CAPITULO I onde tudo começou
Professora Angélica estava de pé, de costa para o balcão, ajeitando suas mercadorias na prateleira, quando Seu Dico. entrou meio desconfiado, na parte única da venda, pé ante pé, no profundo silencio, até colocar as mãos sobre os olhos dela.- Quem é? Perguntou disfarçadamente Seu Dico, ela parou os afazeres e insinuou inocentemente:- Seu Lairo?- “Seu Lairo”? – Indignou-se, puxando as mãos mais que depressa dos olhos da professora, virando-se bruscamente.- Oh! Desculpe-me – disse-lhe meio sem jeito, ao deparar com o rosto irado de Seu Dico, que de imediato virou-se para a rua, numa atitude brusca que deixou-lhe atônita , segurando-lhe um dos braços rogou-lhe cordialmente – Desculpe-me mais uma vez – Seu Dico deu-lhe um safanão, desvencilhando-se, saindo em longas passadas sem olhar para trás. A professora Angélica correu até a porta, esbarrando na pequena cancela do balcão, pulando sobre um saco de arroz e .. entrebateu-se com Seu Lairo na porta.- O que foi fessora? Perguntou de imediato, antes que a mesma recuperasse do vexame:- Nada, nada. – Voltando-se para o balcão, fechando a cancela, posicionando-se no mesmo lugar. Seu Lairo vestia uma surrada camisa de cambraia azul, puída e encardida na gola, com as mangas arregaçadas até no meio do braço, a calça de pano preto enrolado até na canela, de sandália de couro carcomido pelo uso prolongado, na mão um chapéu de palha. Uma barba rala, mal distribuída no encovado e moreno rosto, de cabelos encarapinhados, observou friamente o modo esquisito da fessora Angélica e a casmurrice de Seu Dico que nem retrucou ao seu “Bom dia”, nem mesmo o cumprimentou como de costume, nem balançou a cabeça em sinal de amizade.- Fessora Angélica, desculpe a minha intromissão, mas sem querer ofender a senhora, posso perguntar uma pergunta?A professora Angélica, virou-se, ficando de frente com Seu Lairo, mas sem encara-lo diretamente, olhava apenas num dos cantos dos olhos, assentiu com a cabeça.- Pois não – Respondeu-lhe monossilabicamente, sem levantar os olhos da tábua negra de gordura acumulado pelas milhares de mãos e cotovelos que nele buscava apoio necessário pra uma longa conversa.- A senhora fez alguma coisa ao Seu Dico? Os olhos dela arregalaram-se, a boca fez um beiço de desprezo pela insinuosa pergunta .- Por que a pergunta? – Replicou rispidamente. Como não bastasse a brincadeira de mau gosto do primeiro, agora vinha Seu Lairo, na sua magreza cadavérica, com hálito de alho e tiquira a banhar-lhe o seu angélico rosto com uma pergunta sem nexo.- Bão, nós nos encontramos ai perto da porta, cumprimentei-lhe como acostumado e o homem nem respondeu, parece que soltava chispa pra todos os lados. E quando vou entrando topo com a senhora dando de peito comigo. Isso não é estranho.A fessora Angelica virou-se abruptamente, começando ao serviço de arrumar e despoeirar as mercadorias e as prateleiras.
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