Era nada mais do que um ensaio
O que queríamos fazer naquele dia
Nenhum de nós havia decorado as falas
Não havia encadeamento entre as cenas
E os personagens não tinham química entre si
Mas ensaiamos
Ensaiamos paixões inesquecíveis, daquelas cujo o prazer proporcionado foge aos lábios
Ensaiamos amores tão sinceros, em que a poesia fluía naturalmente entre os personagens
Ensaiamos histórias de heroínas, que de tão valentes não as conseguiremos esquecer pelos próximos séculos
Ensaiamos amizades belas e reais, de pessoas que apesar dos percalços
Mantiveram-se amigas
Estávamos leves e descontraídos naquele dia
Ignorávamos os erros, ríamos de nós mesmos
Das nossas falhas
E os primeiros ensaios são sempre um desastre de se assistir
Como estávamos desatentos!
Não notamos que as cortinas estavam abertas
E que na nossa frente se aglomerava o público
Sedento por histórias cativantes
Belas atuações
Contos épicos
E somente na hora que começaram as vaias
Que percebemos que havia uma plateia
Aquela gente estava enraivecida
Gritavam, nos arremessavam objetos
Fomos expulsos do nosso próprio palco
E agora ensaiamos, mas somente em segredo
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