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Seu Encanto
José Ernesto Kappel

Seu encanto deve ser ameno, não muito rebuscado. 



Deve ser simples e caiado de branco na alma, e com azul profundo da cor do mar, nos olhos que sempre me esperaram. 



Seu encanto deve ser brando como uma flor envergonhada: e tenaz amorosa.



Deve ser lapidado por poeiras de ouro, jambras nas terras sagradas, deve ser alquimista de espírito e torneada de estrelas reluzentes a sua volta. 



Sua ternura deve ser loquaz, sua meiguice há de ser tão eterna como em vários mundos dispesos. Que sua voz soe amena em qualquer lugar.



Lânguida, deve ser perdoável e cativa.



Se almeja o alcaide, deseja também a força de todo amor - daqueles que se dispersam pela terra e saem cultivados de canduras. 



Seu encanto não deve ser breve, deve ter a força e a majestade de uma montanha sempre banhada pelo sol. Sua presença deve ser constante e voluntária.

Deve ter júbilo e esplendorosa - igual ao amanhecer. 



E desejo, com toda vontade de homem feito e de brando solitário, que um dia você surja entre a névoa e o sol, e ilumine meu espírito e faça de mim um amaino suave de alegria. 



Se sou asssim, pois sou assim.



Ave ferida que voa, não desiste e não se assusta com o sangue a jorrar pela flecha incontida que no peito foi cravar.



Sou assim, sempre voando. Sempre ferido.



Mas lembro, o dia de feituras que, um dia, lá me chamou de meu querido.



Era eu sendo desejado.

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