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Tuberculose - VIII
R.N.Rodrigues

VIII

Não me canso de reler o antecessor deste caderno, é pena que não tenho dinheiro (e nem sei quando terei) para digita-lo, Ainda tem o problema não resolvido do e;mail e assim vai o meu calvário. Tio Biné chegou como sempre trazendo uma novidade.
- È de quantas polegadas? pergunta para minha cunhada ao ver a televisão que o patriarca comprou.
- É de quarenta – responde.
- A minha é trinta e seis.
A musica brega das antigas emana da nova televisão, sintonizando na Rádio Clube do Pará.
Dona Dalva, afável enfermeira do serviço, uma morena simpática agradável vai entrar de ferias.

Uma volta para espairecer um pouco. Primeiro no Cabeludo para saber as novidades. Vestido com a camisa do Sampaio Correa oferecia ingressos para o jogo de hoje a noite. Na praça, debaixo da frondosa amendoeira a rapaziada. Seu João da Cruz, Alan e Matraca sentados no banco de cimento. Seu Jailton Pé-de-Pato também sentado em frente e Gugu em pé com uma sacola na mão e logico uma garrafa de cachaça quase meiada. Minuto depois chegou Gatinho fumando. Dá um recado para Seu João que lhe entrega um DVD para vender.
- É cem reais, caralho - disse com ar irônico entregando a sacola na mão de Gato.
Conversa vai, conversa vem - Alan contava uma historia de um acontecido qualquer. Matraquinha piscando constantemente os olhos e balançando a cabeça como uma troira em cima de um muro tentava entender alguma coisa. É da minha idade, mirrado, de pequena estatura, ex-ajudante de pedreiro, é o primeiro que chega para beber uma água-benta no baiuca de Mundé. Gato apressado retornou agoniado com a sacola.
- O que foi, caralho? - Pergunta Seu João com a cara enfezada.
- Ele quer dá apenas cinquenta reais.
- Cinquenta, isso não é roubo. Comprei na loja com nota fiscal e tudo - Reclama irritado Seu João da Cruz - Ele tá pensando o quê?

Gato suado entrega a sacola, apanha o copo, serve-se de uma dose generosa e a bebe de uma só talagada, lambendo os beiços.
Enfim o descanso, datilografei quatro folhas.
Clarinha chegou ontem, as dez e meia da noite trazida pela mãe. A pequena Brunielle curiosa observava-me por trás da pequena e improvisada cortina que veda a janela do quarto de Larissa.
- Tio, o que o senhor está fazendo? - Perguntou-me com seu olhar meio estrábico
- Estou lendo.
- É português ou francês?
- Português.
Minha cunhada, a matriarca lavava as roupas no quintal O restante das meninas chegaram ainda pouco trazida pela mãe Danielle, até o pequeno Pedro Jorge ficou. Larissinha dividida entre fritar os peitos de frango e navegar na internet. O factotum deitado na cama do casal - Apanho o livro de Carlos Heitor Cony "Quase Memória" na estante apertada da sala do computador, foi um dos presente da poetisa Maday. A pequena Brunielle sentada na janela e as outras bagunçando na sala.

Aproveitei que as barracas do mercado estavam fechadas para pegar umas caixas de papelão. Heitor Cony, ou melhor, o pai dele era muito hilário. O rostinho infantil da pequena Brunielle emoldurada pela cortina olhava-me inocentemente.

- O senhor lê quantos livros? - Indagou-me com aquela maliciosa vozinha típica das crianças curiosas.
Conferi os que estavam na cama e o que leio fora o caderno verde que releio com imenso prazer.
- São quatro - respondi feliz pelo interesse da mesma.
- E o senhor lê tudinho?
- Não, um de cada vez.

Ela é a mais velha das meninas, morena simpática e as vezes bem comportada principalmente quando esta assistindo seus programas favoritos deitada no quarto escuro e abafado de Larissa - mas ai, desce o santo vira uma bagunceira, grita esperneia, aplica a leia nas outras - coisa de criança em formação.
- Oh! Tio, o senhor já leu tudinho? - espanto-me, cofio a barba. Ela torna desaparecer por trás da cortina. Roberto Carlos embala a típica tarde de sábado. Professor na farra. leio Cony e encanto-me sobre a vida do seu pai, assim como o meu velho e saudoso Bamba que um dia ainda vou escrever. Por enquanto me preparo com pequenos textos nesses cadernos exercitando a minha atrofiada mente. O pequeno Pedro Jorge tentando abrir o ferro da cancela dou-lhe uma advertência, espanta-se e volta para a a sala.
Sem perceber a noite chegou silenciosamente em minha triste alma, enquanto lia as ultimas paginas do livro. O segundo que leio num dia só. Ontem foi a vez de Fitzgerald "O Grande Gatsby" - na sala de jantar, as meninas concentradas jantam em silencio. Deixo uma banda da janela aberta, o velho rádio gravador em cima da tábua de engomar destila antigos sucessos das bandas de rock tupiniquins dos anos 80. Escrevo deitado de bruços no colchão, a irrequieta Brunielle dança sobre a cadeira em frente ao espelho pendurado na parede da sala de jantar. Larissa sempre estressada fala para as gurias que se divertem na pequena sala de estar. Ao reler o Caderno verde deu-me uma vontade louca de pedir a permissão ao Patriarca para utilizar o computador para digita-lo, mas desisti da ideia e deixo o tempo correr. Ultimamente venho melhorando os meus textos, sinto-me mais autoconfiante - mas depois caio numa depressão, o importante é escrever.
   - São seis e cinquenta e seis - anuncia o locutor de voz aveludada típico das FM - a posição me incomoda, dói os meus ombros. É como eu estivesse internado, passo mais tempo deitado, lendo ou relendo os livros. Levantei-me e coloquei Cony no lugar e apanhei Graciliano ramos "Vida Secas". Esses livros foram presentes da minha amiga Maday em 2009, quando pensei ter encontrado minha cara metade - Deu-me quase uns vinte livros, maioria de autores nacionais como Ramos, rosas, Amado, Montello, Ubaldo, Bandeira, Gullar, Oswald e Mario de Andrade. Outros forma emprestados e nunca devolvidos com "Folhas de relva" da pai da poesia americana Whitman


Biografia:
Sou ludovicense, serralheiro e adoro escrever. ja publiquei dois livros de poesias e agora estou publicando os meus poemas no site francês.
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Outros títulos do mesmo autor

Poesias Reflexão a meia luz R.N.Rodrigues

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Publicações de número 171 até 171 de um total de 171.


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