Se você me ver chorando
Pode não ser pelo prego no pé
Pode não ser pelo que parece e não é
Mas é que eu estou desmontando
O que fui quando era quando
E não sabia o que era dor ou fé...

Se depois de me ver chorar
Você tentar me consolar
Não espere que eu chore pelo afeto
Nem espere que eu me finja discreto:
Tomou-me por dentro e por fora
O choro que veio e foi embora...

Eis o caminho dos olhos a frente
Esperando que eu desça e suba ladeiras
Me perdendo em águas tranquilas ou corredeiras
E nem por isso serei desigual ao ente
Que escolheu a estrada que seus pés queriam
Por saber-se frondosamente diferente...

Antes de emitir um som sequer
O universo não tinha corpo de homem ou mulher
E ao espalhar-se nas campinas sob as rédeas do tempo
Vestiu-se de moléculas e cobriu-se de mil inventos
Espalhou-se definitivamente antes de nascer a palavra
Que deu nome às coisas e deu à si o sutil nome de nada...

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