Queria ser um pássaro
para voar alto
e tocar a mão do sol,
ou então, de cobalto,
um coral no fundo do mar,
um raio de luz no arrebol,
barco à vela a navegar...
Queria ser a poesia em teu papel,
dita de maneira sincera e generosa,
um pedaço de papel a rolar, ao léu,
quiçá pétalas de uma maravilhosa rosa...
Queria ser pudico como virgem noiva
que se casa por amar demais o consorte,
sobre o fogão, a sugar fumaça, a coifa,
o submarino que encontra o seu norte...
Queria ser o que nunca sei que serei,
um verdugo arrependido que vira padre,
um pobre camponês que sem querer vira Rei,
maço de feno que no fogo do inferno arde...
Queria, antes de me tornar o que não quero,
me redimir dos erros cometidos pela pulsão,
partir cantando e não aos gritos e berros,
de alma lavada e mais puro ainda
de coração...
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