Lendo um jornal da capital, desta semana, surgiu-me a idéia de escrever este texto, pelo sentimento semelhante ao que senti no autor que escreveu o artigo. Ele dizia sentir falta de cartas e reclamar do excesso de e-mails. Não é exatamente isto que sinto. Explico melhor.
Geralmente nos deslumbramos com as novidades e nos tornamos além de encantados, defensores entusiastas e divulgadores daquilo que foi motivo de encantamento, seja um livro, um filme um utilitário que facilite nosso dia a dia, ou produto de alta tecnologia capaz de transformar o mundo numa pequena aldeia e.
tornar a distância algo quase inexistente diante de uma web cam.
Pois bem, depois que o computador passou a fazer parte de meu cotidiano, após muito incentivo e insistência, fiquei fascinada com as mensagens que passei a receber de pessoas amigas. Lindas, emocionantes (de cunho religioso, filosófico, existencial, sobre o valor da amizade, sobre datas comemorativas, de auto ajuda) com magníficas idéias, capazes de nos emocionar, nos envolver e fazer com que passássemos muito tempo no computador a descobri-las nos mais diversos sites na internet para retribuir aquela que havia recebido. No Natal do ano passado enviei e recebi dezenas delas, tanto por e-mail, quanto no orkut. Tudo muito prático,moderno, rápido.Podia mandar cinqüenta delas,sem precisar levantar do lugar onde estava,sem necessitar comprar cartões,escrever envelopes,postar no correio.
Com um simples clique no mouse, colocamos uma mensagem no orkut ,sem precisar nada escrever . A mensagem sai rápida, linda, repleta de desenhos, imagens, música, colorido, animação e ainda por cima dizendo o quanto somos admirados, amados ou adorados (assim como as outras dezenas de pessoas que recebem a mensagem, é claro). Quando recebemos cada uma delas ,chegamos a nos sentir seres especiais,pela beleza do conteúdo das mensagens .Só que com o tempo,vamos percebendo que falta alma .É tudo muito impessoal.Claro que um cartão de Natal.de Boas Festas,tão usados anteriormente,também tem mensagens impessoais mas, ao endereçarmos para alguém,nos colocamos nele,nas palavras que escrevemos,no carinho que ali colocamos e no cuidado com que o fazemos.
No computador as pessoas enviam mensagens sem ao menos escrever uma palavra,só enviando a mensagem,muitas vezes com um simples clique no encaminhar,com o conteúdo de outras pessoas junto.
Sinto falta das palavras que revelam o pessoal, o único ou seja, o interior de cada um.O pior de tudo é que sem nos darmos conta vamos entrando na corrente e dela fazendo parte,embora critiquemos quem assim proceda.Quando percebemos lá estamos nós a enviar mensagens para uma dúzia de pessoas,sem nos dirigirmos a nenhuma em especial.
Apesar da caprichada técnica na elaboração das mensagens, elas são como roupa tamanha único, isto é, podem servir para qualquer tipo de pessoa, independente de suas características, de seu gosto, do grau de envolvimento ou amizade entre quem envia e quem recebe. Como tudo, tem suas vantagens e desvantagens.Com o tempo vão se tornando repetitivas,tanto no conteúdo, quanto nas imagens. Um outro aspecto a considerar é que quem as elabora pode manejar bem os recursos técnicos, porém pode estar carente com relação ao idioma e então ocorre de encontrarmos erros primários de ortografia e gramática.
O que é muito comum também é enviarmos mensagens para pessoas amigas, que enviam para outra amiga em comum, que termina por nos enviar a mesma. mensagem.Forma-se um circulo, acabamos com a caixa de e-mails cheia de mensagens com coisas repetidas.Perdemos tempo que poderíamos estar empregando em algo mais útil.
A ideal é saber usar com mais reserva, podendo ser uma forma gentil de cumprimentarmos alguém por uma data especial, mas não deixando de nos colocarmos também naquilo que enviamos. Podemos também querer partilhar algo bonito com uma pessoa que queremos bem, porém não podemos ficar só nisso. É na troca que realizamos com o outro, no diálogo que crescemos, por isso temos que nos servir da tecnologia como meio, não como fim em si mesmo.Temos que ter o mesmo tipo de relação que temos com o dinheiro, isto é, nós devemos controlá-lo e não nos deixar controlar por ele.É uma questão de discernimento e escolha adequada, seletiva e criteriosa.
Aos meus amigos, prometo enviar para cada um em separado,uma palavra especial dispensando toda a atenção que merecem e não algo impessoal,distante,que só indica quem enviou porque o nome está em anexo.
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