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LEITURA EXPLISIVA
Leitura explosiva
Henrique Pompilio de Araujo

Resumo:
Ser muito gordo pode ter alguns problemas. Foi o que aconteceu com este pobre aluno.

LEITURA EXPLOSIVA

          Jonas era gordo. Era gordo de dar dó. Andava de pernas abertas e bem devagar. Para se sentar tinha que ser bem devagar. Não que ele se machucasse, mas quebraria as cadeiras.

          Na escola ocupava os últimos lugares,num canto da parede que formava um ângulo de 90. Assim ele estaria seguro de todo lado e não tinha perigo de se esborrachar no chão.

          Além de gordo Jonas tinha graves defeitos. Não estudava, não sabia nada, era mais burro que burro xucro. Brincava o tempo todo. Pinicava um, cutucava outro, falava mal de um e de outro, jogava papelzinho em um e em outro.

          O terror de Jonas era a aula de português. A professora era uma velhota de 50 anos, áspera, carrancuda. Na aula dela ninguém piava. A classe era um cemitério e Jonas ficava como uma estátua de banha lá no final da sala.

          E a professora começava: hoje vamos falar sobre adjunto adnominal.

          Na aula dela ele copiava a matéria, estudava as lições, mas a calamidade era a leitura. Não sabia ler e ainda por cima era gago.

        - Ad ad adjunto ad ad adnominal.

        - Adjunto significa que vem junto, adnominal - quer dizer que vem junto do nome - explicava a professora.

        - Pedro, pedia ela - no exemplo: casa bonita, por que bonita é um   adjunto adnominal?

        - Porque "bonita" é um adjetivo, professora, e está ao lado de um substantivo que é um nome, portanto é um adjunto adnominal.

           - Muito bem, Pedro, é isto mesmo. Jonas, me explique o exemplo: O boi é feio. Por que o O é um adjunto adnominal?

          - E...e...eu, fessora?

          - Você mesmo, Jonas, não tem outro Jonas aqui.

          - O bo bo boi - o boi.

          - É claro que é o boi...

          - Na na não sei, fessora,

          - Porque é artigo, Jonas. O artigo ao lado do substantivo tem valor de   adjunto adnominal.

          Ele lá sabia o que era artigo, nada. Só sabia que já tinha respondida, ou melhor, tinha sido chamado e nesta aula a professora não o chamaria mais, pois era seu costume só chamar o aluno uma vez. Agora ele podia respirar e continuar sua malandragem.

          As redações de Jonas eram eletrizantes. Além de erros, riscava, borrava, rasurava e entregava um verdadeiro bagulho.

          Jamais tirou um dois em redação. Mas o pior de tudo era a leitura e foi num dia desse que a professora resolveu fazer uma leitura em sala de aula. Ninguém escaparia de ler. Jonas já começou a ficar impaciente, azul, amarelo, verde.

        O texto para ser lido era EPISÓDIO de Carlos Drummond de Andrade. Muitos alunos leram o texto antes de Jonas até que chegou a sua vez:

        - Jonas, comece a ler o texto.

        Ele inspirou, respirou, fez pluft,ploft. Abriu o livro, folheou, olhou uma página,olhou a outra, começou a se levantar, a cadeira caiu, pegou a cadeira, afastou a carteira, depois de 5 minutos começou:

Mamamanhá cedo papapassa
à mimiminha porta um boboboi
de onde vevevem ele
se nananão há fazendas?

        A gurizada caía na gargalhada. Ele ficava roxo, fulo de raiva, mas não falava nada e continuava:

Vevevem chechecheirando o tempo
entre nononoite e rosa
papapára à mimiminha porta
sususua lelelenta máquina.

          - Veja se lê um pouco melhor, Jonas - dizia a professora. Leia bem devagar, não se importe com os outros.

          Jonas roxo, preto, grogue fica nervoso, revira de um lado e outro, quer fugir dali, se enfiar no cobertor da mãe e não acordar nunca mais, mas é obrigado a continuar.

Alhealhealheio à popopolícia
aneanteanterior ao tratratráfego
ó boboboi,mememe conquistas
papapára outro, teteteu reno.

          Novos risos, novas gargalhadas. A professora pedia silêncio e ele continuava, mais morto que vivo.

Sesesegura teteteus chichichifres
eis-me tratratransportado
sososonho em cococompanhia
ao papaís proproprofundo.


        Com um sacrificio dos diabos ele chega ao fim. A classe virou um hospício. Ninguém parava de rir. A professora séria, brigava com um e outro aluno, mas a barulheira era demais até que:

        - Booooommmmm!

        Ouve um estrondo enorme. Todo mundo olhou para traz.

        - Pronto! O gordo estourou.

        Um fogo enorme avançou pela janela da escola. Só se via aluno esguaritando pela porta e pela outra janela.

        Não se sabe como o gordo conseguiu sair da sala e só foi encontrado duas horas depois, embaixo da cama da mamãe. Ainda tremia muito.

        - O que foi, Jonas? Perguntou a mãe.

        - O mundo está acabando lá no colégio.

        Daí a pouco passou a polícia e o corpo de bombeiros. Um avião teco-teco tinha caído no pátio da escola e explodido.










Biografia:
Henrique Pompilio de Araújo, nascido em Campo Mourão PR e radicado em Cuiabá MT. Começou a escrever desde cedo. Professor aposentado, bacharel em Direito e Teologia. Trabalhou em diversas escolas em Cuiabá e alguns jornais do Estado. Publicou sua primeira obra em 1977: Secos & Molhados - Poemas. Ultimamente publicou outros livros: "Flores do Além" Poemas, "Contos da Espiritualidade" - Contos, "Nas curvas da vida" Memórias, "Cinquenta contos" Contos. Há muitas obras ainda esperando edição.
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Ensaios COMO PROVAR A EXISTÊNCIA DE DEUS Henrique Pompilio de Araujo
Contos JOÃO TORTO Henrique Pompilio de Araujo

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Publicações de número 61 até 62 de um total de 62.


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