Por D. M. Lloyd Jones
Somos fracos, somos ignorantes, e estamos sujeitos à tentação; e necessitamos daquele que sabe disso, que pode compadecer-se de nós. Ouçam de novo o grande argumento da Epístola aos Hebreus: "Porque naquilo que ele mesmo, sendo tentado, padeceu, pode socorrer aos que são tentados" (Hebreus 2:18).
Embora não sendo as únicas, essas são as principais razões pelas quais era preciso que o nosso libertador fosse homem. Era preciso que fosse "nascido de mulher", pois todos nós o somos; era preciso que fosse "nascido sob a lei",pois todos nós estamos sob a lei. Essa é a grande proclamação do evangelho cristão: "Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei" (Gaiatas 4:4). Este é o primeiro ponto. Jesus de Nazaré foi homem como Moisés o foi. Ele foi, verdadeiramente, um ser humano, exatamente como nós o somos. Ele teve a vida de um ser humano neste mundo limitado pelo tempo, precisamente como eu e vocês estamos fazendo.
Mas notem que Moisés diz, "um profeta como eu", (ou, VA: "semelhante a mim") - similar e, contudo, diferente. Este é o ponto e esta é a mensagem de todo o Velho Testamento. É preciso que Ele seja homem, mas, se há de nos salvar, é preciso que seja mais que homem, e essa é a essência da proclamação cristã. O homem não nos pode salvar; posso provar isso para vocês. O primeiro homem foi perfeito e foi colocado num meio-ambiente perfeito. Entretanto caiu, e, se Deus tivesse criado outro homem perfeito, ele igualmente cairia. Não, não; é preciso que aquele que nos há de salvar seja homem, mas também que seja mais que homem, pelo que Moisés diz: "um semelhante a mim". É preciso que Ele seja mais que eu; ele será como eu em alguns aspectos, porém precisa estar acima e além. É preciso que ele venha "dentre vossos irmãos", é preciso que seja judeu, mas é preciso que seja mais que isso.
A nossa proclamação é que Jesus de Nazaré é Deus, o Filho eterno; é Deus e homem. Por que isso é essencial? Por que não foi suficiente que ele fosse apenas homem? Examinemos algumas respostas. Moisés era muito bom homem, mas era só homem; e, como somos levados a lembrar em Hebreus, capítulo 3, versículo 5, ele era apenas servo. Era um bom servo, "fiel em toda a sua casa" como servo, mas não era mais que isso. Ainda mais, ele era um servo falível, um servo que falhou e pecou. Moisés nunca entrou na Terra Prometida. Ele levou os filhos de Israel até lá, mas não mais longe. Ele já havia transgredido mandamentos de Deus. Era homem, sim, e homem semelhante a todos nós; ele falhou, ele pecou e desobedeceu; e por isso foi incapaz de conduzir finalmente o povo para dentro da Terra Prometida.
Não somente isso, Moisés só tinha um conhecimento parcial. Ele sabia o que Deus lhe tinha revelado, mas não sabia mais que isso. As vezes até disso ele se esquecia. Portanto, Moisés tinha limitações.
Outro aspecto igualmente claro é que Moisés era limitado quanto ao seu ofício. Ele foi legislador, foi mestre, foi guia, mas isso não foi suficiente. Também era necessário um sacerdócio, e um sumo sacerdote que entrasse uma vez por ano no Santo dos Santos, no templo, para representar o povo. Moisés não podia fazer isso; essa obra foi confiada a seu irmão Arão. A capacidade de Moisés era limitada, e ele só podia ocupar um ofício. Por isso ele diz, "um semelhante a mim" - Ele será aquilo que eu sou, mas será mais, porque mais é necessário.
E depois, como se argumenta no grandioso capítulo nove da Epístola aos Hebreus, há o fato de que o ensino geral de Moisés, com tudo mais que ele apresentou, foi tão-somente um expediente temporário. Bem, precisamos falar sobre isso com absoluta clareza. Era nestas coisas que os membros do Sinédrio se gloriavam, e eles estavam rejeitando Cristo. No entanto, examinem aquilo em que eles se apegavam! Vejam a lei. Uma parte de todo o problema deles era que não percebiam que a Lei não pode salvar ninguém. A Lei só nos pode dizer o que fazer; não pode dar-nos o poder que nos capacitaria a fazer o que ela diz. Por isso o apóstolo Paulo escreve aos romanos sobre "o que era impossível à lei, visto como estava enferma pela carne..." (Romanos 8:3). Moisés se levantara diante do povo e praticamente dissera: "Cumpram estes mandamentos, e vocês serão salvos". A Lei deixa conosco: "Não matarás. Não adulterarás. Não cobiçarás". "Amarás o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de toda o teu entendimento e de todas as tuas forças, e a teu próximo como a ti mesmo." Tudo ótimo, mas você pode fazer isso? A Lei diz: "Faze isto, e viverás". Mas ninguém pode fazer isso. Portanto, como já vimos, a Lei nos deixa condenados, sem esperança e desamparados, e nos diz que precisamos ser libertados.
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