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Anjo de um asa só
Luis Fernando Nussbaum Deschamps

Meu anjo da guarda tinha apenas uma asa. Nunca me contou o motivo, mas sei da presença da labirinte em seu corpo branco. Antes de dormir, o imaginava voando por ai, como um velho que anda com uma perna só. Castigo divino, o que mais poderia ser?
Ouvia Frank Sinatra, fumava charuto e fica sempre me olhando com olhar de desdem. De certo, na fila celestial alguém o empurrou para o lado errado. Nunca vi alguém tão vagabundo. Deve ser como esses funcionários públicos, que vivem uma vida inteira, sem tê-la vivido um só dia sequer.
Abaixava o som, pois estava sempre muito alto para ele. E as mulheres, sempre as mulheres eram todas '' feias '' demais, não tinham graça alguma, sequer alguma poesia no andar. Quando lhe perguntei o motivo de trazer prostitutas, apenas sussurrou: '' Não conte pra ninguém''. E bateu a porta na minha cara. Quando na prova pedi ajuda, riu e acendeu um cigarro. No meu casamento, dançava com as velhinhas, mais velhas até do que ele, que nem conseguiam enxergá-lo. Meu filho, fazia-o acordar toda madrugada e quando meu querido anjo morreu, apenas pedi:

- Existe alguma maneira desses malditos fantasmas sujarem os pés quando andam?

Com seus dentes amarelos de tabaco sorriu. Nós dois não gostávamos nada, daquela minha empregadinha que sempre dizia, que eu estava apenas conversando com demônios.





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