Esse texto não é realmente necessário, mas como raramente sabemos o que é realmente necessário, automaticamente, e por conta própria, e dignidade infame ele se faz necessário para quem o assim pensar.
Algumas pessoas costuram, outras participam de grupos de idosos, outras param nas alheias portas a fazer fofocas, e outras tantas fazem teatro. Para se fazer teatro não precisa ser necessariamente nascer com o dom correndo as veias, pois lembre-se que um pedreiro pode fazer um teatro, já que este também é o nome da construção. Todavia nem toda pessoa pode fazer teatro, todas deveriam ao menos tentar, sendo que um bom diretor percebe desde a primeira tentativa que aquela pessoa não irá dar certo, e o mais terrível de tudo é que algumas ficam tentando para o resto da vida sem qualquer evolução.
Lembro-me agora de mais um ponto porque esse texto faz-se necessário: Muitas pessoas acham o teatro uma grande idiotice! Então, tem de existir pessoas que lutem por ele, porque afinal de contas se acabar tudo de uma vez fará muita falta! Pois as conseqüências dele não estão presentes apenas em um palco.
Muita gente acha lindo, maravilhoso, é até mesmo um ato de extrema elegância social ir ao teatro assistir uma peça. É dividido da seguinte maneira: os ditos ricos, elegantes, intelectuais, vão á grandes teatros assistir apenas a peças de drama e conflitos psicológicos. Os ditos pobres, de classe baixa e ignorantes procurar assistir apenas ás comédias porque julgam que “de triste já basta a vida”, e a arte que fo...-se!
E ‘desimportando’ as classes, dentro delas, são bem poucas as pessoas que reconhecem o verdadeiro trabalho do ator, diretor, do teatro material em si. A coisa toda não se resume ao momento da estréia, da compra do ingresso na bilheteria, sentar-se na poltrona e ver os atores falando coisas bonitas ou feias e fazendo caras e bocas. Muito menos o trabalho do ator se resume a inventar de ser ator, querer fazer uma peça, e subir num palco para matar sua vontade.
A todo aquele que pretende ingressar na arte cênica, o primeiro passo é o teatro, que seja na escola, em uma associação de bairro, mas que seja! Depois então partir para um grupo maior, outro profissional e ir crescendo para alcançar seus objetivos. Mesmo que seu ideal seja trabalhar em frente a câmeras de TV ou cinema, ou ainda na publicidade, é importante passar pelo teatro, pois é ele quem dá o básico da noção de interpretação, da construção do personagem, do sentimento passado ao público através da fala e do corpo.
Fazemos muitas coisas estranhas como os exercícios, por exemplo: pular sapinho, fazer caretas para alguém a sua frente, respirar forte, devagar, pausado, rápido, com diafragma, sem diafragma. Trabalhar as articulações, barulhos engraçados para aquecer a voz.
Cada trabalho é no mínimo iniciado dois meses antes da prevista estréia, então começa um intenso processo de pesquisa de figurino, de palavras certas, de maquiagem, de gestos típicos, trejeitos, formas, acontecimentos, tudo o que mais se encaixe e deve ser mostrado no trabalho. Uma parte bem difícil então acontece com os diretores, que além de realizar a anterior etapa também tem de dar forma ao espetáculo, cada cena, cada diálogo, logicamente com a parceria e apoio do ator.
Se a interpretação não estiver 100%, uma boa maquiagem e figurino sempre ajudam, se estiver 100%, melhor ainda. Nem todos sonham em entrar para a Globo e fazer Malhação. Jamais deve-se procurar fazer teatro para alcançar a fama, ela é consequência. antes de se subir em um palco muita água passa embaixo da ponte. Você deve ficar muito contente se não foe escolhido para protagonista. Leite de Colônia é horrível para tirar maquiagem. É encantador aqueles espelhos de camarim com lâmpadas em volta. Depois da peça temos uma terrível fome. Vários papéis passam por você antes da coisa ser definitiva. Não se pode espiar o público pelas cortinas, na coxia e no camarim deve haver total silêncio. Não se deve falar com uma pessoas que está prestes a entrar em cena. Os que sofrem de crise existencial por passarem por muitos personagens são minoria, casos raros. Assistimos muitos filmes, lemos e de alguma forma prendemos sobre fatos que não gostamos para poder fazer as coisas com perfeição. Deve-se aprender a ver no escuro, pois depois que começa o ambiente no palco e seus arredores é quase breu. Saber improvisar é imprescindível. Existe beijo técnico sim, é igual aos outros, o que muda é o que você tem na mente. Você muda completamente depois de começar a fazer teatro: Fica mais criativo, raciocínio rápido, melhor preparo físico, quebra tabus, rompe limites, livra-se de preconceitos, se aceita melhor, abre a cabeça para o verdadeiro mundo, para um lindo mundo. A gente tem técnicas para fazer muitas coisas que não parecem ser interpretação. A gente vê outra peça de duas formas: a crítica e a de espectador. Você realiza sonhos através da encenação. Vira pessoas que jamais imaginou ser. Aprende a encarar os fatos de frente, a olhar nos olhos, a ser mais verdadeiros e doar-se aos verdadeiros amigos e objetivos. Muitos artefatos não aparecem diretamente na cena, mas se faltarmos com ele aí sim o público nota que algo está em débito. Muitos acham um absurdo pagar R$ 15,00, R$20,00 para assistir a uma peça uma vez por mês, mas paga o dobro por semana para entrar em uma festa. É fascinantes os bastidores de uma peça. Devido á ousadia e coragem os atores muitas vezes são encarados como gays. Não deve-se comer durante um espetáculo. Alguns atores pisam no palco apenas descalços. Nem tudo é peça teatral, existem também performances, esquetes e outros tipos de arte cênica em palco, o que as faz é o tempo de duração. Usamos muitos verbetes do tipo: bife, pastelão, maior, caco, deixa, boca de cena, etc. É bem provável que as coisas são bem diferentes do que se ensaiou. Sim, somos todos loucos e não temos vergonha de falar em público, embora a maioria seja tímido em situações pessoais. Vivemos fazendo cena, e fazemos porque gostamos porque realmente somos loucos, loucos por teatro, esta arte maravilhosa!
A quem quiser mais informações, estou a disposição! E a você que nunca fez, experimente!
Douglas Tedesco. 13/02/08
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