A Festa do Divino: Espaço de Sociabilidade, Religiosidade e Lazer.
A Festa do Divino Espírito Santo ocorre sempre no mês de maio. É um legado cultural português e comemorado em alguns estados brasileiros. Nesta festividade as comunidades luso-brasileiras arrecadavam donativos e animavam a população paulistana. O evento sofreu a perda de alguns elementos, mas os descendentes conseguiram manter a religiosidade lusitana através das manifestações criadas e recriadas no espaço demarcado. Essas manifestações ocorrem em algumas cidades do interior do estado de São Paulo e também na Zona Leste da capital, onde ainda prevalece acultura açoriana.
Foi na zona Leste de São Paulo, onde foi realizada a primeira Festa do Divino em maio de 1974. A Festa teve como objetivo dar maior visibilidade à memória e as tradições da cultura açoriano. A organização e a promoção da festa ficou a cargo da comunidade açoriana da zona leste de São Paulo como a Vila Carrão, Vila Progresso e do bairro XV de Novembro.
Em 1980 foi criada em São Paulo a Casa dos Açores, objetivando reunir num território demarcado um maior número de açorianos e seus descendentes. Neste espaço são organizados alguns eventos religiosos e gastronômicos, propiciando assim, um território próprio para a socialização, manifestações culturais e preservação da memória açoriana.
A Festa do Divino dura 7 semanas, iniciando-se no Domingo de Páscoa. Uma das atividades durante os festejos, são as rezas diárias do terço, cantada alternadamente por homens e mulheres da comunidade. A Bandeira e a Coroa, são os símbolos do Divino e no último domingo de festa são levados a diferentes casas. Nesta data são estipuladas as casas em que ocorrerão as rezas e demais rituais da festa.
Nessa mesma época acontece a Folia do Divino, que são cantorias feitas de improviso por repentistas, que vão recolhendo e agradecendo a comunidade pelas doações arrecadadas durante a festa. São levadas também comidas típicas da gastronomia açoriana doadas pelos colaboradores da festa.
A procissão sai da Casa dos Açores em direção a Igreja Santa Marina, onde é realizada a missa em louvor ao Divino Espírito Santo. Nesta ocasião, sete crianças são coroadas e dão bênçãos aos presentes em nome do Divino. São apresentados também, grupos folclóricos que cantam cantigas portuguesas.
A representação da cultura açoriana através dessas manifestações fortalece a identidade e o elo entre o passado e o presente, estabelecendo um vínculo social, político e cultural dessa comunidade. Na Casa dos Açores ocorrem manifestações culturais que referenciam às festas coloniais antigas e onde o povo se diverte, mantendo a tradição dos antigos açorianos.
COMENTÁRIOS SOBRE A FESTA DO DIVINO
A Festa do Divino é um convite para reviver e relembrar as antigas tradições açorianas, que mesmo modificadas, ainda conservam a sua identidade original. Mesmo mantendo a tradição pagã, a Festa do Divino faz parte dos rituais religiosos, pois utiliza a Igreja como local de coroação das crianças. Fica fácil perceber que este evento representa a cultura dos antigos açorianos, que ao chegarem no Brasil acabaram se mesclando com as populações aqui residentes, dando um toque abrasileirado à festa. Desse modo, mesmo perdendo um pouco a sua antiga identidade, a festa ganhou um acréscimo de grupos folclóricos que dão um brilho todo especial deixando claro que se um sentido de identidade se perdeu, mas ganhou-se outro, talvez até mais rico.
Esta festa se espalhou por alguns lugares do Brasil, especialmente na Vila Carrão e outras localidades da Zona Leste da cidade de São Paulo. Nestes locais percebe-se que a festa tem o objetivo de juntar o grupo luso-açoriano e brasileiro luso-descendentes. Essa união festiva faz com o elo entre o passado e o presente se mantenha vivo e com perspectivas futuras muito positivas, mostrando que uma cultura não morre, mas se modifica. A Festa do Divino está inserida nesta cultura e permite uma reconstrução do passado no presente, preparando espaço para as futuras gerações futuras que vão continuar se deliciando com o evento.
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