ser causada por algo que a mãe fez no passado; ásperas críticas aos médicos ou enfermeiras envolvidos no parto, ou qualquer outra autoridade considerada insensível e imprestável ...”   
     Havia inicialmente, a consciência dos pais de Thanise, que criar um filho deficiente é suscetível de envolver angústias e problemas adicionais, como também, o fato de a criança ser deficiente poderá tornar usualmente necessário tomar mais decisões do que seria o caso com uma criança considerada normal.
     Esta autopercepção foi um passo importante que os pais de Thanise deram para se lidar com o fato de ela ser uma criança deficitária. Este reconhecimento contudo, não foi fácil, mas foi uma ação necessária e no correr do tempo, teve resultados satisfatórios, haja visto o planejamento de ações que o casal realizou, para tratarem do caso.
     A pressão social a que foram submetidos os pais de Thanise, não os desanimou, e eles a amaram intensamente. A integração da menina com sua família não foi fácil. A discrepância entre a realidade e os desejos dos seus pais poderia ter se tornado um conflito permanente, se não houvesse um equilíbrio de ambos. Outrossim, os irmãos de Thanise, Thanon e Thaubert, passaram a dispensar muita atenção a sua irmã. Saliente-se aqui a imagem de Thanise, sua peculiar linguagem de pequenos gestos, sorrisos e olhares, e segundo seu pai:

     Ela me ensinou que sua vida não era a minha, nem muito menos semelhante à minha. Era uma vida própria, plena de emoções, sentimentos e estava normatizada pela sua peculiar percepção de mundo. A partir deste instante, reconheci-me como pai, sem mais. Meus deveres eram querê-la ampará-la. Nenhum direito moral ou social me assistia para reprovar sua realidade e seu próprio destino. Meu compromisso com ela era demonstrar a mim mesmo, a meus familiares, a meus amigos e a sociedade em geral que ela, Thanise, tinha sua própria personalidade e integridade espiritual como pessoa. Todos queriam vê-la como sempre foi e não conforme os modelamentos de gestos ou costumes que a sociedade estivesse a ditar.
     Levando em conta o estado de Thanise, o pai começou a redefinir seus valores, objetivos de vida e prioridades, passando a ver a menina como uma pessoa no seu global, que necessita de um forte senso de auto-estima, persistência, otimismo e apoio. Especificamente, o auto-questionamento sobre questões práticas relacionadas à melhoria da vida e das atitudes do pai, auxiliaram-no a saber o que fazer hoje, para se compreender melhor, a identificar suas qualidades e limitações, bem como a encontrar novos caminhos de crescimento.
     A conscientização de que as necessidades especiais de Thanise precisavam ser atendidas, permitiria que seus pais desenvolvessem novas habilidades, tornando a família o mais estável e coesa possível. Isto pode ser visto, na atitude de

Rose, que tem superado muitas barreiras sociais e religiosas com brilhantismo. Apesar de reconhecer, assim como eu, determinadas fraquezas diante destas barreiras, costuma dizer taxativamente que não há obstáculos que resistam à força do amor. Como sabe também que nossa filha reage com notável sensibilidade a estímulos exteriores, sobretudo no ambiente familiar, procura não manifestar diante dela seus momentos de cansaço ou de alguma tristeza do cotidiano. Assim fazendo, pensa estar colaborando para que a alegria contagiante de Thanise não seja velada por nenhum condicionante externo. Consciente de que nem todas as mães são como ela, orgulho-me muito de tê-la a meu lado como mãe e como mulher.
Orgulho-me também do Thanon e do Thaubert, pelo tratamento e pela atenção que dispensam à sua irmã. Eu, particularmente, por vezes, reconheço-me injusto com os dois. O que conforta é que tanto um quanto o outro se dizem satisfeitos com o amor que lhes damos...
     A educação de Thanise colocou os pais dela frente a uma realidade nada animadora: a constatação de que no Brasil, notadamente em Santa Maria, no Rio Grande do Sul, ainda não possui um atendimento especializado público aos deficientes, no que se refere à educação.
     A viagem da família de Thanise para a Espanha, mostrou que eles estavam descontentes com o tratamento recebido no Brasil, como também, a convicção de que muitas necessidades da menina, exigiam a participação de uma variedade de profissionais adequados. Na Espanha, Thanise teve a oportunidade de realizar atividades manuais, desenhos, modelagem, pintura, fisioterapia, fonoaudiologia, reeducação motora, avaliação médica semanal e educação dos hábitos higiênicos.
     Após a experiência na Espanha, a família retornou ao Brasil, ocasião em que constatou-se a diferença do tratamento especializado que tinha recebido na Espanha e o que estava por receber aqui.
     A partir da tomada de consciência sobre todos os passos de desespero executados pelo pai de Thanise, dentre os quais ele enumera: “a) Confusão; b) Silêncio; c) Não aceitação; d) Fuga; e) Busca de prováveis culpados e f) Explicações mítico-religiosas” Seu pai falou como cidadão, apontando os problemas que cercam a criança deficiente. Dentre eles, podem ser citados a discriminação social, a luta desigual que enfrentam as famílias das pessoas deficientes e a indiferença dos telecomovidos.
     Após essa tomada de consciência, o pai de Thanise aponta as necessidades que o deficiente precisa, dentre os quais, a integração social, abrangendo a preservação dos seus direitos civis, de um sentimento pátrio e de uma identidade própria. Isto tudo é fruto de sua experiência e conhecimento da prática do tratamento com Thanise, que ao fim da história ele conclui afirmando que: “...nós normais somos egoístas, apáticos, mesquinhos, pequenos... em nossas conquistas sociais. Chega a parecer que todas as conquistas são só nossas e de mais ninguém”
     Um olhar sobre a história de Thanise mostra que a sociedade possui uma visão do homem, padronizada e classifica as pessoas de acordo com essa visão. Assim, elege-se um padrão de normalidade e se esquece de que a sociedade se compõe de homens diversos, que ela se constitui na diversidade, assumindo de um outro modo as diferenças. A dificuldade de superar a visão padronizada de homem está calcada no fato de serem concebidas as diferenças numa perspectiva qualitativa, ou seja, os grupos sociais humanos definem padrões normais ou estigmatizados. Desse modo, uma pessoa pode ser considerada normal quando atende aos padrões que previamente são estabelecidos. A transgressão desses padrões caracteriza o estigmatizado ou a pessoa deficiente, que, por sua vez, expressa desvantagem e descrédito diante de oportunidades concernentes aos padrões de qualidade. Diante do que foi apresentado, pode-se dizer que existe a necessidade de integrar o deficiente na sociedade, dentro de uma concepção bastante ampla, envolvendo: a família, a escola, dentre outros.





Biografia:
Sou pesquisador científico há vários anos e possuo conhecimento sobre diversas áreas.
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