Numa tarde clara mas sem sol, em um ambiente tipicamente campestre, ao lado de um auto estrada que parecia deserta, havia um caminho estreito cercado de vegetação rasteira; a estrada ficava em um plano mais alto, cerca de quatro metros, mas havia um detalhe: Não havia um horizonte visível, pelo menos para nós, parecia que o caminho nunca teria fim.
- Muitas vezes, quando tudo nos vai bem, parece que a vida nunca tará fim...
Ao lado direito, morros de formas harmoniosas e cobertos de luxuriante vegetação pareciam espreitar-nos, silenciosos; até onde a nossa vista podia alcançar, não havia nenhuma casa.
Caminhávamos lado a lado; eu, ao teu lado direito, tinha o braço sobre os teus ombros, como para protegê-la. Tu usavas um vestido de malha, preto como a noite, o qual nervosamente puxavas para baixo, pois à medida que caminhavas, ele subia deixando deixando à mostra o mais belo par de pernas que já vi, morenas como as rolinhas que encontrávamos pelo caminho.
De repente, eu comecei a sentir um desejo quase incontrolável de tomar-te em meus braços e beijar-te sôfrega e ardentemente; mas tu, que durante toda a caminhada, sequer proferiste uma só palavra, demonstrando uma timidez incompreensível para mim, nem uma vez olhaste em minha direção mas mantinhas os olhos fixos naquele horizonte que não existia.
O teu olhar era determinado; parece que só tu sabias para onde estavas indo, e eu, um mero companheiro de caminhada; senti-me então como um lacaio à tua disposição, como um simples guarda costas.
Mas eu não desisti do meu intento e comecei a elogiar a beleza do teu corpo tentando quase que inutilmente chamar a tua atenção para aquele momento lindo, único, mágico em que podíamos desfrutar de todos os prazeres que um momento assim pode proporcionar, afinal estávamos à sós em plena natureza, longe de todos os olhares curiosos e maldosos; eu escolhia as mais belas palavras para demonstrá-lo...
E nesse exato momento, eu acordei frustrado, pois descobri que havia sido um lindo sonho inconcluído.
H. Siqueira, 2010.
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