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Que cidade é essa que volta e meia desaparece?
(Uma crônica sobre o abandono)
Roberto Queiroz

Aconteceu de novo.

E acontecerá outras tantas, por conta de um governo federal, estadual e municipal omisso e por uma sociedade cretina que só pensa nos seus próprios privilégios enquanto critica a própria espécie e sai no tapa para defender uma classe mais do que vendida ao sistema podre e falho...

De que falo? É sério mesmo? Precisa repetir? Não choveu na sua rua não? Meu Deus! Quanta ignorância!!!

O carnaval acabou e na madrugada da própria quinta-feira a chuva arriou mais uma vez na cidade "tenho minhas dúvidas se ainda é" maravilhosa. Resultado: enchentes em vários bairros, árvores arrancadas do asfalto, falta de luz em inúmeras ruas, serviço caótico e medíocre prestado pela Light, telejornal no dia seguinte comparando o temporal a um "tornado de pequeno porte" e mais, mais, muito mais. Só para que vocês tenham uma ideia: fui a bonsucesso, poucos minutos do meu bairro, para encontrar uma lotérica aberta e deparei-me com uma saga digna de comparações com o dilúvio bíblico.

O comércio abriu as portas só para contabilizar prejuízos e retirar a lama do estabelecimento. Ônibus? Para ir trabalhar? Todos por sua conta e risco. A lama dominando o território e sugando a energia dos funcionários da Comlurb, dos poucos a encarar o perigo de frente, verdadeiros guerreiros nessa enxurrada global. E não acabou por aí: a falta de luz, em alguns lugares, perdurou por mais de 24, 36, 48 horas, chegando a gerar a fúria de moradores que fecharam as vias públicas impedindo o tráfego. Tá bom ou quer mais?

Como eu sei que sempre tem alguém que quer mais, detalhe: o pseudo prefeito da cidade (profissão real: pastor evangélico) encontra-se na Europa. Abandonou a cidade em pleno carnaval, bom antifolião e demagogo que é. E como ato derradeiro dessa comédia dos erros ambulante em que o país se tornou nos últimos três anos e qualquer coisa, o pseudo presidente decide optar pela intervenção militar na segurança pública. Em outras palavras: vamos ver no que vai dar isso (e se de fato vai dar em alguma coisa!)

Lá no título deste meu singelo, mas não menos sarcástico artigo pergunto que cidade é essa que volta e meia desaparece. Resposta: cidade habitada por animais sem o menor pingo de educação, que acham que o país se resume a divertimento e alienação, e que sequer reconhecem a sujeirada que fazem muito menos onde jogam seu lixo. Não é de hoje que lugares como a Praça da Bandeira e a região perto do Faria Timbó alagam em meio a qualquer chuva (mesmo a mais mediana). Isso é o resultado de um país ignorante, que repudia toda e qualquer pessoa com o mínimo de formação, chegando a rotulá-los de esnobes e arrogantes.

Outro dia desses houve um homem de seus 35 anos dizer no banco: "qualquer arrogante com diploma universitário, por mais contraditório que seja, vale mais do que essa geração formada à base de funk, big brother, futebol e telenovela". E por mais que ele tenha falado isso de forma exaltada, merece todo o meu apoio.

O Brasil, como sociedade civil, sinto lhes informar: acabou. É triste, mas parece até óbvio quando nos deparamos com a cidade ilhada, submersa, esquecida pelas autoridades, que tramam novas formas de empobrecer o povo (seja monetariamente, seja culturalmente). E a consequência desse fim - nada prematuro, pelo contrário... - é a cidade que a cada chuva desaparece com mais e mais facilidade.

"Onde iremos parar?". A pergunta esgotada, envelhecida, praticamente desbotada como uma foto em sépia, repete-se ad infinitum nas bocas de cidadãos indignados, que não aguentam mais, e mesmo assim não vêem uma luz no fim do túnel. Mais uma vez: meu Deus!!!! Você está aí, nos ouvindo?

E esse ano tem eleição. De novo. E vai ter gente votando em merda. De novo. E no máximo só mudará o ladrão. De novo. E tudo continuará igual? De novo?

Por quê?

Até quando seremos o país do por quê?


Biografia:
Crítico cultural, morador da Leopoldina, amante do cinema, da literatura, do teatro e da música e sempre cheio de novas ideias.
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