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Educação Física Escolar
Relato de trabalho de vivência sensorial sobre deficiência visual
Edilson Fernandes de Freitas

Resumo:
Este trabalho relata as aulas de uma semana que foram desenvolvidas especificamente sobre o tema dos Jogos Paralímpicos. O objetivo principal dessas aulas foi vivenciar de forma prática a ausência do sentido da visão em afazeres simples, sendo parte introdutória da implementação do esporte Goalball, específico dos Jogos. Como objetivos secundários estão: concentração, confiança do outro, senso de direção, lateralidade corporal, equilíbrio, responsabilidade com o outro, ouvir e dar comandos de direções e movimentos. Os alunos eram divididos em duplas. Uma venda era distribuída para cada dupla. Eles foram informados de que uma pessoa da dupla seria vendada e a outra continuaria vidente. Distribuído por todo espaço da quadra estavam diferentes tipos de materiais. A experiência como um todo foi incrível e o objetivo pode ser concluído com sucesso.

INTRODUÇÃO
Em época de Jogos Olímpicos e Paralímpicos, é impossível esses assuntos não perpetuarem dentro dos conteúdos desenvolvidos nas aulas da disciplina de Educação Física. Este trabalho relata as aulas de uma semana que foram desenvolvidas especificamente sobre o tema dos Jogos Paralímpicos. Obviamente esse tema seria amplo e com bastante assunto a ser tratado, portanto foi escolhido na ocasião o trabalho dentro da Deficiência Visual.
As aulas em questão foram desenvolvidas na Escola Municipal Hortênsia, sito à Rua dos Pinheiros, 425 – Chácara Santa Maria, Itapecerica da Serra – SP. A escola atende os cinco primeiros anos do ensino fundamental, tendo aproximadamente 670 alunos em seus dois períodos, manhã e tarde. Os alunos dos 4ºs e 5ºs anos foram os alunos que fizeram parte das atividades em questão, totalizando aproximadamente 260 alunos.
De acordo com a Matriz Curricular do Município de Itapecerica da Serra - SP, cada turma é contemplada com duas aulas de Educação Física por semana. As atividades em questão foram desenvolvidas em duas aulas, durante o período de 09 a 13 de setembro de 2024, logo após o término das Paralimpíadas.
O objetivo principal dessas aulas foi vivenciar de forma prática a ausência do sentido da visão em afazeres simples, sendo parte introdutória da implementação do esporte Goalball, específico dos Jogos. Como objetivos secundários estão: concentração, confiança do outro, senso de direção, lateralidade corporal, equilíbrio, responsabilidade com o outro, ouvir e dar comandos de direções e movimentos.

METODOLOGIA
Ao chegarem na quadra, que é o espaço da aula de Educação Física nesta escola, os alunos foram convidados a se reunirem no centro da quadra, em círculo. Foram indagados com a seguinte pergunta: O que vocês sabem sobre os Jogos Paralímpicos? A partir daí algumas tímidas respostas forem sendo dadas, e a partir dessas foram sendo construídos diálogos que iam desde concordar, acrescentar ou até mesmo corrigir informações e nomenclaturas, para eu fossem o mais adequado. Como por exemplo, chamar deficientes visuais de “cegos”, ou as Pessoas com deficiência de Deficientes. No texto Terminologia sobre Deficiência na era da Inclusão, SASSAKI recomenda a opção por expressões compostas iniciadas com o termo pessoa, ou seja: pessoa com paraplegia" em vez de "o paraplégico", "pessoa com tetraplegia" em vez de "o tetraplégico". Também não deve ser usada a expressão "paralisado cerebral". Note-se que isso não se aplica aos contextos da surdez e da cegueira, nos quais os termos "surdo" e "cego" são empregados livremente, como já visto.
Após esse papo inicial, o professor lhes forneceu informações adicionais básicas sobre o tema, como por exemplo, como começou, como deu-se o contexto da implementação da competição até chegar nos dias atuais, além da história da participação brasileira. Por fim, os alunos foram surpreendidos com a proposta da atividade central da aula.
Eles eram divididos em duplas. Uma venda era distribuída para cada dupla. Eles foram informados de que uma pessoa da dupla seria vendada e a outra continuaria vidente. Distribuído por todo espaço da quadra estavam diferentes tipos de materiais, que eram: cones grandes deitados no chão, cones pequenos um ao lado do outro e uma distância de mais ou menos um metro, formando uma passagem e bambolês. Foi explicado também que cada um desses materiais dispostos pelo espaço tinha um objetivo, uma missão a ser executada.
O aluno vidente deveria guiar o seu colega vendado pelo espaço seguindo a seguintes instruções: ele era totalmente responsável por aquele aluno não vidente, portanto, não poderia deixá-lo cair, bater em outros colegas, bater na parede ou em qualquer outro objeto disposto no espaço que fizesse com que ele se machucasse, assim como cair no chão; ainda ele deveria guiar o colega pelo espaço executando as missões propostas, sendo: passar entre três passagens de pequenos cones distribuídos, entrar e permanecer por 5 segundos dentro de cinco diferentes bambolês, e saltar três cones grandes que estavam deitados no chão. Ao concluir a tarefa as posições eram invertidas, quem estava vendado passaria a ser vidente e o oposto acontecia da mesma forma. Tudo se iniciava novamente até que ambos os alunos tivessem concluído todos os dois lados da atividade, ou seja, ser evidente e guiar o colega e ser não vidente e ser guiado pelo colega.
Ao final da tarefa os alunos eram orientados a refletir sobre a suas dificuldades enquanto videntes e necessitando de guiar o colega e a suas dificuldades enquanto não vidente e ser guiado. Também foi solicitado que eles refletissem sobre como eles se sentiam tendo a responsabilidade de ser responsável pelo colega inteiramente, já que o colega não poderia ver, e quando todo bem-estar deles estavam entregues à responsabilidade de outra pessoa, já que eles não estavam conseguindo ver. Como o tempo da aula já estava no fim, ficou combinado que eles realizassem essa atividade em casa e trouxessem na próxima aula para discutirmos juntos o assunto.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
No dia combinado os alunos trouxeram suas anotações do que foi pedido na aula anterior. Como era de se esperar, alguns alunos fizeram observações bem simples e básicas, como por exemplo: dificuldade de “não enxergar, dificuldade de “guiar”, ou até mesmo que não teve dificuldade nenhuma”, em ambas as posições. Quanto à forma como se sentiram perante o contexto, alguns responderam apenas que se sentiram “bem” ou “normal” em ser guiado e guiar alguém. Porém, muitos fizeram observações bastante relevantes acerca do proposto. Por exemplo, dificuldade em “criar meios de comunicação eficientes para guiar o colega”, dificuldade de “entender direita e esquerda”, uso de palavras que não tinham a sua objetividade clara como: “para cá”, “para lá”, “vira”, “vem vindo” ou “mais pra lá”. Alguns relataram sobre a “falta de confiança” no companheiro, de que ele pudesse estar o levando para algum lugar perigoso apenas como brincadeira.
Diante das coisas que foram ditas incluímos na discussão elementos que traziam a realidade das pessoas deficientes visuais no seu dia a dia. Como a diferentes obstáculos em seus caminhos por falta de sinalização adequada, falta de calçamento adequado, calçadas irregulares, falta de acessibilidade de leitura em braile, dentre diferentes outras coisas que tornam a vida do deficiente visual mais difícil.
Continuamos a discussão agora tratando sobre a responsabilidade. O quanto é importante e sério ser responsável pelo outro. A partir do momento em que as ações de uma pessoa dependem da nossa, como a forma como a gente pensa precisa ser alterada para que o pensamento esteja agora mais focado na outro do que nós mesmos, de que brincadeiras fora de hora não cabem em muitas situações que geram perigo ao outro que depende de nós.
Enquanto a atividade acontecia, eu como mediador precisei intervir diversas vezes pois, os alunos videntes estavam realizando ações que colocavam em risco a integridade dos outros colegas como, por exemplo, deixar eles andarem muito próximos das paredes, deixar o colega andando solto sem muitas instruções, deixar ele bater de propósito e outras colegas, como motivo de riso, dar instruções inadequadas para a situação, andar muito longe do colega que não está me enxergando, dentre outros. Inclusive houveram dois casos de alunos que chegaram a bater o rosto de frente com a parede, pois quem estavam os guiando, não realizaram corretamente o seu trabalho.
Outro ponto ligado à responsabilidade, também era a todo momento cobrado dos alunos: o fato de que muitos deles estavam tentando ou até mesmo conseguindo enxergar por brechas na venda. Brechas essas que apareciam por acaso ou que eram criadas pelos próprios, para que eles pudessem enxergar. Orientei de que a vivência sensorial só se daria por completo se eles se entregassem à atividade de maneira honesta, cumprindo as regras da mesma.
Durante o período de discussão geral, mesmo os alunos que não haviam realizado a tarefa em casa acabavam falando sobre a suas impressões e os seus sentimentos. Conforme mais colegas relataram, mais ideias e mais pontos de vistas eram acrescentados e mais opiniões eram declaradas. Alguns inclusive, sugeriram realizar essa atividade utilizando outros espaços da escola, e tendo que cumprir tarefas como: subir e descer escadas ou a rampa, atravessar desnível, pisar em diferentes tipos de pisos, entrar e sair de sala de aula, sentar e levantar de seus lugares e assim por diante. A discussão no geral foi bem proveitosa.

CONCLUSÃO
Acredito que a experiência como um todo foi incrível e que o objetivo pode ser concluído com sucesso. A partir desta atividade outras estavam programadas para continuar acontecendo, inclusive seguindo o tema de deficiência visual e os esportes paralímpicos. Possivelmente em um outro trabalho, possam ser detalhadas como as atividades seguintes foram concluídas e as impressões que ficaram ao longo de todo o contexto trabalhado.
Obviamente, nunca poderemos ter a real noção de como é ser um deficiente visual. Este inclusive nem foi o objetivo do trabalho realizado. Mas a conscientização e a responsabilização de que temos um com outro, tendo ou não alguma deficiência e não só no ambiente escolar, mas durante todo o tempo em sociedade.

BIBLIOGRAFIA
BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular.
COMITE PARALÍMPICO BRASILEIRO. www.cpb.org.br. acesso em 10 de setembro de 2024.
https://files.cercomp.ufg.br/weby/up/211/o/TERMINOLOGIA_SOBRE_DEFICIENCIA_NA_ERA_DA.pdf?1473203540. Acesso em 15 de setembro de 2024.



Biografia:
Barachel e Licenciado em Educação Física pela Universidade Federal de Viçosa, em 2014. Licenciado em Letras Português/Inglês, pela Faculdade Campos Elíseos, em 2021. Professor de Educação Física, da Prefeitura Municipal de Itapecerica da Serra, desde 2014.
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