A garota que vivia uma rua depois da sua, naquela época, era baixinha, com cabelos castanhos compridos, olhos grandes cor de chocolate e um sorriso derretido.
Ela era uma garota comum, apesar de tudo, mesmo vivendo uma rua depois da sua.
Ela tinha um irmão pequenininho, muito parecido com ela.
E você se lembra de que vocês adoravam implicar com ele? Que vocês adoravam brincar com ele? Ela sem dúvidas se lembra.
Ela se lembra de todas as tardes, de todos os dias, apesar de você não mencionar muito.
A garota que vivia uma rua depois da sua chorou com você, riu com você, se emocionou com você, e compartilhou segredos que ninguém jamais ousou imaginar.
Pois é, essa garota parece incrível, na verdade, ela é, nas suas memórias. E foi isso que ela se tornou: um sopro do passado.
Uma brisa agradável que você vê à distância, e que nunca tenta alcançar.
Ela foi o sorriso de tua face, um dos motivos de você se sentir feliz. E agora não é nada, apenas uma memória, uma escola, um giz.
A garota que vivia uma rua depois da sua se achava um máximo. Ela sabia, de fato, que não era. Ela era apenas uma garota, afinal. E garotas, segundo o mundo, não tem nada de tão legal.
Ela criava mundos enquanto você contemplava, se lembra? Ela lhe ensinava coisas que você um dia aprenderia. Ela te mostrou amigos que você um dia faria. Ela te mostrou mundos, e um deles o que você hoje pisa.
Mas você se esquece, não é?
De todas as musicas, risadas, filmes, pipocas e balas.
Você se esquece até do adeus.
Você se esquece da areia, do verão, do calor que quase te fez morrer.
Mas a garota que vivia uma rua depois da sua não se esquece. Nunca.
Todos os anos da sua vida, desde o momento em que vocês se viram, todos os amigos que vocês tinham, todas as histórias que vocês compartilhavam, todas as confusões em que se metiam. Tudo, hoje, numa mistura de esquecimento e nostalgia.
E talvez esse seja o curso das coisas, não é? Você não se lembra.
Pois, talvez, a vida seja tão momentânea e situada no presente que faz com que você se esqueça.
Ela chora ao se lembrar do seu rosto, seu sorriso, seu choro, porque sabe que não é recíproco, e isso dói em seu peito.
A garota que hoje não vive uma rua depois da sua não se esquece de nada disso. E talvez nunca vá, apesar de você não mencionar muito.
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