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Desculpe o momento, mas preciso falar sobre 2020
Bianca Scheuer

Era 00:00 na Holanda, 2020 chegou quatro horas antes em minha vida do que aqui no Brasil. Clichê ou não, aquelas quatro primeiras horas, foram tão mágicas, que criava-se a ilusão de que o novo ano, que estava só começando, seria o melhor de todos. Parecia um novo momento, onde os sonhos se tornariam realidade. Mas aqueles bons momentos de sorrisos e abraços, duraram muito pouco.
No terceiro dia do ano, já estava-se temendo uma nova guerra mundial, civil. Os ataques dos Estados Unidos aos outros países. O começo de um novo vírus na China. Crises econômicas. Países passando fome, crianças morrendo. 2020 mal havia começado, e em seus noticiários, tudo já estava um caos.
Passou-se um mês, as tragédias só aumentavam. Florestas sofrendo uma devastação maior do que o esperado, lugares incendiados, desemprego crescendo. E o novo vírus, intitulado de covid-19, chegava a Europa, América do Sul, Central, do Norte. Em pouquíssimo tempo, o invisível chegou em todos os lugares do mundo.
A Itália chocou a todos com inúmeras mortes diárias. O temor por aquelas vidas, era o novo assunto entre todas as orações ou pedidos de energias positivas. Esse vírus, ao chegar em nosso país, foi marcado por uma grande festividade da cultura brasileira, o carnaval. E não, esse texto não é para criticá-lo, mas em momentos tão felizes, o invisível começou a tornar-se presente.
Primeiro caso. Segundo. Terceiro. O país entra em caos, mercados sem alimentos, máscaras esgotadas. As ruas ficando desertas, restaurantes fechando. O país iria parar. Via-se como medida mais apropriada algo chamado de isolamento social, tantos países se beneficiando com ele, eis que, o Brasil poderia ter sido mais um.
Desde o vírus ser denominado como uma invenção da mídia, uma gripezinha. Vão morrer alguns idosos. Mas, e daí? Não é mesmo. Não sou coveiro, o que posso fazer, a culpa não será dele, os governadores que não sabiam cuidar. Entre tantas falácias, até a proeza de esconder números perante organizações mundiais, o Brasil, em seu falso isolamento, chegou aos mais de 100.000 mil mortos.
Quando pensamos sobre a vida humana, raramente classificamos os outros como números, “aquele ali é o sete”, “prazer, sou o nove”, costuma-se trabalhar com pronomes, empatia, com sujeitos. O Brasil chorou pelas vidas italianas perdidas, mas contabilizou seus cidadãos como meros números.
Um dia, acabávamos com estoques de alimentos, matávamos uns de fome, outros de pobreza. E criou-se uma ideia de que o isolamento ajudaria a diminuir a violência. Pobre João Pedro, uma criança cumprindo o isolamento, morta por um “mero acaso”. O começo disso tudo não foi fácil, mas, se você for trabalhador, negro, mulher, classe baixa, residente de comunidades, a dificuldade só aumenta. A empregada não pode parar de trabalhar, mesmo se seu filho morrer caindo do nono andar. O peão de fábrica não pode ficar em casa. Para uma pequena, diria minúscula, parcela elitizada da sociedade, o Brasil não pode parar, mas esses não estão em movimento.
Entre todos os equívocos, pensamentos e falta de cuidados. Entre acreditar que tudo não passa de uma invenção, de uma briga política. Que a ciência não comprova nada e o isolamento só existe para afetar a economia. Perderam-se mais de 100.000 mil vidas, referentes ao covid-19. Entre outras milhares por falta de profissionalismo, ou melhor, por falta de humanidade. A cada segundo, uma nova vida se perde, uma nova é diagnosticada, uma criança é baleada. A cada segundo, a morte no Brasil, não para.
A morte no Brasil aumenta de uma forma assustadora, e percebo que muitas pessoas estão apenas dissipando falácias e fingindo ser aquele que preza por cuidados, aos quais não são feitos. Não adianta pedir proteção as empregadas, se você não dispensou a sua. Sair de casa para utilizar a academia, parques, lugares públicos ou a casa de amigos, seja com máscara e higiene, independente do que for, não justifica a sua ação incoerente. Palavras são simples de serem escritas, mas o que vale para este momento, são as atitudes. E essas, a maioria não está fazendo. Reflita consigo mesmo, você está fazendo algo disso? Está se cuidando e ficando em casa? Ou apenas falando, mas não agindo.
Aliás, duas semanas atrás, escutei que ninguém está respeitando, e que por isso, podemos sair. Frequentar clubes, festas, praias. Precisa-se exercitar, e óbvio que na academia. Um domingo ao parque. A vida como ela era, antes da pandemia. Honestamente, achei que fosse observar empatia com vidas, que as belas fotos das redes sociais apoiando o “fique em casa” fossem reais. Desejei que a culpa dos problemas econômicos e sociais não recaíssem sobre um vírus. Que a solução destes problemas, não seria o rompimento do isolamento. Mas, infelizmente, o brasileiro mostrou que, aqueles que podem ficar em casa, cuidar de si e do outro, não se importam com a vida.
Passaram-se sete meses desde as minhas primeiras quatro horas mágicas. E ressalto dizer, depois dos meus cinco primeiros dias de 2020, eu descobri o que é viver em um mundo sem magia. Se essa fosse a história de Peter Pan, e no lugar de “eu acredito em fadas” fosse colocado “eu acredito na empatia”, o fim já teria acontecido.
Desculpe o momento, mas está na hora de você ficar em casa, e deixar com que 2020 consiga terminar, sem levar mais milhares de vidas com ele.
(Bianca Scheuer)


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