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Sobre a Vida Cristã – Parte 7
Calvino


CAPÍTULO II

Por João Calvino

Um Resumo da Vida Cristã – A Autonegação

Vamos ter sucesso, portanto, em mortificar a nós mesmos se cumprirmos todos os deveres relativos ao amor. Esses deveres, no entanto, não são cumpridos pela mera realização deles, embora nenhum deve ser omitido, a menos que seja feito a partir de um puro sentimento de amor. Pois pode acontecer que uma pessoa pode realizar cada um desses deveres, na medida em que o ato externo esteja em causa, e estar longe de executá-los corretamente. Porque você vê alguns que seriam considerados muito generosos, e ainda acompanhar cada coisa que eles dão com insulto, pela altivez de seus olhares, ou pela violência de suas palavras. E, a uma condição tão calamitosa como esta, chegamos nesta época infeliz, em que a maior parte dos homens quase nunca dá esmolas sem arrogância. Tal conduta não deveria ter sido tolerada mesmo entre as nações pagãs; mas de cristãos algo mais é requerido do que levar alegria em seus olhares, e dar atrativos ao exercício dos seus deveres pela linguagem cortês. Em primeiro lugar, eles deveria se colocar no lugar daquele a quem eles veem na necessidade de sua ajuda, e se compadecer do seu infortúnio como se eles mesmos a estivessem sentindo, de modo que um sentimento de piedade e humanidade deveria incliná-los a ajudá-lo como fariam a si mesmos. Aquele que possui tal mente, portanto, dará assistência aos seus irmãos, e não somente não marcará seus atos com arrogância ou repreensão, senão que não menosprezará ao irmão a quem ele faz uma gentileza, como alguém que precisava de sua ajuda, ou mantê-lo em sujeição como se estivesse em obrigação para com ele, assim como nós, não insultamos um membro doente quando o resto do corpo trabalha para a sua recuperação, nem considera isto como uma obrigação especial para com os outros membros, porque isto tem exigido mais esforço do que dado retorno. A comunicação de ofícios entre os membros não é considerada como em tudo que é gratuito, senão como o pagamento daquilo que sendo devido pela lei da natureza seria monstruoso negar. Por esta razão, aquele que tem realizado um tipo de dever não pensará para que finalidade o faz, assim, como é normalmente o caso quando um homem rico, depois de contribuir com um pouco de suas posses, delega os restantes encargos para os outros como se não tivesse nada a ver com eles. Cada um deveria, antes, considerar, que, por grande que seja, ele deve a si mesmo ao seu próximo, e que o único limite para a sua beneficência é o fracasso de seus meios. E a extensão destes deveria regular a sua caridade.

Traduzido e adaptado por Silvio Dutra.

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