Contextualizando a história do Transtorno do Espectro Autista
Existe grande estigma ainda nos dias de hoje sobre o Transtorno de Espectro Autista, o TEA, é claro que atualmente há mais informações do que havia há tempos atrás, porém convivemos diariamente com a falta de conhecimento sobre o tema, mesmo em ambientes onde já deveria ser evidente o domínio e manejo de crianças e adolescentes deste grupo, como por exemplo nas instituições escolares.
Esse campo de pesquisa vem sendo ampliado, a crescente busca por documentações e evidências, têm levado a mais pesquisas referente ao assunto, conforme o gráfico abaixo, desde 1943, vem ampliando o número de pesquisas para o campo de enfermidades neurológicas.
Historicamente, o autismo, assim como outras doenças, é marcado por muitos desafios e por grandes avanços. O psiquiatra Eugen Bleuler, foi o primeiro a utilizar o termo “autismo”, em meados de 1911, e de lá pra cá muito se pesquisou sobre o termo, que primeiramente foi usado para descrever como sintoma de pessoas com características “esquizofrênicas”:
Para além desta contribuição original à época, pertence a Bleuler (1911) a utilização primeva do termo autismo, que ocorrerá em 1911, mas somente fora detalhada em 1913 quando da publicação de seu artigo intitulado “Pensamento Autístico”, no volume LXIX da aclamada revista “The American Journal of Insanity”. E é sobre este texto, jamais traduzido ou publicado no Brasil – e que servirá como estopim aos estudos clássicos de Kanner em 1943 e de Asperger em 1944 – que concentramos nossa atenção neste primeiro momento, dada sua importância histórica e epistemológica.
Depois disso, em 1943, outro psiquiatra, realizou estudos com um grupo de crianças que ele descreveu como crianças com dificuldade de interação social, movimentos repetitivos e formas diferentes de comunicação, ele denominou como “distúrbio autístico de contato afetivo”, e posteriormente como Autismo infantil. Kanner foi um avido pesquisador do transtorno, durante muitos anos, e baseou suas análises em estudos com as crianças e seus familiares, e norteou muitos de seus artigos sob o ponto de vista psicológico e de relacionamento entre os pais e filhos, considerando essa relação como uma causa do autismo.
Em todo o grupo, são raros os pais e mães realmente calorosos. Na maioria dos casos, os pais, avós e colaterais são pessoas muito preocupadas com coisas abstratas, sejam elas de natureza científica, literária ou artística, e limitadas no interesse autêntico que têm para as pessoas. Mesmo nos casamentos mais felizes permanecem relações mais frias e formais. (Kanner, 1983:264, tradução livre)
Por muitos anos essa concepção de que o autismo infantil poderia ser causado pelo distúrbio de relacionamentos familiares foi analisada e estudada por outros pesquisadores além de Kanner, mas também houveram pesquisas que se aprofundaram em outros caminhos, como por exemplo explorou se mais as características diversificadas dentro de caso, o que a psiquiatra inglesa Lorna Wing definiu o distúrbio agora como “espectro autista” devido às diversas formas de manifestação nos indivíduos, e depois de ter se debruçado nas pesquisas de Hans Asperger, um médico austríaco que antes mesmos das publicações de Kanner, já estava pesquisando sobre outras síndromes de sintomas como dificuldade de interação social e intelectual, e como alguns desses indivíduos tinham grande capacidade de interagir sobre assuntos de seus interesses:
"Esses indivíduos são frequentemente descritos como 'pequenos professores' devido à sua capacidade de falar longamente sobre seus tópicos de interesse, mesmo sem considerar se o ouvinte está interessado." - Hans Asperger, 1938
Desde então muitas têm sido pesquisas e teorias sobre o assunto, há ainda muitas incógnitas, mas que com a facilidade de acesso à informação, e também a troca destas, facilitam a compreensão do transtorno do espectro autista.
Características específicas
O TEA é um transtorno que afeta a capacidade neurológica das pessoas e altera a maneira como estas enxergam e interagem com o mundo ao seu redor. Dentre as dificuldades deste grupo, há a interação social e perda da capacidade intelectual, que pode se manifestar de diferentes formas: leve, moderada e severa.
Crianças com o transtorno que apresentam também sintomas como comportamentos repetitivos, alterações e seletividade sensorial, defasagens intelectuais, além de capacidade restrita para compreensão de comunicação verbal e não verbal. As características principais identificadas por Kanner são: dificuldades no uso da linguagem verbal, incapacidade de relacionamentos, diversos estereótipos, medos desproporcionais a coisas comuns, alegria intensa com determinados objetos. (LIMA, 2012, p.1).
Inclusão ou integração escolar?
A inclusão escolar se define a fim de contribuir com ensino de qualidade a todas as crianças, inclusive para as crianças com deficiência, incluindo o TEA. Seja em instituições regulares, como as escolas ou em ambientes não escolares.
A distinção entre os conceitos de inclusão e integração é fundamental no contexto educacional, especialmente quando se trata da educação de crianças com necessidades especiais, como aquelas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ambos os termos, embora muitas vezes usados de forma intercambiável, têm significados e implicações diferentes.
A integração tem como referência o processo de inserção dos alunos com necessidades especiais em escolas regulares, mas sem literalmente adaptar o ambiente, o local ou as práticas pedagógicas para atender às necessidades específicas desses alunos. Em um modelo de integração, a responsabilidade de se adaptar recai predominantemente sobre o aluno, que deve ajustar-se ao ambiente escolar tradicional.
Entre as principais características, está o foco no aluno e não no ambiente educacional, separação física ou estrutural dos ambientes, de modo a segregar determinadas deficiências, o que pode levar a exclusão, preconceitos e situações vexatórias.
Já a inclusão envolve a adequação de um ambiente educacional de modo que atenda às necessidades de todos os alunos, independente de suas dificuldades ou habilidades. O foco é na adaptação do ambiente escolar, currículo e práticas pedagógicas para assegurar que todos os educandos possam participar significativamente.
Barreiras no ensino público para pessoas com autismo
As barreiras enfrentadas por pessoas com autismo no ensino público são inúmeras e afetam suas vivências no ambiente escolar, o que por consequência afeta o seu correto desenvolvimento. Essas barreiras podem ser classificadas em diferentes categorias, como a infraestrutura, muitas escolas não possuem salas de recursos, materiais adaptados que facilitam as aprendizagens. A formação continua de profissionais da educação é escassa, as redes públicas em sua maioria não tem um plano de carreira que possibilite a reciclagem e constante evolução de suas práticas, levando em consideração a crescente demanda e necessidade profissionais capacitados para atender o público com autismo.
A falta de preparo dos professores para trabalhar com alunos com autismo é uma das principais barreiras para a inclusão educacional. Muitos educadores se sentem inseguros e despreparados para atender a essa população, o que resulta na adoção de práticas inadequadas e, consequentemente, na exclusão dos alunos com TEA do processo educacional" (Mantoan, 2003, p. 56).
A falta de políticas públicas de qualidade são o principal fator para que esse cenário permaneça inconsistente e carente de inclusão . A falta de fiscalização e recursos destinados à implementação dessas políticas resulta em práticas inclusivas deficientes e desigualdades no acesso à educação de qualidade para alunos com autismo.
Possíveis caminhos para uma educação de qualidade
Além de políticas públicas de qualidade, pode-se afirmar que existem muitas maneiras de valorizar as aprendizagens de crianças com autismo nas instituições escolares. Utilização de metodologias ativas e currículos educacionais adaptados geram qualidade e valorização dos educandos e da comunidade onde estão inseridos. Tais atitudes conscientizarão a comunidade escolar, criando um ambiente de acolhimento e inclusão.
"A parceria entre escola e família é um dos pilares da educação inclusiva. Quando os pais estão envolvidos e informados sobre as práticas pedagógicas, o processo de inclusão torna-se mais eficaz, pois há uma continuidade entre o que é trabalhado na escola e em casa" (Sassaki, 2006, p. 99).
Outro fator importante é o envolvimento presente da família na educação do aluno com autismo, é essencial para garantir a continuidade do processo educativo e a efetividade das estratégias inclusivas também nos ambientes não educacionais, e para tanto o apoio e parceria da família é importante.
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