ÀS ÁGUAS |
Fabiano Fernandes Garcez |
Resumo: Poesia se que há p.19 |
Quando eu morrer
Não me cremem e jogue as cinzas no ar
Eu não era do ar
Apesar de gostar da leve brisa no rosto
Também não me enterrem
Eu também não era da terra
E não gostava de verduras
Para comê-las pela raiz
Quem quiser me agradar (mesmo depois de morto)
Me jogue nas águas
Pois eu era das águas
Sejam elas do rio ou do mar
Me coloquem nos braços mansos e celestiais
Da salgada Iemanjá ou a doce Oxum
Eu era das águas e lá recuperava a minha força
Foi lá onde encontrei coragem para chegar até aqui (seja aqui onde for)
Deixem meu pesado e duro físico
A velar pelos peixinhos coloridos e os camarões
Devoradores de cadáveres imergidos
Assim, enfim eu e as águas nos tornaremos um só ser
Para que um barco qualquer onde lá
Estejam marinheiros ou pescadores
Apegados às coisas mundanas e amores rústicos
Possam navegar em mim com tranqüilidade e poesia
Quando eu morrer, depois de verificarem bem
Me leve para o meu mergulho de transdução
Quero que meu leito de morte
Junte-se ao leito das águas que são o símbolo da vida.
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Biografia: Fabiano Fernandes Garcez nasceu em 3 de abril de 1976, na cidade de São Paulo (SP). Formou-se em Letras, é professor de língua portuguesa, literatura e redação, participou das antologias: São Paulo Quatrocentona e Poemas que latem ao coração, é autor dos livros: Poesia se é que há e Diálogos que ainda restam. |
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Outros títulos do mesmo autor
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