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REFLEXÃO ACERCA DO DECRETO FEDERAL Nº 12.686
FERNANDO JUNIOR PEREIRA

Resumo:
O Decreto nº 12.686, de 20 de outubro de 2025, que institui a Política Nacional de Educação Especial Inclusiva e a Rede Nacional de Educação Especial Inclusiva, é um marco na história educacional brasileira. A proposta visa promover a inclusão plena de alunos com deficiência no sistema regular de ensino. No entanto, a ausência de laudos médicos e psicológicos para definir as necessidades educacionais dos alunos com deficiência pode ter sérias implicações para a implementação eficaz dessa política, especialmente no contexto das secretarias municipais de educação, que já enfrentam uma série de desafios administrativos e estruturais. Este artigo defende que a falta desses laudos sobrecarregará as secretarias municipais, que já estão no limite de suas capacidades, e comprometerá a qualidade do atendimento educacional especializado.

O Contexto da Educação Especial Inclusiva no Brasil

A educação inclusiva no Brasil vem sendo promovida por uma série de legislações, incluindo a Lei Brasileira de Inclusão (2015) e a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência (CDPD) da ONU (2008), que garantem o direito à educação para todos os alunos, independentemente das suas condições físicas, mentais ou sensoriais. O Decreto nº 12.686 de 2025 visa consolidar e expandir as ações de educação especial, com ênfase na adaptação do ambiente escolar e na implementação de práticas pedagógicas que atendam às necessidades dos alunos com deficiência.

Entretanto, a ausência de laudos médicos e psicológicos válidos para identificar as necessidades educacionais especiais dos alunos, muitas vezes exigidos para um diagnóstico preciso, representa uma lacuna significativa. Sem esses documentos, as escolas podem ter dificuldades em oferecer o suporte adequado, e as secretarias municipais de educação, responsáveis pela organização e gestão local, podem se ver sobrecarregadas.

A Sobrecarga nas Secretarias Municipais de Educação

As secretarias municipais de educação desempenham um papel crucial na implementação da política de educação especial inclusiva. No entanto, muitas dessas secretarias já enfrentam uma série de limitações, incluindo orçamentos restritos, infraestrutura inadequada, escassez de profissionais especializados e uma alta demanda por serviços educacionais. Quando a política educacional exige o atendimento especializado sem a base de laudos médicos e psicológicos, essa realidade torna-se ainda mais desafiadora.

A ausência de laudos médicos e psicológicos comprometerá diretamente a capacidade das secretarias em planejar adequadamente as intervenções pedagógicas e os recursos necessários para garantir a inclusão. Sem esses documentos, será mais difícil identificar as necessidades de cada aluno, dificultando a elaboração de um Plano de Atendimento Educacional Individualizado (PAI) eficaz, essencial para a inclusão de alunos com deficiências mais complexas.

Falta de Capacitação para Diagnóstico: Muitas secretarias municipais de educação não possuem profissionais com a formação necessária para diagnosticar as deficiências de forma precisa e eficiente. A ausência de laudos médicos ou psicológicos, que fornecem informações essenciais sobre as necessidades do aluno, força as escolas a assumirem responsabilidades para as quais não estão preparadas, o que sobrecarrega ainda mais as equipes pedagógicas e administrativas.

Aumento da Carga Administrativa e de Trabalho: A falta de informações precisas sobre os alunos com deficiência levará as secretarias a precisarem dedicar um número ainda maior de recursos e pessoal para diagnosticar, acompanhar e planejar o atendimento educacional especializado. Isso sobrecarregará o sistema e prejudicará o desempenho das equipes que já estão no limite da capacidade de atendimento.

Desigualdade no Atendimento: A ausência de laudos médicos e psicológicos também pode criar um cenário de desigualdade no atendimento educacional. Sem esses documentos, pode-se recorrer a diagnósticos imprecisos ou, em alguns casos, até à negligência do atendimento adequado, o que afetará negativamente a qualidade da educação oferecida aos alunos com deficiência.

Dificuldade na Alocação de Recursos: As secretarias municipais terão dificuldades em planejar adequadamente a alocação de recursos para alunos com deficiência, como a compra de materiais pedagógicos adaptados ou a contratação de profissionais especializados. A falta de uma base clara e documentada para essas necessidades pode resultar em uma gestão ineficiente e ineficaz dos recursos.

As Críticas de Lucelmo Lacerda

Lucelmo Lacerda, professor doutor em Educação pela PUC-SP e pós-doutor em Psicologia pela UFSCar, tem se posicionado de forma crítica em relação ao Decreto nº 12.686/2025, principalmente no que tange à questão da ausência de laudos médicos e psicológicos e seus efeitos nas secretarias municipais de educação.

A Ausência de Laudos Médicos e Psicológicos: Lacerda argumenta que a exigência de laudos médicos e psicológicos é fundamental para a identificação precisa das necessidades educacionais dos alunos com deficiência. Sem esses laudos, as secretarias municipais ficam à mercê de diagnósticos imprecisos ou insuficientes, o que pode levar a intervenções pedagógicas inadequadas, prejudicando o desenvolvimento dos alunos. Ele destaca que o diagnóstico adequado é a base para qualquer intervenção educacional eficaz e, sem isso, a educação inclusiva se torna superficial e ineficaz.

Sobrecarga Administrativa e Falta de Capacitação: O professor Lacerda também critica a carga administrativa que recairá sobre as secretarias municipais de educação, que já enfrentam uma escassez de recursos e profissionais. Ele acredita que a política, ao exigir que as escolas assumam responsabilidades diagnósticas sem a devida capacitação e estrutura, criará um cenário de sobrecarga, comprometendo a qualidade da educação oferecida. Para Lacerda, a falta de formação adequada dos profissionais da educação dificultará ainda mais a implementação de um modelo de ensino inclusivo de qualidade.

Esvaziamento das Escolas Especializadas: Outro ponto levantado por Lacerda é o risco de esvaziamento das escolas especializadas, como as APAEs, que desempenham um papel crucial no atendimento de alunos com deficiências mais severas. Sem a base dos laudos médicos e psicológicos, muitos desses alunos podem ser direcionados de maneira inadequada para escolas regulares, que não possuem a infraestrutura e os recursos necessários para atendê-los adequadamente. Isso pode resultar no fechamento de escolas especializadas e na redução da qualidade do atendimento aos alunos com deficiências mais complexas.

Desconsideração das Necessidades Específicas dos Alunos: Lacerda também critica a política por desconsiderar as necessidades específicas de alunos com deficiências mais complexas, como os autistas de nível 3, que exigem apoio intensivo e especializado. Sem um diagnóstico adequado, essas necessidades podem ser ignoradas, resultando em uma abordagem pedagógica inadequada, que não leva em consideração a individualidade de cada aluno.

A Formação Insuficiente dos Profissionais: O professor destaca a insuficiência da formação dos profissionais de educação prevista pelo decreto. Lacerda argumenta que a exigência de apenas 80 horas de capacitação para os professores não é suficiente para prepará-los adequadamente para lidar com as complexas necessidades dos alunos com deficiência. A falta de formação especializada comprometerá a capacidade dos educadores em aplicar metodologias inclusivas eficientes e em realizar o acompanhamento adequado dos alunos.

O Decreto nº 12.686, de 2025, representa um avanço significativo na promoção da educação inclusiva no Brasil. No entanto, a ausência de laudos médicos e psicológicos, fundamentais para o diagnóstico e planejamento do atendimento educacional especializado, pode resultar em sérios problemas para as secretarias municipais de educação. A falta de uma base adequada de dados comprometerá a qualidade da educação inclusiva e sobrecarregará ainda mais as equipes pedagógicas e administrativas já fragilizadas por limitações financeiras e estruturais.

A crítica de Lucelmo Lacerda enfatiza a necessidade de se considerar a realidade das secretarias municipais e os desafios que elas enfrentam. Para que a educação inclusiva seja de fato efetiva, é imprescindível que as políticas públicas garantam recursos adequados, formação especializada para os profissionais e a disponibilização de laudos médicos e psicológicos. Somente com uma abordagem integrada e estruturada será possível promover uma verdadeira inclusão educacional, atendendo às necessidades individuais de cada aluno com deficiência e garantindo que todas as crianças e jovens tenham acesso à educação de qualidade.


Biografia:
Graduado em Química, Biologia, Educação Física, Pedagogia, Especialização em Gestão Escolar, Supervisão escolar e Orientação Educacional. Professor de Química na rede Estadual do Estado de São Paulo e Diretor de Escola na Rede Municipal de Itapecerica da Serra.
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