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REUNIÃO DOS BRINQUEDOS
FLAVIO ALVES DA SILVA

Resumo:
O texto mostra uma disputa entre os brinquedos de antigamente, com os brinquedos de hoje. Quais os brinquedos que ganharão essa disputa? Os brinquedos de antigamente, os os brinquedos de hoje?

REUNIÃO DOS BRINQUEDOS

Texto: Flávio Alves
Cenário: Casa do Livro

PERSONAGENS:

Livro          -     Computador
Boneca     -             Televisão
Bola          -     Celular
Pipa          -     Controle Remoto
Pião          -     Carrinho

OBS. Dez Personagens para Cinco atores.


LIVRO – (Reclama do atraso dos brinquedos e anda impaciente pra lá e pra cá) Não é possível! É inadmissível essa situação! A reunião foi marcada pras oito e até agora nada dos brinquedos. Já são nove horas e eu odeio atraso, e logo hoje que acordei com dor de cabeça, aí, ai, ai, e tudo por causa daquele menino chamado Victor, aquele menino malcriado que não gosta de ler. Chegou aqui, me pegou de mau jeito e começou a folhear minhas páginas, virava pra um lado, virava pra o outro, zangado com a mãe porque a mãe dele pediu pra ele sair um pouquinho da frente do computador, a mãe dele falou: Victor saia já da frente desse computador e vá ler um livro e eu é que fui o escolhido. Agora pergunto: que culpa tenho eu? Ele só faltou arrancar minhas páginas com tanta raiva que tava e quando começou a ler, foi aquele desespero e decepção, ele gaguejava bastante e isso me deixou com essa horrível dor de cabeça. Todas as vezes que alguém não ler direito e fica gaguejando parece que minha cabeça vai explodir, ai, ai, ai, minha cabecinha!...

BONECA – Bom dia seu livro! Desculpe meu atraso. Na realidade a culpa não foi minha. Fui dada de presente a uma menina muito cuidadosa e ela começou a brincar comigo às sete horas e me largou faz pouco tempo, porque ela precisava ter que ir à escola, mas quando for onze horas vou precisar voltar porque é nessa hora que ela está retornando, e se ela não me encontrar, vai ser aquele chororô.

LIVRO – Eu entendo, eu entendo perfeitamente. Mas onde estão os outros?

BONECA – Olhe seu livro, é o seguinte: quando eu tava vindo, vi a bola louca, sendo chutada por um bocado de menino, e todas as vezes que ela era chutada, ela gritava, saltava, e dava risos de felicidade.

LIVRO – Mas isso é uma afronta! Todos os brinquedos estão sabendo da importância que tem essa reunião.

BONECA – Pois é seu livro, eu sei disso. E pra o senhor que não sabe encontrei também alguém me chamando, uma voz de longe dizia: Boneca! Boneca! E quando eu olhei pra o alto, vi a pipa perto do sol toda brilhosa e colorida que me falou: diga ao senhor livro que estou me bronzeando e já, já estarei chegando.

LIVRO – Não é possível uma coisa dessas! Logo a pipa que faz todas as atas das reuniões! E o tesoureiro, você viu ele também?

BONECA – Olhe seu livro, vou lhe contar, mas isso é um segredo. O pião que é nosso tesoureiro acho que ele vai faltar essa reunião. Sei não viu! Encontrei ele vomitando tanto! Chega tava zarolho de tanto rodar, rodou, rodou, rodou, não agüentou e caiu tonto e vomitando.

LIVRO – Mas isso é um verdadeiro absurdo! Onde já se viu brincar rodando desse jeito? Brincadeira tem limites e eu como o presidente não vou permitir que isso aconteça novamente. Até o carrinho de madeira que sempre chegou na hora, não chegou até agora.
BONECA – O carrinho de madeira essa já, já, ta chegando, uma rodinha da frente caiu e ele tava sendo consertado. Falando nele, olha aí! Ele chegou!

CARRINHO – (Chega bastante cansado) Bom dia seu livro! Bom dia boneca! Cheguei atrasado porque... (corta o livro).

LIVRO – Já sei, já sei, não precisa se explicar, a boneca já me falou sobre o seu problema.

CARRINHO – É que meu dono tava apostando corrida e com a pista cheia de buraco, quebrou minha roda dianteira.

BONECA – E os outros, você viu os outros?

CARRINHO – Bem, a pipa e a bola estão vindo aí, mas o pião sei não viu! Ta numa situação de fazer dó, mas eu acho é bom pra ele aprender. Passei por ele um dia desse e disse pião, pião, roda menos, roda menos, mas ele foi mal educado e disse cuida das suas rodas velhas que vivem caindo que eu sei cuidar de mim.

LIVRO – Vamos fazer o seguinte: se o pião não aparecer (para o carrinho) você vai assumir o cargo dele.

CARRINHO – De jeito nenhum seu livro! Detesto pegar em dinheiro e notas fiscais e se isso acontecer, primeiro tem que se fazer uma prestação de contas.

BONECA – Seu livro, isso foi só um acidente, o pião nunca rodou tanto assim, der mais uma chance a ele, afinal ninguém é melhor do que ele na função, pois ele é de muita confiança e super organizado.

LIVRO – É, pensando bem, ele nunca rodou além dos seus limites, vou dar uma oportunidade, (alegres boneca e carrinho) mas se a pipa não vier, (para a boneca) a senhorita que será a secretária e irá escrever a ata da reunião. (entra a pipa).

PIPA – Escrever ata de reunião coisíssima nenhuma seu livro, não será preciso, já cheguei e vou assumir o meu posto de secretária. Ora! Ora! Não se pode mais pegar um bronze? E logo hoje que o sol amanheceu tão bonito? Tenha calma senhor livro que o stress não é bom pra seu coração.

LIVRO – Mas olha só o atrevimento da pipa! Chega atrasada e ainda fica cheia de direito é?

PIPA – Que culpa tenho eu, se meu dono acordou cedo pra pegar os melhores ventos? E tem mais: demorei porque o meu dono ficou passando cerol no meu rabo e no meu cabresto pra eu ficar ainda mais brilhosa.

TODOS – Cerol!!!

PIPA – Isso mesmo, cerol sim. Vejam como estou toda brilhando!

CARRINHO – Na minha rua um menino morreu quando tava andando de bicicleta, não foi boneca?

BONECA – Não sei direito, mas escutei uns comentários.

CARRINHO – Foi sim. A mãe dele mandou ele comprar pão aí tinha outro menino soltando pipa na rua melada de cerol, e quando ele passou de bicicleta não viu a linha, e a linha, pei, buf, cortou o pescoço dele, e ele morreu na horinha.

LIVRO – Essas coisas não podem acontecer. (entra a bola)

BOLA – Pois é, mas aconteceu. Primeiro bom dia pra todos e desculpem meu atraso. E não precisam me olhar assim. Cheguei atrasado porque uma partida de futebol dura 45 + 45 minutos, mas só que o jogo acabou empate e teve a prorrogação. Ai! Como adoro levar chute? Mas estou triste, porque o menino que morreu era justamente o mais que me chutava ele era o melhor do time.

PIPA – Tenho cerol no meu rabo e no meu cabresto sim, mas eu posso jurar que eu nunca matei ninguém, por isso ninguém pode por a culpa em mim.

BONECA – Mas ninguém ta colocando a culpa em você sua tonta, só estamos falando que alguém morreu e que é preciso tomar cuidado.

CARRINHO – Eu já acho que o melhor mesmo é acabar de vez com o cerol pra se evitar tragédias como essa. Já imaginou o sofrimento da mãe, do pai e dos irmãos desse pobre e inocente menino que morreu?

LIVRO – Isso mesmo, o carrinho falou bonito. Pra se divertir não é preciso agredir ou machucar ninguém.

PIPA – Mas o cerol é só pras pipas derrubarem umas as outras quando estão competindo no ar, assim a brincadeira fica mais divertida.

BOLA - É por isso que eu sou mais eu, não machuco seu ninguém. Todo mundo me chuta e eu não chuto ninguém e acho ótimo (sorrir). Como é bom sentir vinte e dois homens bringando por minha causa, chuta pra lá, chuta pra cá, que delícia!

CARRINHO – Então a pipa deve jurar de não mais deixar passar cerol no cabresto e no rabo.

LIVRO – Isso mesmo, então vamos começar o juramento, vamos lá dona pipa, repita comigo: Eu a pipa, juro e prometo não mais fazer uso do cerol em qualquer parte do meu corpo. E já que você é a secretária, coloque o juramento na ata da reunião e assine em baixo.

PIPA – Mas e o livro? Onde ta meu livro ata? Quem foi o engraçadinho que pegou?

BONECA – Eu não fui.

BOLA – Nem eu.

CARRINHO – muito menos eu.

LIVRO – Calma pessoal! O livro ata está aqui, eu guardei. (entrega).

CARRINHO – Sim, antes de começar a reunião, eu quero lembrar que o cerol pode também aleijar e deixar a pessoa cega.

BONECA – Vocês sabiam que o cerol é feito do pó de vidro, principalmente de lâmpadas fluorescentes? E aquele pozinho da lâmpada, pode cegar se passar as mãos nos olhos e mais outros problemas de saúde. (Entra o pião com náuseas e tonto).

PIÃO – Onde é que estou? Ta tudo rodando na minha frente. Deixei a ponteira lá jogada no chão e saí correndo, cambaleando pra todo lado, mas eu vim pra não perder a reunião. (Faz gestos de querer vomitar).

BOLA – Tenha calma que além de bola fiz faculdade de enfermagem e vou por em prática minha experiência. Vou pegar um remedinho pra você e logo, logo você estará boazinha. (Sai a bola).

PIÃO – Gente pelo amor de Deus me entenda, eu não tive culpa seu livro, juro que eu não tive. Tentei sair cedo de casa, mas o meu dono quando começa a brincar não quer parar de jeito nenhum.

LIVRO – Tudo que é feito em exagero não é bom. A mãe desse menino que ficou rodando você tem que ensinar ao filho que existe hora pra tudo.

PIÃO – Inclusive seu livro, não só foi hoje que ele ficou me rodando não, ontem eu fui rodado o dia inteiro e só parava quando meu dono ia fazer as refeições. (chora) minha vida ta um inferno! (Todos consola o pião). E tem mais, meu dono há três dias que não me deixa em paz, até a ponteira que é minha amiga e está sempre enrolada no meu corpo, também ta cansada de ser enrolada e desenrolada. Meu dono ta há três dias sem ir à escola, só quer saber de ficar me rodando com os amiguinhos dele.

LIVRO – Isso não pode acontecer! Onde já se viu uma coisa dessas! Esse menino precisa de um castigo. Onde já se viu deixar de ir à escola? E eu como o livro, onde fico nessa estória? Se ninguém for à escola eu vou mofar na estante, nas mochilas escolares e nas bibliotecas.

CARRINHO – Tenha calma seu livro, na sua idade é bom ter cuidado com o coração. Não é bom ter emoções fortes.

PIÃO – (Tenta vomitar) Ai, ai, ai, ta tudo rodando na minha frente, to suando frio, ai meu Deus, vou morrer.

BONECA – Mas cadê a bola que não chega logo com esse bendito remédio?

BOLA – (Entra a bola com uma seringa de injeção gigante) Calma pessoal, calma, que eu tava preparando a dosagem certa. No braço ou na poupança? (O pião faz um exagerado escândalo)

PIÃO – Não, não, não, pelo amor de Deus injeção não!!!

LIVRO – Mas é preciso e você está doente. Segurem ele. (seguram o pião a bola aplica a injeção e sai pra guardar a seringa retornando á cena).

PIÃO – Vocês não são meus amigos, você não tem coração. Ai, ai, ai, minha poupancinha!

LIVRO – Somos seu amigo sim, por isso aplicamos a injeção pra você melhorar.

BOLA – Isso mesmo e dentro de cinco minutos você vai está bonzinho.

CARRINHO – Mas pra que foi convocada essa reunião com tanta pressa seu livro?

BONECA – O carrinho tem razão, eu não estou entendendo patavina nenhuma.

BOLA – Fui pega de surpresa também, e fiquei curiosa pra saber o motivo.

PIPA – Quando o senhor livro convoca uma reunião extraordinária isso quer dizer que vem bomba por ai.

LIVRO – Bem pessoal: realmente é bastante sério o que tenho a falar pra vocês e se não tomarmos cuidado, estaremos futuramente liquidados de vez, e se isso acontecer, pra a gente será o fim do mundo.

PIÃO – Não fale assim que tenho medo, ai, ai, ai, ta tudo rodando novamente, acho que tenho febre.

BONECA – Meu Deus! Será a febre suína?

CARRINHO – Se for, tem que ficar isolado.

PIPA – Então é melhor procurar um médico urgente.

LIVRO – Então sendo assim, é melhor não arriscar. Vamos fazer o seguinte: o pião será dispensado, ele vai ao médico e a bola que é formada em enfermagem vai acompanhá-lo e a reunião continuará com o carrinho e a boneca. Depois passamos as informações pra vocês, ta bom assim?

BOLA – Pode deixar que eu levo o pião ao médico seu livro. Vamos pião. (Saem).

LIVRO – Pessoal estou muito triste com tudo que está acontecendo, tem muitos garotos e garotas que estão me abandonando. Antigamente tinha os gibis, os livrinhos de contos de fadas, as estoriazinhas de João e Maria, Branca de neve, Alice no país das maravilhas... Todo mundo se divertia e passavam horas folheando minhas páginas, mas agora os meninos e as meninas só querem saber de ter um controle remoto nas mãos, olhar televisão, ficar em frente do computador, ou jogando os joguinhos no celular e mandando torpedos. Me sinto um velho livro sem valor.

BONECA – E eu, que antigamente até de pano me encontravam! Nas feiras principalmente. Todas as meninas adoravam me botar nos braços. E fiquei muito tempo na moda. Eu já fui a Barbie, a Suzi, e hoje me sinto abandonada, e a culpa é da televisão, aquela amostrada. Chama todo mundo pra ficar na frente dela ai ela fica se exibindo. Eu acho é bom quando o controle cala a boca dela ou deixa ela desligada.

CARRINHO – Todos os eletrônicos são farinha dos mesmo saco. O controle remoto também não é tão bonzinho assim não, ele se acha o todo poderoso e quer controlar a vida de todo mundo, ainda bem que ele não tem poderes sobre nós. Por outro lado acho até bom ser um brinquedo comum. O pião adoeceu porque rodou demais, a pipa tem problema do cerol, minha roda se quebrou, ás vezes a perna da boneca também ou o braço se quebra, mas pra tudo tem conserto e assim somos felizes. Mas temos que dar um basta nisso, não podemos permitir que os eletrônicos ocupem o nosso espaço.

LIVRO – É por isso que estamos aqui e vamos pedir a todas as crianças pra que elas não nos abandonem e não esqueçam da gente. Mudando de assunto, acordei bem cedo e estou com fome. Vamos pra minha outra sala e lá tomamos um achocolatado com torradas e já, já voltamos. Vamos relaxar um pouco. (Saem, entra a televisão).

TELEVISÃO – Mas onde é que se meteu aquele livro velho, feio, ultrapassado e empoeirado? Que lugar horroroso! Parece até com os meus filmes de terror. Eu sinto algo sujo no ar. Alguma conspiração sórdida contra os brinquedos eletrônicos está pra acontecer ou está acontecendo. Eu sou feito urubu, cheiro de coisa podre eu sinto a distância e minha intuição de televisão não falha. Tenho certeza que aquele livro velho e aquela boneca ridícula estão armando alguma coisa pra cima dos eletrônicos, aqueles invejosos... A desocupada da pipa só vive voando e não faz nada, o carrinho de madeira é outro imprestável que já deveria ter ido pra o fogo, a gorducha da bola que é uma masoquista e se sente feliz sendo chutada um dia ela vai murchar, a demora é eu encontrar um prego. E por último vem o tonto do pião que parece mais um louco rodando sem parar. Bem: eles podem fazer o que quiserem o problema é deles. É lógico que a criançada jamais vai deixar de ver meus programas infantis. Eu amo quando as crianças ficam na minha frente hipnotizadas olhando meus desenhos, eles deixam de ir até a escola pra ficarem na minha frente me adorando. E pra quê ir à escola não é verdade, Se eu sou uma excelente professora, não é mesmo? Tenho canais com jogos maravilhosos, excelentes novelas, belíssimos filmes, isso sem falar dos programas culinários, programas policiais, programas de auditórios... Eu tenho tudo, sou completa, sou divina, sou linda, sou maravilhosa, sou digital e super moderna com um alto padrão e definição de som e imagem. Não tenho mais aqueles chuviscos horrorosos. E olhem minha voz, posso até cantar, querem ver só? Do, Re, Mi, Fa, So, La, Si, Do, Do, Si, La, So, Fa, Mi, Re, Do! Estão vendo como sou ótima? (Entra o Controle Remoto).

CONTROLE – Não é possível! Eu o controle remoto já passei de casa em casa a sua procura e encontro você aqui. Seu lugar é na sala é lá que ficam as crianças.

TELEVISÃO – Oh! Que horror! Assim você ofusca o meu brilho e meu glamour. Pra que eu ficar na sala se aqui ta cheio de crianças.

CONTROLE – Êita! É verdade, eu não tinha percebido, tem muita criança mesmo, mas mesmo assim você não deve esquecer que seu lugar é na sala. Não quero e nem admito você andando pra todo canto. Você fala demais e acredito que você já falou muita coisa que não devia, por isso tenho que ficar lhe controlando.

TELEVISÃO – Será que dar pra você deixar de pegar no meu pé? Ora bolas! Maldita hora que foram lhe inventar também. Hoje eu sou mais completa, mais avançada com minha voz estéreo e minhas cores belíssimas, mas sabia que às vezes eu preferia ser preto e branco? Pelo menos não tinha você no meu pé me controlando toda hora, todo instante.

CONTROLE – Nem mais uma palavra sua insolente! Por isso vou lhe dar um castigo e vou baixar o seu volume, você vai ficar sem voz. (O controle vai baixando até ela ficar muda).

TELEVISÃO – Não, não, pelo amor de Deus não, minha voz não! Por favor, eu peço desculpas, não, não, não...

CONTROLE – Pronto! Agora você vai ficar calada e deixar de ser uma televisão amostrada. Vida triste essa minha, ter que ta controlando quase tudo, se só fosse a televisão era bom, mas tem DVD, aparelho de som e outros, e eu não tenho sossego. (A televisão faz gestos). E se você ficar gesticulando, vou lhe desligar por completo. (A televisão diz não com gestos). Ta bem, então é melhor você ficar aí quietinha. Me espere. Já que estou aqui, vou procurar o senhor livro e propor um acordo com ele pra acabar de vez com essa guerra entre brinquedos e eletrônicos. (Sai o Controle, entra o Computador).

COMPUTADOR – Bom dia! Excelente dia pra todos! Mas o que está acontecendo? (para televisão) por que você não está na sala? Lá não é o seu lugar? Cadê seu som? Perdeu a voz foi? Ah! Já estou entendendo! Já vi que o Controle passou por aqui e baixou seu volume, acertei? Sorte sua ele não ter lhe desligado totalmente. E eu avisei: televisão, televisão, só porque tu agora és digital, não vai ficar por aí dizendo que é a melhor, olha ai o resultado! Mas eu estou com pena de você e vou lhe ajudar, vou apertar na sua tecla de volume e tudo será resolvido, mas você vai me prometer falar só o necessário. (tenta) mas não é possível! A sua tecla de volume e as outras teclas estão bloqueadas, agora só mesmo com o Controle. Tais lascada nêga, agora tem que esperar. Hoje eu estou é ótimo, fui totalmente formatado. Peguei uns vírus pesados, cavalo de tróia e outros, mas agora estou melhor. O povo fala que computador é perigoso (rir) eu perigoso? Nunca fiz mal a seu ninguém, o povo que me faz mal, fica batendo papo nos sites de relacionamentos, baixando jogos e, músicas sem saber se é seguro e outras coisas, me enche de vírus, me deixa doente e eu é que sou o ruim. Se souberem me usar direitinho garanto que não vou criar problemas pra seu ninguém. Ajudo até as crianças nas tarefas escolares. O que me deixa triste é a criança sem compromisso, que esquece de tomar banho, de escovar os dentes, de ir à escola. Deixa até de brincar com outros brinquedos pra está em minha frente me admirando. Eu gosto de ser admirado, mas quero o melhor pra todo mundo. Tem criança que fica com problema de visão e passa a usar óculos fundo de garrafa por ficar muito tempo na minha frente e isso não é bom. Não sou como essa aí oh! (aponta pra televisão) Foi se amostrar de mais, terminou ficando sem voz. (A televisão faz gestos). O que você quer falar? Já sei, entendi, como é mesmo? Você ta dizendo que o Controle está aqui? (para platéia) É isso mesmo que entendi crianças? O Controle está aqui? (para a televisão) E o que ele veio fazer aqui (a televisão gesticula). Falar com o senhor livro? (para platéia) è isso mesmo pessoal? (para televisão) Mas me diga o que ele veio fazer aqui (a televisão faz gestos). Como é? Ele veio aqui propor um acordo de paz com os brinquedos comuns? (para a platéia). É isso mesmo pessoal? A Televisão ta dizendo a verdade? (Entra o Celular).

CELULAR – Pam, pam, pam, pam, pam, pam, pam, pam. Chamada a cobrar, para aceitar diga o seu nome e a cidade de onde estar falando, Purummmm!!! Que maravilha! Adoro quando isso acontece, pois ligação a cobrar nunca é bem vinda e eu me divirto muito (rir). Fora os trotes que são maravilhosos. (Para o Computador e a Televisão). E o que é que vocês estão me olhando?

COMPUTADOR – Olhando sua cara de pau, se divertir deixando as pessoas irritadas. Tenha vergonha e deixe de perturbar os outros.

CELULAR – Dando uma de santinho não é? Seu depósito de vírus cuide da sua vida e deixe a minha de lado.

COMPUTADOR – Só estou dizendo pra você deixar as pessoas em paz. Por causa de você ta acontecendo várias coisas ruins e nem todo canto você é bem recebido até nos presídios você não pode mais entrar, porque você ta botando muita gente no mau caminho.

CELULAR – Mas olha só a cara do sujeito! Te orienta computador! Vai cuidar dos teus vírus que é bem melhor... (Para Televisão) E você, ta muda é?

COMPUTADOR – O Controle baixou o volume dela, por isso ela ta sem voz.

CELULAR – (Dar altas gargalhadas) Eu acho é bom! Isso é pra ela deixar de ser despeitada comigo. Ela andou por ai dizendo que falava mais do que eu e estava espalhada no mundo inteiro. Bem feito! Como é que pode uma reles Televisãozinha, só porque agora é digital, sair dizendo que fala mais do que eu? Se sou eu o telefone celular e vivo dia e noite espalhado pelo mundo nas mesas de grandes negociações?

COMPUTADOR – Mas você chegou se divertindo do sofrimento das pessoas.

CELULAR – Olha aqui Computador: você já parou pra me analisar? Acho que não. Já viu meus pontos positivos? Acho que também não. Eu me divirto sim, mas tenho minha responsabilidade. Se alguém adoece eu aviso, se vai chegar atrasado, eu aviso, se tiver aniversariando eu digo feliz aniversário. Ninguém no mundo pode viver sem mim. Todo mundo me usa e abusa e não tenho o direito de brincar um pouquinho ora!

COMPUTADOR – Vamos Televisão, vamos embora à procura do Controle e deixa essa coisa aí (pra o Celeular).

CELULAR – Mas vocês vão pra onde?

COMPUTADOR – Não é da sua conta. Fique aí com seu mau humor. (Sai o Computador e a Televisão).

CELULAR – Eu hem! E eu que estou de mau humor é? Crianças é o seguinte: eles ficaram chateados, mas eu estava brincando. Na realidade eu não gosto muito da Televisão porque ela quer ser melhor que todo mundo e vive dizendo por aí que agora ela é a melhor só porque é digital. O radio meu amigo, me falou que onde a televisão tiver, ele corta caminho pra não se encontrar com ela, e além do mais ela é muito fofoqueira. Se não fosse eu, o Controle, o Computador a gente tava frito na mão dela, sorte nossa é que o Controle controla ela e não deixa fazer tudo que quer. Eu estava brincando... Passar trote é uma coisa feia e diselegante e ligar a cobrar só no caso de uma necessidade, um caso de urgência. Mas eu gostaria de saber o que é que está acontecendo por aqui, hoje ta calmo, não vi o Livro, a Boneca, o Pião, a Pipa, a Bola, o Carrinho... Acho que alguma coisa estranha ta acontecendo e eu preciso descobrir. (O Livro, o Controle, a Televisão e o Computador entram no maior alvoroço todos falando alto ao mesmo tempo. Menos a Televisão. O Celular bate palmas e assovia pra o barulho parar). Êi, êi, que cachorrada é essa?

LIVRO – Ué! Era só o que faltava. Até o senhor veio também?

CELULAR – E qual é o problema? Que discriminação é essa agora? Se todos estão aqui porque eu tenho que ficar de fora?

LIVRO – Não é isso. É que vocês são eletrônicos e são diferentes de nós, são cheios de problemas.

CONTROLE – Que problemas seu Livro? Quer dizer que somos desorganizados?

LIVRO – Não é isso seu Controle, mas veja só: a Televisão ta aí chega ta mudando de cor e o senhor não deixa ela falar. O senhor é ditador e quer controlar a vida de todo mundo e isso não é democracia.

CONTROLE – Seu Livro nós eletrônicos cada um tem uma função. Eu sou o Controle e minha função é controlar. Agora lhe pergunto: o que devo fazer?

LIVRO – Ta certo que o senhor é o Controle, mas não deve abusar do seu poder. A Televisão há muito tempo ta de boca fechada e ta na hora de aumentar o volume da coitada. (A Televisão fica triste e chora). Ta vendo seu Controle, deixou ela triste.

CELULAR – Eu não gosto muito dela, mas nesse caso eu acho que já é tempo de deixar ela falar.

COMPUTADOR – (Consolando) Tenha calma querida! Sua voz será liberada.

CONTROLE – Te bem, ta bem, eu vou aumentar o volume, mas se ela começar a se exibir novamente, eu baixo o volume e desligo de vez. Aiii!!! Como é duro ser um Controle! Mas antes quero saber por que a Boneca, o Pião, o Carrinho, a Bola não estão aqui.

LIVRO – Sabe o que é? (Corta o Controle).

CONTROLE – Já sei, é que o senhor não tem controle sobre eles e eles foram embora.

LIVRO – Pare por ai, o senhor não sabe o que diz. Sou um livro velho, mas quem decide as coisas do nosso lado sou eu, e não preciso controlar a vida de ninguém. Dispensei todos, achei melhor, porque o Pião rodou de mais e ficou doente. Agora aumente a voz da Televisão. (Quando o Controle aumenta, a Televisão se empolga e se solta).

TELEVISÃO – Ai! Que maravilha! Como é bom voltar a falar! Como é bom ser linda! Como é bom ser bela! Como é bom ser maravilhosa! Como é bom ser vista por todos, como é bom... (Corta o Controle)

CONTROLE – Chega! Chega! Ta vendo seu Livro? Vocês também estão vendo? Ta vendo porque eu tenho que controlar? Estamos aqui pra resolver um problema e com a televisão falando, falando, falando, não vamos é resolver é nada.

TELEVISÃO – Tá bem pessoal desculpe. Vou falar só o necessário.

CONTROLE – Eu espero. Mas como eu ia dizendo, os outros brinquedos não estão aqui. E como vamos resolver?

CELULAR – Resolver o quê? Não estou entendendo nada.

TELEVISÃO – Nem eu. O que está acontecendo?

COMPUTADOR – Acho que estou entendendo.

LIVRO – O negócio é o seguinte: Eu e os outros brinquedos estamos chateados porque vocês estão tomando o espaço que era nosso. O Carrinho fica reclamando porque antigamente os meninos faziam seus carrinhos de madeira e eram felizes.

TELEVISÃO – Mas vocês brinquedos antigos tem que entender que nós não somos culpados.

LIVRO – A Boneca coitadinha vive chorando pelos cantos porque as meninas só querem ficar na frente do Computador.

COMPUTADOR – É, temos que resolver esta situação.

LIVRO – A Pipa e o Pião e até a Bola que está no futebol, no vôlei, no basquete... Estão reclamando que os meninos só querem brincar com joguinhos no Celeular.

CELULAR – Eu sabia que ia sobrar pra mim. Tava demorando...

LIVRO – Até eu, que sempre tava em todo canto, nas escolas, nas livrarias, nas bancas de revistas, nas bibliotecas, hoje todo aluno ao invés de me procurar pra fazer seus trabalhos escolares, corre logo pra frente do computador. E muita gente ainda tem o prazer de dizer que sou um Livro velho ultrapassado.

TELEVISÃO – Eu acho que somos todos importantes, temos valores e defeitos e acho que poderemos achar uma situação pacífica para nossos problemas.

COMPUTADOR – Êita! Gostei de ver! A televisão falou bonito. Acho que ela aprendeu vendo os programas políticos.

CELULAR – Já que o Controle é do lado dos eletrônicos, e o Livro do lado dos brinquedos naturais. Acho que devemos unir os dois lados e pensar numa solução melhor para todos.

CONTROLE – Bem: eu tenho uma idéia, mas depois ninguém venha me dizer que por eu ser o Controle quero controlar todo mundo.

LIVRO – Eu mesmo não vou dizer nada. Se realmente for uma boa idéia será ótimo.

TELEVISÃO – Como eu sou linda e maravilhosa, se for uma idéia boa com certeza vou aprovar também.

COMPUTADOR – Eu também estou torcendo pra se achar uma saída (O Celular fica em movimento vibratório).

CELULAR – Desculpe, desculpe, estou no modo vibratório e preciso atender. Alô, alô, sim, quem fala? Quer falar com quem? (para o Livro). É pra o senhor. É o Pião querendo falar. (O Livro fala no corpo do Celular).

LIVRO – Alõ, é o Pião? E aí, o que o médico falou? Mas você está bem? Agora é só ficar de repouso. E onde estão os outros brinquedos? Ta bem, estou ouvindo, vou dar o recado aos eletrônicos.

CONTROLE – E aí, o Pião está bem?

LIVRO – Está, mas mandou um recado pra vocês.

TODOS – Que recado?

LIVRO – Ele disse que o médico mandou ficar dez dias de repouso e está triste porque ele não tem Televisão pra ver os programas, não tem celular pra ligar pra os outros amigos piões e não tem um computador para ler os seus emails.

CONTROLE – Se for por isso, já ta resolvido, eu e a Televisão, podemos ficar com ele até ele se recuperar, assim ele vai poder ver seus programas.

COMPUTADOR – Eu posso também ficar com ele, sendo assim ele vai poder ler os emails.

CELULAR – Eu vou sempre ficar do lado dele, porque ele poderá ligar e receber ligações dos amigos piões dele.

LIVRO – Pessoal muito obrigado. O pião vai ficar muito feliz.

CONTROLE – Seria bom se os outros brinquedos estivessem aqui, pois minha idéia era que todos brincassem com as crianças. A Bola, a Boneca, a Pipa, o Pião, o Carrinho, todos, mas eles não estão aqui.

TELEVISÃO – Então brinca só os que estão aqui. As crianças vão entender.

COMPUTADOR – E depois nós iremos direto pra a casa do Pião.

LIVRO – Então vamos lá pessoal. As crianças estão esperando. (Música).


FINAL


Obs. Se faz necessário a autorização para montagem deste espetáculo. Falar com o autor. Fone – 81-98587-2546 – Email. flavioactor@gmail.com







Biografia:
Sou autor de textos de teatro, e poesias em literatura de cordel. Também sou Arte Educador, ensinando crianças e adolescentes, como também, pessoas da terceira idade.
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