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Benditos são os domingos!
Vinícius Mariano Pereira

Benditos são os domingos!
Revestido de descanso, o domingo mais atemoriza do que consola. Assim dizem os sôfregos corações que se inundam de todas as preguiças monótonas do cotidiano. Talvez tenha sido em um domingo qualquer que todas as maldições humanas foram criadas: as despedidas, a saudade, as desilusões, os ressentimentos, os calendários, as menstruações retrógradas. As doenças venéreas, a artrite, a artrose, as inflamações de garganta, os fígados deteriorados, enfim... O domingo é um verdadeiro oposto ao complexo sentido caótico da vida.
São parentes distantes por qual nutrimos certas afeições, mas que preferimos, ainda assim, mantê-los distantes.
A contento, sua relação direta com a segunda-feira (substancial ou não) acaba por prejudicá-lo. Há um ódio massivo, um conceito geral que sustenta todos os temores. Toda a festividade evocada na sexta-feira, que ganha ainda mais forma aos sábados, perde todo o encanto na manhã do domingo. Perde-se também, todo o vislumbre poético que cerca à vida; todas as primazias e os contornos cirúrgicos, redigidos por um amor pródigo.
O domingo acaba de forma abrupta, fechando-se em si mesmo, lamuriando-se sobre toda a precariedade que o constitui.
Há quem aprecie o domingo, quem enalteça toda a sua capacidade familiar e toda a base clerical que corresponde à sua existência. Há quem o deseje; quem o prenda em um forte abraço. Há quem o beije, mesmo que o domingo lhe trate com significativa indiferença.
Há quem sinta toda a ferocidade do domingo, com suas garras atrozes e toda a astúcia felina que o inunda.
Há quem o acentue, o pontue, mesmo sem o uso das reticências permitidas. Há quem o afague, mesmo o domingo sendo incapaz de sorrir.
Há quem o tome por sonhos, imune de todas as maledicências mundanas. Há quem o sinta poético, condizente com as avarias terrestres, emancipado de todas as ilusões prodigiosas.
Mortificado e santificado são os domingos. São eles que delimitam todos os passos semanais, toda a subserviência atemporal que inflacionam os dias. Obtuso e oblíquo, vazio em sua opacidade. Vindouros serão os domingos, revestidos de todo alumbramento cerimonioso, ineficazes em suas fórmulas aritméticas e consternado pela bravura insípida que rege a burocracia.
Há domingos que são domingos: amargos e cálidos; fecundos em sua ignorância.
Nem mesmo a morte solidariza-se com os domingos.
São eles que fazem com que “ela” estenda suas cargas laborais, lhe atribuindo o mais suntuoso cansaço. Confrangido em todas as contradições cabíveis, poluído das mais variadas faces, o domingo, amolece todas as radiações energéticas do otimismo. É ali, sobre a cama, em profunda solidão, que o domingo – vestido de asco – se desfaz em preludio.
Aterrorizado, ele se esvai sob uma chuva de cornetas frígidas, frenéticas e incorpóreas; preconizando e prescrevendo, sem prerrogativas ou distinções, demonizando todas as amenidades, combatendo todos os paliativos, toda a reciprocidade burlesca.
Afinal, todos nós nos acostumamos a morrer um pouco mais aos domingos.


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