Explode algo grandioso
Assustador e terrível
No fundo da alma
É o desejo contido
De ser alguém especial
É tão natural ser diferente
É tão aparente não ser normal

Olhei no espelho
Juro que não acreditei
Mas firme aguentei
E me pus a pensar
Não seria tão mal
Nem tão anormal
Se eu mudasse
Não transformasse
Só melhorasse
Este pobre visual

De novo senti
Algo que jamais conheci
Assim mesmo
Olhei no espelho
Notei coisas estranhas
Bizarras, sombrias
Vi minhas entranhas
Tristeza tamanha
Jamais quero ter

Nunca vou esquecer
Desse maldito espelho
Há outra pessoa
Olhando para o espelho
Parece comigo
Mesmos defeitos
Mesmos trejeitos
Num rápido olhar
Ficou a fitar
Eu e o espelho

Vi ele no espelho
No mesmo espelho
Que prometi quebrar
Tantas semelhanças
Pensei estar vendo
E não entendendo
A mensagem refletida
Da minha própria vida
No verso do espelho

E agora explode
Mais forte, mais fundo
Agora no corpo
O peso da agonia
De me ver todo dia
Me acabando
E ainda me olhando
No fundo do espelho

Não há luz suficiente
Para mim
Nem para toda essa gente
Que só faz chorar
Olhando no espelho
Pensei estar perto
Da porta que se abre
Para algum lugar
Que pelo menos me desse
Ou me dissesse
Porque é tão triste
Querer alcançar
Pelo menos tentar
Não confiar no espelho

Que é tão sincero
Diz a verdade
Suporta a realidade
Mas não muda
Nem ajuda
A mudar teu destino
Que desde menino
Se olha no espelho
Sem se enxergar
Sempre a imaginar
Que será diferente sentir
A liberdade
Do espelho não te refletir...

                         ®Valtencir – jun_1992

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