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O ENCONTRO
O ocaso levava mais um dia a seu fim. Era mais um, e mais um, e mais um que Diego Lopez sentava-se naquela rocha e observava o dia terminando, quando o sol se escondia para além mar. Era assim por vários dias, que o jovem fitava o horizonte imaginando a cada momento como seria lindo se o sol continuasse por mais um tempo. Se o dia não acabasse. Se a escuridão fosse sempre suprimida pela luz.
Véspera de feriado, quinta-feira, anoitecendo. Supermercado cheio. Lopez não tinha uma vida agitada. Morava na cidade grande, sozinho. O pai falecera há alguns anos e a mãe, já idosa, morava no interior junto aos irmãos de Diego. São quatro filhos. Tímido, romântico, o garoto agora com vinte e sete anos, viveu na pequena San Pablo de los Montes até os vinte e dois. Estudou engenharia na capital e agora desenvolvia um grande trabalho no litoral, em Punta del Sur.
Lopez havia dado uma observada muito discreta, mas discreta de verdade para um rapaz que enchia o carrinho de compras. Diego comprava apenas frutas, legumes e biscoitos. Alejandro Santiago não é o tipo que passa sem ser notado. Alto, cabelos estilo garotão, calça apertada e camisa branca, curta, quando levantou os braços para apanhar uma lata de sucrilhos, que estava no alto da prateleira, mostrou parte do definido abdômen, bem à frente do tímido Diego que não pode deixar de perceber. Santiago fez de desentendido, mas notou o olhar do rapaz que andava com a cesta de compras e desviou logo em seguida ao ser denunciado pelos olhos.
Santiago seguiu para o caixa, fila única, de forma que todos passariam por ela, ao perceber que Diego fazia o mesmo, vindo logo em seguida.
__ Boa tarde, sou Santiago, Alejandro Santiago. Prazer – disse ao estender a mão para o jovem que o cumprimentou, sem ao menos olhar para cima.
__ Boa tarde, Diego Lopez.
__ Notei que você tem poucos produtos, se quiser, pode passar à minha frente, não tenho pressa, e afinal, estou com um carrinho bem cheio, vai demorar.
__ Não, obrigado. A fila aqui não costuma demorar.
__ Você vem sempre aqui? Mora aqui perto?
__ Sim, moro a duas quadras daqui, não é longe.
__ Eu também não moro longe, estranho nunca ter visto você.
Alejandro ia fluindo a conversa enquanto os cinco ou seis clientes ainda estavam à frente. Diego era mais monossilábico, pois estava já trêmulo de vergonha, pois percebeu que o rapaz que lhe chamara atenção no corredor, agora estava todo simpático com ele. Sua pele branca, estava agora avermelhada, condenando sua timidez.
Realmente, a fila era rápida, não tanto como de costume, pois nos feriados, muitos viajam ou organizam festas e lá se vão às compras.
__ Você parece um garoto fitness – continuou Santiago tentando render conversa – vejo apenas vegetais.
__ Talvez – respondeu em meio a um sorriso tímido e trocando as mãos ao segurar a cesta – é que não vou fazer nada nesse feriado e não terei visita. Se me der na telha, amanhã vou visitar minha mãe, que mora em Los Lagos.
__ Los Lagos? Sim, conheço. Tenho amigos lá. Qualquer dia podemos ir juntos, o que acha?
__ Sim, podemos – disse com um sorriso sem graça.
__ Você nasceu lá? Lá é lindo de verdade.
__ Não. Eu nasci em San Pablo de los Montes, perto. Minha família se mudou depois do falecimento do meu pai.
__ Ficou muito bem em você essa bermuda azul clara com essa camisa preta. Combinação perfeita.
Lopez não estava compreendendo o motivo de aquele rapaz estar conversando com ele. Sempre silente, nunca é de conversar, ainda mais com rapazes. Não passava pela sua cabeça que Alejandro o estivesse flertando, e simplesmente estava sendo gentil. Lopez, todo tímido, havia namorado um rapaz na capital, que dividia com ele um quarto de pensão. Não durou muito, pois Henrique exigia que Diego o acompanhasse em festas, mas o pobre menino ficava sempre sem jeito, ainda mais que era anunciado como namorado o tempo todo. Não posso esquecer-me de mencionar que Henrique era lindíssimo. Moreno, pele cor de chocolate, cabelos crespos ao estilo black power, porém mais baixo e mais comportado, tinha o mais belo dos sorrisos. Bonzinho. Gostava de verdade de Diego Lopez. Este, no entanto, não conseguiu suportar a ativa vida social do namorado. Uma pena. Eu pegaria aquele homem sem a menor cerimônia. Diego também é maravilhoso. Perdi as contas de quantas vezes tentei ficar com ele. Era o garoto mais bonito da escola. Foi um baque quando ele me contou, ao se sentir completamente acuado, que era gay. Meu Deus, meu mundo desabou naquele dia. O chão sumiu dos meus pés. Mas passou, no fundo eu já sabia, mas quem não quer esse Lopez. Cabelos pretos levemente ondulados, sorriso inocente, não muito alto, cheio de vida e ainda por cima o mais inteligente em física e química. Matemática nem falo, porque ele nunca errou nada. Quando entramos na casa dos quinze anos, chegou de uniforme novo na escola, com uma calça mais apertada que o de costume. Todos repararam e comentaram. As meninas fariam fila para ele. Mas enfim... só mesmo o Juan poderia pega-lo. Bem que tentou, mas Diego, de tanta timidez nunca deixou o menino se aproximar. Hoje, nos seus vinte e cinco anos, ele ainda chama a atenção. Minha, inclusive.
Ah, desculpe, não me apresentei. Prazer, Rúbia Sanchez. Sou a melhor, e creio que única, amiga de Diego. Apenas eu conheço aquele coração maravilhoso. Fomos colegas na escola desde os primeiros anos. Defendi meu amigo de muito bullyng. Ele sempre baixava a cabeça e ficava calado. Eu não deixava, ia pra cima mesmo. Sua louca, ele sempre dizia. E sorria. Tão inocente, tão bom. Quero que ele se sinta muito amado. Mas voltemos ao supermercado.
Súbito, Alejandro perguntou o telefone do Diego, que timidamente ditou os números.
__ Está salvo Diego. Salva o meu número e assim que for em Los Lagos me chama. Gostaria de ir. Estou sem carro, mas podemos ir de ônibus, afinal não dura nem duas horas de viagem.
__ Tudo bem – sorriu um pouco mais confiante – eu tenho carro. Quando eu for aviso sim. Como disse, talvez eu vá amanhã.
__ Amanhã não vou poder. Tá vendo o carrinho né, cheio de coisas. Vou receber dois sobrinhos e um amiga neste fim de semana. Querem curtir uma praia, mesmo com esse friozinho. Se você não for, está convidado para jantar conosco amanhã. Vamos fazer pizzas. Júnia as faz com maestria.
__ Sim, obrigado. Decidindo eu te falo.
__ Combinado então. Pois é. A gente mora tão perto e nunca nos vimos. Gosto de novas amizades, de conhecer pessoas...
E enquanto falava, Alejandro Santiago lembrou-se de que havia esquecido de pegar queijo. Faltavam duas pessoas à sua frente na fila.
__ Esqueci uma coisa. Diego, você pode ir passando minhas compras caso chegue minha vez? Vai ser rápido, não demoro.
__ Claro. Fique à vontade, qualquer coisa eu passo os meus e aguardo você.
Nisto, o rapaz se apertou na fila para voltar aos corredores. Nesse momento, esfregou-se involuntariamente, involuntariamente mesmo, no peito de Lopez. Por um segundo, Diego ficou ofegante e sentiu o perfume irradiante que Santiago exalava. Foi à lua e voltou.
CONTINUA...
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