vermelho |
Ulisses Borges |
de repente invento um jeito fatal de te olhar
como quem não quer nada querendo tudo
só para ver se venta. pode ser também
que eu te arranque os olhos grandes da cara
e os coloque no lugar dos meus
para que com eles eu te olhe sob o teu olhar
numa noite morna como essa
abafada e sem razão
quem disse que era preciso?
se desde sempre entre nós não houve lógica
que o que sentimos não era divisão
entre braços intrusos
mãos que escorregam sempre bobas
à procura de um canto pelo corpo
olhamos
porque ainda são vermelhos os olhares e o desejo:
boca que tu pintas só para veres manchar o cigarro.
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