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RETRATO DE MIM
Ivan de Oliveira Melo

Resumo:
...a vida tem dessas coisas...



           RETRATO
                 DE
               MIM

                     Romance

                         Ivan de Oliveira Melo







Uma
      
      comovente

                      história



Direitos autorais registrados e reservados


                                      APRESENTAÇÃO – PREFÁCIO


     A vida é uma sucessão de episódios que, ora constroem uma passarela de sucesso, ora leva o homem a percorrer os mais abjetos caminhos da sobrevivência. Assim ocorre com o    perso-
nagem central de RETRATO DE MIM.
     Vindo ao mundo através de uma ligação ilícita, Álvaro sofre na pele as agruras    da discrimi-
nação, tanto por parte dos familiares como por todos aqueles que são agregados à família. Fo-
ra do seio dos que lhe são próximos, encontra verdadeiras amizades e, a eles, entrega-se     de
corpo e alma numa relação em que o amor e a solidariedade são os aperitivos de que   precisa
para superar os novelos do preconceito e chegar à total realização em sua existência.
     Novela literária narrada em primeira pessoa. Linguagem simples, cenas que estão     presen-
tes no cotidiano das sociedades modernas. Uma verdadeira   amostra do   que   acontece   nos
aconchegos e labirintos de muitas famílias em que as aparências, muitas vezes, encobrem   um
festival de sofrimento e dor. Vale a pena ler e se deixar pelas nuances que levam à reflexão.



Boa leitura.


Ivan de Oliveira Melo







                   PRÓLOGO

              REFLEXOS DA NOITE


     Alta madrugada. O silêncio era aterrador. O calor terrível, eu não conseguia adormecer. Virava-me de um lado a outro da cama. Tudo em vão. Insônia.    O suor lavava-me a face e o
corpo. Estava molhado, até parecia que acabara de deixar o chuveiro. Meu pensamento esta-
va nublado. Várias nuvens, vazias, contornavam meu raciocínio. Intensa inquietação roubava-
me a paz. Não suportei. Levantei-me, joguei tudo sobre o catre e abri as janelas. Olhei em der-
redor. As folhas das árvores não se mexiam. Tudo inerte. Horas cansadas. Divisei o relógio so-
bre a parede. Três horas da manhã. Fitei-me diante do espelho, mas percebi que as luzes esta-
vam apagadas. Acendi-as e tornei a contemplar-me. O suor pingava sobre o chão. Havia retira-
do as vestes. Longos minutos ali permaneci a observar-me, sem nada pensar. Estava aflito. Pre-
cisava dormir, era grande a fadiga. Corri até a porta do quarto. Estava apenas no trinco. Tran-
quei-a e me dirigi ao chuveiro. Era necessário abrandar o calor e permiti-me ficar debaixo da
água . Ainda bem que estava fria e isso melhorou meu humor. Em fração de segundos o tem-
po se transformou. Grossas gotas d’água deram-me a compreender que chovia torrencialmen-
te. Saí do banheiro enrolado na toalha e fechei a janela. Agora estranha ventania penetrava no
recinto e alguns quadros foram jogados no soalho. Pude observar pela vidraça   das   janelas a
claridade trazida pelos relâmpagos e, logo, trovoadas invadiram a madrugada. Enxuguei-me e
retornei à cama. Enrolei-me aos lençóis, contudo tive de levantar-me outra vez: esquecera as
luzes acesas. Um frio gostoso fazia-se sentir e, então, pus-me a refletir. Tentei concatenar   as
ideias, no entanto, lentamente, o sono chegava. Apaguei-me, totalmente. E   sonhei com   mi-
nhas preocupações, apreensões que faziam de mim um jovem solitário, embora ao meu redor,
existissem colegas: ora vizinhos, ora companheiros da escola. Buscava, em meus sonhos,   en-
tender o porquê de ser sempre rejeitado: os garotos sucessivamente repetiam   que   eu   era
“burro”, “quadrado” e que não servia para nada; as garotas não se cansavam de dizer-me que
eu era feio, desajustado, cafona...
     Minha sorte é que o dia seguinte era sábado, não havia aulas neste dia, posto que dormi até
tarde e só às dez horas levantei-me e uma intensa dor de cabeça me perturbava.       Vagarosa-
mente me lavei, forrei a cama, vesti-me e desci para o desjejum. A casa estava oca,   como se
somente eu ali habitasse.
- Bom dia, Carminha – cumprimentei – Onde estão todos?
     Carminha era uma bela mulata de seios salientes que há alguns anos emprestava seus servi-
ços em nossa residência.
- Seu pai e sua mãe foram fazer as compras da semana. Sua irmã, Silvana, saiu logo cedo com o
namorado e seu irmão Germano está na piscina em companhia de alguns amigos da escola. O
que quer comer, Álvaro?
- Vitamina de banana – respondi.
     Imediatamente fui servido. Depois caminhei até a piscina, onde havia Germano e mais ami-
gos que se distraíam. Fiquei a contemplá-los, todavia não me meteria no meio deles, pois não
fazia parte do grupo de colegas do meu irmão.
- Por que está a nos observar, Álvaro? Interpelou-me Germano.
- Por acaso é proibido eu aqui me sentar? – Devolvi-lhe a indagação.
- Não gosto de que fique a tomar conta de minha vida, especialmente quando tenho convida-
dos. Germano retrucou.
- Deixe de ser idiota, não estou aqui com este propósito – Asseverei.
- Acho bom, mas é melhor buscar o que fazer, no meio de nós não é bem-vindo.
     Saí dali com os olhos úmidos. Até em meu próprio lar era eu rechaçado, principalmente por
meu irmão e por minha irmã.
     Retornei ao meu quarto. Chorava que chorava. Mergulhei sobre a cama e permiti que as lá-
grimas caíssem até que secassem. E longos minutos perdi, com a cabeça enfiada aos travessei-
ros. Em seguida, já de pé, tranquei a porta da alcova e me despi. Olhei-me detalhadamente pe-
rante o espelho... O que havia em mim que tanta repugnância causava aos outros?      Por mais
que me analisasse, nada descobria e me via um garoto belo e normal. Sensual, até...              










                          I

                         O mundo roda...

     Eu era o segundo filho do casal Almiro Pilet e Valquíria Pilet. Contava, nessa época, 14 anos. Germano era o caçula, havia 13 primaveras e Silvana era a primogênita, estava com 18 anos de
Idade. No aconchego do lar, Germano era o mais paparicado pelos meus pais, seguido   por Sil-
vana. Eu era o último em tudo, sempre davam um jeito de esquecer-me. Foi exatamente   isso
que voltava a ocorrer naquele dia. Meus pais chegaram das compras e vieram acompanhados
de Silvana e Caetano, seu namorado. Foi o próprio Caetano que chamou Germano e disse-lhe:
- Germano, hoje à noite iremos ao Parque de Diversões. Compramos bilhetes para todos, inclu-
sive para seus pais que também irão.
     Esbocei um largo sorriso. Afinal haviam se lembrado de mim...
- Eita, Álvaro, perdoe-me, mas esquecemos de comprar o seu... Afirmou Caetano.
     No mesmo instante me transformei. Sem dizer palavras, retirei-me do ambiente e fui, como
de costume, prantear em meus aposentos. Após muitas lágrimas terem ensopado a fronha do
travesseiro, pude dialogar intimamente. Por que agiam assim relação a mim? Por que em   to-
dos os lugares era eu tão discriminado? As perguntas se sucediam, entretanto não havia    res-
postas para elas. Não possuía amigos, em casa me escanteavam sem razão aparente e tudo is-
so dava um nó em meu pensamento. Até quando iria suportar tamanha violência psicológica?
Nesse dia ninguém mais houve notícias minhas. Subi à minha alcova, tomei um banho,     colo-
quei roupas novas e limpas e ganhei o mundo. Fui passear sozinho já que esse era o meu des-
tino: a solidão!
     Tomei um ônibus qualquer e fui parar num bairro desconhecido, lugar que jamais houvera
estado antes. Desci exatamente no terminal que ficava numa praça. Neste exato   momento,
a praça ardia de gente: casais passeavam alegremente, crianças brincavam em burricos e    ou-
tros brinquedos. Havia jovens que jogavam vôlei e, mais adiante, garotos corriam felizes atrás
de uma bola, quase murcha. Sentei num banco ali perto e pus-me e observá-los. Mesmo   que
a bola não cooperasse, notei que era intensa a alegria daqueles meninos. Era como se a   bola
fosse “novinha em folha”, uma felicidade estampava-se no meio deles. De   repente   busquei
minha carteira e vi que havia uma boa quantidade de reais. Mentalmente me tomei uma de-
cisão, só estava a aguardar a oportunidade adequada, o que não demorou muito a acontecer.
Um dos meninos, sem querer, deu forte chute na bola e a mesma veio certinha em meu rosto.
Todos correram para junto de mim e pediam sinceras desculpas.
- Perdão, cara, não foi por querer – Desculpou-se um garoto franzino, sem camisa, meio aloira-
do e todo sujo de terra.
- Não tem importância – falei – e como vocês conseguem jogar com uma bola dessa? – Pergun-
tei.
- Ora, cara, não temos outra. Aqui somos todos pobres, ninguém tem pai rico – Contou-me   o
referido garoto.
- Permita-me que me apresente – Pedi – Meu nome é Álvaro e quero dar-lhes uma bola nova.
Há por aqui onde comprar uma?
     Subitamente todos aqueles garotos se voltaram em minha direção. Era como não cressem
no que estavam a escutar de mim. Após certos e curtos instantes, o garoto me perguntou.
- Está falando sério? – Indagou-me.
- Claro! Diga-me onde comprar uma e vou buscá-la para vocês – Retruquei.
- Duas esquinas adiante – falou, mas percebi os olhos lacrimejantes.
- Sem choros – pedi – Vamos lá.
     Fomos eu e o garoto na frente e uma imensa turma de outros atrás. Chegamos a   uma   lo-
Jinha de bairro e logo na entrada havia muitas, muitas bolas num mostruário.
- Escolha a que quiser. Qualquer delas – Deixei-o à vontade.
- Até das mais caras?
- Até das mais caras – Confirmei.
     E o garoto escolheu. Só que eu levei mais uma a fim de que ficasse guardada   até   a outra
envelhecer.
- Nossa, Álvaro, como você é legal! – O garoto me elogiou.
- Isso é tolice. Ah, mas não sei ainda seu nome e os nomes dos demais - Lembrei.
- Ah, perdão. Meu nome é Adão.
- Qual tua idade, Adão?
- 15. E você?
- 14. Amigos?
- Sim, amigos.
     E recebi um forte abraço de Adão. Logo os outros se aproximaram, abraçaram-me e   disse-
ram seus respectivos nomes.
     Regressamos à praça e sentei-me no mesmo banco de antes, contudo Adão me convidou:
- Ei, Álvaro, não quer jogar com a gente?
- Não posso – disse-lhe – não tenho “short” por baixo da calça. Fica para uma outra vez.
- Esta desculpa não “cola”. Moro aqui perto, venha comigo e empresto um “short” para você.
Aceita?
- Aceito.
     Fui com ele. Chegamos a uma casa humilde, porém limpa e arrumadinha. Levou-me até seu
quarto e buscou numa gaveta de cômoda o “short” prometido.
- Quer que eu saia para vestir-se? – Interpelou-me.
- Nada. Pode ficar aí, não sou tão tímido – Respondi.
     Tirei aquelas roupas e pus o “short”. Fiquei sem camisa e sem os sapatos. Estava igualmente
a ele e aos demais.
- Não se preocupe, Álvaro. Ninguém vai mexer nos seus pertences – Prometeu.
- Não estou pensando nisso – falei – Vamos, estou “louco” para jogar com vocês.
     Ao sairmos do quarto, deparamo-nos com os pais de Adão que estavam na sala.   Adão me
apresentou.
- Pai, mãe, este é Álvaro, um novo amigo – disse – Na volta da “pelada” ele conversa com   vo-
cês.
- Está bem- disse Arquimedes, pai de Adão. Fique à vontade, Álvaro, a casa é pobre, porém ri-
cos são os nossos propósitos.
- Muito obrigado, senhor...
- Arquimedes e esta é Teresa, minha mulher.
- Pois, como disse, muito obrigado pela acolhida. Na volta conto sobre mim.
- Claro, garoto – Colocou Teresa – Vá brincar, depois conversamos.
     E me misturei àqueles meninos de bairro, pobres, não obstante felizes e sem máscaras. Pe-
la primeira vez em minha vida desvendei que ganhara amigos. Pela primeira vez não fui   discri-
minado, mas aceito como amigo e tratado com carinho, carinho este que me faltava na escola,
carinho que me faltava no bairro em que morava, carinho que não existia em meu próprio lar.
     Brinquei com aqueles garotos a tarde inteira, jogamos diversas partidas e, quando paramos,
eram sete e meia da noite.
- Ei, Álvaro, não está tarde para você? – Inquiriu-me Adão.
- Não, lógico que não. Até meia noite há ônibus para me deixar em casa – Retruquei.
     Voltamos à casa de Adão. Lá me serviram de uma toalha e sabonete para que   eu   tomasse
banho. Saí do banheiro enrolado na toalha e fui para o quarto . Adão lá estava à minha espera.
- Agora eu tomarei meu banho enquanto você se veste. Jantaremos juntos e você nos conta de
onde veio e o que faz por aqui.
     Deixaram-me só e à vontade. Vesti minhas roupas, calcei os sapatos e penteei   os   cabelos.
Uma alegria estranha fazia morada em meu íntimo. Nunca, antes, fora tratado com tanta    dis-
tinção e interesse. Permiti que duas lágrimas rolassem em meu rosto, tamanha era a minha sa-
tisfação.








































                                   II

     Deus escreve certo em linhas tortas...


     Estávamos agora todos reunidos à mesa e jantávamos. Apesar de encontrar-me num recin-
to humilde, notei que a janta era farta: sopa de feijão, ovos mexidos, cuscuz ao leite de coco e
bastantes pães. Eram pobres, porém não passavam fome, pelo menos foi o que ficou-me à pri-
meira vista. Fui apresentado aos irmãos de Adão, mais velhos que ele: Cristiano 17 e   Juvenal,
19. Percebi que era uma família unida e todos conversavam, sem reservas.
     Concluída a refeição, instalamo-nos na sala. Adão pediu-me que eu falasse sobre mim. Sem
“papas na língua”, tudo revelei sobre minha vida, sem nada ocultar-lhes. Ao passo que contava
a respeito de minha infelicidade, verifiquei que todos haviam em seus   olhos bastantes   lágri-
mas. De fato, comoveram-se com minha narrativa.
- Não consigo atinar a razão pela qual você seja tão discriminado – disse Arquimedes, o pai de
Adão – Tudo isso que nos revela é muito sério. Jamais trataria assim a um filho meu, nem       a
ninguém.
- O senhor acha que minha aparência é repugnante? – Perguntei.
- Lógico que não, Álvaro. Pelo contrário, permita-me, você é um garoto muito belo, de   finas
feições. Vocês não acham? – Interpelou a todos ao mesmo tempo.
- Você é lindíssimo, Álvaro. – Confirmou Teresa. Não sei o porquê de o tratarem assim em to-
dos os lugares. É esquisito!
- Acho que sei, mãe – Aventurou-se Juvenal, o filho mais velho de Arquimedes – Não tenho   o
costume de achar homem bonito, mas a verdade seja dita: você, Álvaro, é belíssimo e o moti-
vo pelo qual é tão discriminado não pode ser outro: inveja, garoto, inveja...
- Será? – Interroguei atônito.
- Concordo com Juvenal – Colocou Adão – você, Álvaro, é portador de intensa beleza, aí está a
razão. Juvenal atirou certeiro.
     E todos foram unânimes quanto a isso. Depois Arquimedes me interrogou:
- Quem são seus pais?
- Meu pai se chama Almiro Pilet e, minha mãe, Valquíria Pilet.
     Percebi um determinado ar de surpresa nos olhos de Arquimedes.
- Você disse Pilet, Álvaro? Da família Pilet?
- Sim, senhor Arquimedes, sou da família Pilet. Por quê? Conhece-a?
     Repentinamente Arquimedes ficou nervoso. Começou a andar de um lado a outro da sala,
havia ficado muito abalado com a minha procedência. Trocava olhares furtivos com a mulher
e se mantinha impaciente.
- Você disse ser filho de Valquíria Pilet? Novamente indagou.
- Sim – confirmei – É o nome de minha mãe...
- Meu Deus, - falou – Como este mundo é pequeno... Nossa Senhora, valha-me num instante
desses – Implorou Arquimedes.
     E, sem dizer mais nada, carregou a esposa para seus aposentos e fechou a porta.
     Totalmente alheio ao que se passava, chamei Adão.
- Devo retirar-me – falei – Viu como ficou seu pai? Acho que ele conhece minha família e não
gostou nada de saber que sou um Pilet.
- Não seja precipitado – pediu Adão. Logo ele se acalmará e, com tranquilidade, dirá o motivo
deste seu comportamento. Aguardemos...
     Resolvi atender ao apelo de Adão e ficamos todos na expectativa. Era enorme a minha    cu-
riosidade. Enquanto isso, trancafiados em seus aposentos, Arquimedes e Teresa dialogavam.
- Mantenha sua calma, homem – implorava Teresa – Seja o que Deus quiser.
- É muita coincidência, Teresa. Logo aqui ele vem aportar e tornar-se amigo do nosso filho.
- As coisas só ocorrem com a permissão de Deus. Se o garoto está aqui, agora, certamente veio
acompanhado pelo Alto. Devemos agir com prudência, marido.
- Você acha que tudo devo contar a Álvaro? Acha?
- Acho. Ele já tem 14 anos e idade mais do que suficiente para entender as coisas.
- Preciso de muita calma, mulher, muita calma...
- Também acho... Se um dia você me revelou seu erro e eu o perdoei, nada mais importa. Deus
manda esta criança para você, para nós, é o momento de você cuidar e dar a ele o que lhe   fal-
ta: carinho e atenção... – Desabafou Teresa.
- Está bem, Teresa. Vamos! – Concordou Arquimedes.
     Estávamos na sala, todos e no maior silêncio. Cada qual que pensasse com seus botões.   Eu
já nem sabia mais no que matutar. Assim nos encontraram , Arquimedes e Teresa.
- Desculpe-me, Álvaro – pediu Arquimedes – Contudo é necessário que você fique sabendo   de
algumas coisas.
- Que coisas? – Inquiri meio nervoso.
     Arquimedes parecia calmo, externamente. Dentro de si estava   profundamente    nervoso,
pois não sabia como aquele menino receberia o que havia para ser revelado.
- Peço a atenção de todos. Por favor, não me interrompam até que eu diga que nada mais   há
para ser falado sobre o assunto – pediu Arquimedes.
     E, com lágrimas nos olhos, contou detalhadamente sua história.
- Desde adolescente que trabalho na construção civil. Não sei fazer outra coisa. Com o passar
dos anos, tornei-me mestre de obras e foi assim que travei conhecimento com Valquíria   Pilet.
Esta casa em que moram hoje, Álvaro, fui eu e meus homens que a levantamos. É uma   resi-
dência fina, digamos, uma mansão. Levamos bastante tempo para erguê-la. Um dia fui   apre-
sentado à sua mãe, Valquíria. Ela me contratou para edificarmos o prédio. Valquíria sempre foi
uma mulher bonita e, tal fato, com efeito, chamou-me a atenção. A partir do dia em que   nos
conhecemos, não consegui mais olhar para ela de outro modo. Eu me apaixonei por sua mãe,
embora já fosse casado com Teresa. Percebi, certa vez, que Valquíria correspondia aos   meus
olhares e resolvi investir. Ela aceitou relacionar-me comigo às escondidas. Era apenas   uma
aventura para nós dois. Mas essa aventura custou caro a mim e a ela: Valquíria engravidou.
Quando soube que estava prenha, contou-me, desesperada. Lógico, igualmente fiquei assusta-
do e com medo. Decidimos nos afastarmos e deixar que o bebê nascesse como filho dela e   do
marido, Almiro Pilet. Entretanto, certo dia, Almiro desconfiou que o fruto não era dele. Você já
havia nascido...
- Eu? - Interpelei.
- Sim, Álvaro, você. Almiro Pilet, ao olhar para você no berço, disse com letras maiúsculas para
Valquíria que o bebê não era dele e fez com que ela confessasse a traição. Só não disse quem
era o pai, tal fato ela guarda até hoje, como terrível segredo do seu passado.
- E... – Eu não sabia o que dizer, estava perturbado diante da inesperada revelação.
- E o fato é que Deus escreve certo por linhas tortas e o trouxe para mim. Eis a questão... Falou
Arquimedes.
     Eu não sabia o que dizer, o que pensar... Encontrava-me nas órbitas, o   pensamento    total-
mente confuso.
- Almiro e Valquíria passaram alguns meses separados. Depois Almiro a perdoou e retomaram
o casamento, todavia com uma condição – contou Arquimedes.
- Qual? – Eu quis saber.
- Que, a partir daquele instante, Valquíria assumisse tudo em casa. Tudo mesmo!
- Entendo – falei – Agora compreendo o porquê de meu pai ser um gigolô.
- Ainda não compreendeu que sou seu pai biológico? – Indagou Arquimedes.
     Neste instante “caiu a ficha” e chorei, chorei, chorei... Fui amparado por Teresa que me afa-
gava os cabelos e confidenciava em meus ouvidos.
- Assim que se deu o fato com Valquíria, Arquimedes tudo me revelou. Claro, senti   ódio   nos
primeiros momentos, mas o perdoei. Eu o perdoei porque o amo. Arquimedes me foi bastante
sincero. Tudo estava em nosso esquecimento, porém agora você está aqui...
- E obviamente vocês desejam que eu suma para sempre... Via expresso!
- De forma alguma, Álvaro. Estas coisas não acontecem em vão. Se Deus o trouxe até aqui, é
porque há um propósito.
- Qual? – Perguntei.
- Ora, Álvaro – exprimiu Adão – Você é um garoto discriminado em tudo. É infeliz,   vive   só...
Sou, quer dizer, somos irmãos seus por parte de pai e, de agora em diante, você não   estará
mais em solidão...
     Abracei-me a Adão e, juntos, permitimo-nos chorar. Cristiano e Juvenal se aproximaram   e
igualmente me abraçaram.
- Você agora não só tem amigos, como uma família inteira para você. – Disse Cristiano.
- Concordo – confessou Juvenal – vamos deletar esta solidão que anima seu peito.
     Finalmente Arquimedes veio até onde eu estava. Fitamo-nos por alguns instantes,    posteri-
ormente um forte abraço selou para sempre nossa convivência. Arquimedes pranteava   e   me
levava consigo em sua emoção.
     Passou-se algum tempo e logo estávamos refeitos das surpresas e das revelações. Ponderá-
vamos, agora, como iria ser dali em diante.
- As coisas por si sós me explicaram a razão da discriminação da qual sou vítima. Tudo bastante
claro aos meus olhos. Meus irmãos, Germano e Silvana, talvez de nada   saibam,   todavia   são
contaminados pela maneira como meus pais me tratam e passam isso para os amigos. No fun-
do, sou um bastardo, porém não há importância, agora tenho vocês. – Disse-lhes.
- Não diga nada por enquanto, filho – solicitou Arquimedes – Talvez você não troque seu ambi-
ente de riquezas pela humildade em que vivemos.
- Riquezas não me enchem os olhos – retruquei – Sim, darei tempo ao tempo e seguirei ao   pé
da letra suas recomendações.
- Como você é inteligente! – Elogiou Teresa – Saiba que Arquimedes vai lutar por você na Justi-
ça, não vai Arquimedes?
- Lógico, não quero mais sabê-lo sofrer por causa de preconceitos – Concordou Arquimedes –
Se for da vontade de Álvaro, veremos como contratar um advogado e lutaremos por sua guar-
da. O que acha, Álvaro?
- Como sei que terei aqui o amor que nunca tive antes, claro que aceito o que você propõe, Ar-
quimedes.
- Então mantenha o silêncio por enquanto – Arquimedes frisou – Deixe as águas correrem por
debaixo da ponte. Almiro e Valquíria só virão a saber quando receberem a intimação da Justi-
ça. Será uma grande surpresa para eles.
- E como filho legítimo de Valquíria, mesmo que você venha a residir conosco, ela terá a   obri-
gação, como mãe, de todos os meses dar-lhe uma pensão – falou Teresa – O que ela faz?
- Ela trabalha na Receita e ganha mais de R$ 20.000,00 por mês. – Respondi.
- Você terá uma baita de uma pensão – afirmou Juvenal – e viverá bem em nosso convívio.
- Disso não tenho a menor dúvida – coloquei.
     O diálogo terminou. Meus novos irmãos foram em minha companhia até a parada do ôni-
bus. Novas perspectivas se abriam em minha vida e eu agradecia mentalmente a Deus por tu-
do o que estava acontecendo e por tudo o que viria a ocorrer.
     Ao chegar em casa, ainda não haviam retornado do Parque de Diversões.




                                  III

                               Proposta Rejeitada



     O domingo amanhecera chuvoso. Tempo fechado. Levantei-me às nove horas, tomei banho,
vesti-me e desci. Meus irmãos ainda dormiam e meus pais estavam à mesa, faziam o desjejum.
- Bom dia – cumprimentei-os.
- Olá – respondeu Almiro – dormiu bem?
- Tão bem quanto a alegria de vocês no Parque. – Retruquei.
- Veja lá como fala com seu pai – advertiu Valquíria Pilet.
- Deixa, Valquíria, ele está sentido porque não foi conosco. Não tiro a razão dele. Ponderou Al-
miro.
     Um silêncio profundo se fez entre nós. Silêncio que Valquíria quebrou.
- O que fez em nossa ausência, Álvaro?
- Não me sinto na obrigação de dizer – Respondi.
- Tem obrigação, sim, de dizer... E diga logo... – Valquíria sentenciava.
- Ah, mãe, vá encher outro. – E saí da mesa em direção ao meu quarto.
     Insatisfeita com minha resposta, Valquíria seguiu meus passos e ficou a bater na porta que eu havia trancafiado.
- Abra, abra logo – exigiu – Você vai ver com quantos paus se faz uma jangada, menino mal e-
ducado.
     E não abri. Valquíria fez tanto espalhafato que acordou os que ainda estavam a dormir.
- O que está havendo, mãe? – Perguntou Germano.
- Este seu irmão que não tem modos – falava Valquíria – vou dar-lhe   uma   surra   para    que
aprenda a ser gente.
     Ao escutar o tom da ameaça, resolvi abrir a porta e a deixei entrar na alcova. Ela parecia fo-
ra de si, já estava com um cinto às mãos para bater-me.
- Se você tocar em mim, eu a denuncio – frisei – Não ouse encostar em mim suas mãos.
- Quem ensinou a você a defender-se com tal ameaça? Quem? Diga, cafajeste.
- Não é da sua conta – falei – Toque em mim e responderá na polícia.
     Valquíria retrocedeu. Percebeu que minha ameaça era séria e teve medo das    consequên-
cias.
- Não vou bater, porém está de castigo. Não saia deste quarto para nada, nem para fazer as re-
feições – decidiu.
- Tudo isto vai acabar, você não perde por esperar, mãe degenerada. – Ameacei.
- Com quem esteve a conversar? Com quem aprendeu semelhantes absurdos, hein? – Gritava.
- Não tenho satisfações a dar-lhe. Deixe-me em paz – Pedi.
     Valquíria Pilet abandonou sua doidice e desceu. Foi à cozinha, bebeu água e foi ao encontro
do marido, Almiro.
- Como Álvaro está rebelde, Almiro. Está incontrolável – queixou-se.
- Há bastante tempo que a preveni – Almiro colocou – Não é bom o tratamento que se dispen-
sa a Álvaro, um dia ele estaria revoltado. Sempre a alertei quanto a esta questão.
- Acontece que você é o pai dele e ele deve respeito a você.
- Tem certeza de que sou o pai de Álvaro? – Almiro ironizou.
- Não vamos remexer no passado, querido, só há cinzas do que se passou. – Valquíria implorou.
- Está bem, mas vá se acostumando, Álvaro começa, de certo modo, a ver-se diferente nes-
ta casa. Ele já é um rapaz e não é trouxa. Tudo isso é reflexo do que se passa em seu íntimo.
Ele junta as pedras daqui, junta as dali e, consequentemente, desvenda segredos e se perce-
be tratado distintamente dos demais. Álvaro é um garoto inteligente, é o mais inteligente dos
seus filhos, Valquíria. – Colocou Almiro.
- É, acho que você tem razão. Exageramos muito em relação a Álvaro. Ele começou a    com-
preender as coisas e sabe que não é tão amado quanto Germano e Silvana. Que iremos fazer,
Almiro?
- Você deveria perguntar-se: o que devo fazer? Não me jogue no meio deste jogo, o erro   foi
seu, a traição foi sua, mulher.
- Não me abandone numa hora dessas, por favor. Preciso muito do seu apoio, sozinha me sinto
perdida. – Confessou.
- Não se sentiu perdida no instante em que engravidou de Álvaro. Até hoje não sei quem é   o
pai biológico dele.
- Disse e repito: Isso não vem ao caso, pertence ao passado.
- Passado que está bem vivo no presente e trazendo problemas para a nossa relação   “marido e mulher”.
- O que você quer que eu faça, Almiro? Já não basta sustentar a casa e ter um marido gigolô?
- Não tem o direito de reclamar, você aceitou as condições para que reatássemos o    casamen-
to...
- Sim, aceitei, mas estou cansada. .. Não sei onde conseguirei forças para lidar com Álvaro.
- Isso é problemas seu, mulher. Apenas seu...
     Almiro retirou-se. Não estava mais afim de levar adiante a discussão. Contudo, Valquíria foi
ao seu encalço, parecia amedrontada.
- Eu tive uma ideia, Almiro. Podemos nos ver livres de Álvaro para sempre e tirar este entojo
do nosso dia a dia. – Propôs Valquíria.
- Que brilhante ideia se passa por sua cabeça, mulher?
- Podemos dar um sumiço nele...
- Sumiço? Como assim?
- Contratamos uma pessoa que o sequestre, que o mate e o enterre bem longe de nós.
- O quê? Ficou louca? Quer estragar para sempre sua vida? Não conte comigo para uma atitu-
de desse tipo. Não compactuo com crimes dessa natureza.
- Seria algo muito bem feito e planejado. Jamais alguém desconfiaria de nós e estaríamos livres
para sermos felizes ao lado dos nossos verdadeiros filhos. – Valquíria continuou.
- Não! – Almiro exasperou-se – Há outros meios e salutares para você se ver livre de Álvaro...
- Quais, marido? Quais?
- Procure pelo pai biológico dele, entregue-o para que ele o crie, mas não enveredemos pelos
caminhos do crime. Isso não, pelo amor de Deus.
- Não sei, Almiro, não sei, estou tão confusa...
- Bem ou mal, até hoje conseguimos conviver com ele. Não se esqueça de que Álvaro   nasceu
de você, que você é a mãe dele e uma mãe ter tais pensamentos em relação ao seu próprio fi-
lho... – Disse Almiro – Às vezes você me mete medo, Valquíria. Às vezes não sei do que é capaz
e isto me incomoda, incomoda bastante.
- Ajude-me, marido, estou confusa. Na realidade, o que eu quero é ser feliz, porém quando me
lembro de Álvaro, noto que você me reprova, me olha com desdém... Eu   amo você,   Almiro,
por este amor sou capaz de qualquer coisa.
- Até de matar o próprio filho... Sei lá se mais tarde não terá vontade de matar também a mim.
- Jamais! Se eu não o amasse, não teria concordado com as condições que reataram nosso ma-
trimônio. Álvaro é a única pedra que nos separa e... sem ele, tudo seria mais fácil para   todos
nós.
- Não da maneira como você quer. Faça o que lhe disse: entregue-o ao pai biológico, é a mais
sensata atitude. Estará livre dele e teremos nosso lar apenas para nós e nossos filhos em   co-
mum. Esta é a ajuda que posso dar-lhe. Não compactuo, como já disse, de crimes. Se alguma
coisa acontecer a Álvaro, eu serei o primeiro a apontá-la, embora também a ame, não obstan-
te não suportaria conviver ao lado de uma assassina...
- Está certo, Almiro, vou pensar no assunto. Realmente, não devo perder a compostura, terei
de agir dentro do que é normal, sem tragicidade. É porque estou em polvorosa, louca para ver-
me livre dele. Perdoe-me, não pensarei mais assim – prometeu Valquíria.
     Não tocaram mais no assunto. O domingo seguira chuvoso, com relâmpagos e trovoadas. Eu
permanecia em meu quarto, entretanto Valquíria procurou-me antes do almoço. Bateu na por-
ta uma, duas, três vezes. Vi que estava mais calma e, assim, abri e a deixei que entrasse.
- O que você quer? – Perguntei.
- Liberá-lo do castigo . – Respondeu- Pode descer e almoçar conosco.
- Que bicho a mordeu? – Novamente a interroguei.
- Fui bastante áspera com você, sei quando estou errada. Perdoe-me. Venha, desçamos juntos
e almocemos em família.
- Aleluia! – Disse eu.




































                                   IV

                         Correspondência inesperada


     Os dias seguintes vieram sem novidades. Havia algo no “ar” e, minha inocência, não conse-
guia desvendar do que se tratava. Valquíria Pilet, minha mãe, subitamente passou a     dar-me
mais atenção. Conversava sobre assuntos triviais, chamou-me algumas vezes para sair (   coisa
que não fazia antes ) e, assim, os dias corriam. Evidentemente que eu estava com a        “pulga
atrás da orelha”, tal procedimento em relação a mim não se coadunava com Valquíria Pilet. Em
minha mente havia a certeza de que ela tramava algo contra mim, somente eu não compreen-
dia o que pudesse ser.
     Determinada noite ( era um sábado ), eu estava em meu quarto. Lia algumas revistas     que
havia comprado sobre futebol de salão quando escutei alguém bater na porta. Perguntei:
- Quem é?
- Sou eu, Álvaro, sua mãe.
     A contragosto levantei-me e abri a porta. Valquíria estava de camisola, por sinal transparen-
te e que me deixava todo o seu corpo à mostra.
- Posso sentar-me aqui ao seu lado, Álvaro?
     Sem entender o tipo de assunto que ela teria a haver comigo, cedi.
- Sim, pode, mas que seja algo que não demore, posto que estou com muito sono e   amanhã
preciso levantar-me bem cedo – respondi.
- Amanhã é domingo, Álvaro, você até pode dormir mais um pouco.
- Amanhã tenho uma partida de futebol para assistir lá na quadra do clube de campo e   não
gostaria de perder...
- Serei breve, então...
- O que quer conversar comigo? – Indaguei.
- Há dias venho buscando coragem em mim para haver com você este diálogo, porém só   ago-
ra tenho força para tal... – respondeu.
- É alguma coisa muito séria?
- Sim, meu filho, é sobre a possibilidade de colocar você num colégio interno...
- Por que quer colocar-me num colégio interno? Não entendo isto...- Falei.
- Você continua sem “clima” dentro de sua própria casa. Não se relaciona bem com seu   pai e
seus irmãos, talvez um tempo de ausência prolongada possa fazer bem a você e aos demais...
-Tentou explicar.
     Tal possibilidade me assustou. Jamais iria aceitar tal imposição. Fiquei de pé, abri os braços,
bati o pé direito no chão e retruquei:
- Eu não irei para qualquer que seja o colégio interno. Não me venha inventar isto, por favor.
- É necessário, Álvaro. – Insistiu – Não vê que a convivência entre você e os outros   está   insu-
portável e fora de controle...?     
- Sou tão seu filho quanto os outros. Por que não coloca Germano e Silvana? Por que tem   de
ser eu?
- Você é menor e me deve obediência – disse – Não gostaria de impor, no entanto noto que
terá de ser...
- Eu não irei, eu não irei – gritei – você não pode fazer isso comigo...
- Está encerrada nossa conversa e está decidido, você não tem outra alternativa – Sentenciou.
     Após estas últimas palavras, Valquíria Pilet deixou o quarto. Voltei a trancar a porta e pe-
guei o celular. Disquei para Arquimedes. Eu estava bastante nervoso.
- Mantenha a calma, filho – Aconselhou-me – Tenha a certeza de que na segunda-feira Valquí-
ria e Almiro receberão a intimação da Justiça.
- Como pode estar tão certo disto? – Interpelei.
- Ainda ontem falei com o advogado a quem entreguei o caso. Ele me garantiu que não passa
de segunda-feira. Prometeu Arquimedes.
- Pois que seja, meu pai. O ambiente para mim aqui está sem controle. Eu bem que sabia   que
ela tramaria algo contra mim. – Desabafei.
- Vai ao jogo de futsal amanhã? – Arquimedes perguntou.
- Sim, irei – retruquei.
- Pessoalmente conversaremos melhor. Não se apoquente e durma em paz. Na próxima sema-
na resolveremos esta problemática. Os meninos e Teresa estão com saudades de você...
- Também estou com saudades de todos, eu juro...
- Iremos todos ao clube amanhã e almoçaremos juntos. Que tal?
- Excelente! Que chegue logo o dia de amanhã – desejei.
     Consegui acalmar-me um pouco e, até, adormeci. Tive um sono meio perturbado, em que
me via em sonho vestido de padre. Despertei com o rosto coberto de suor. “Ah,   ainda    bem
que que foi apenas um sonho”, pensei e voltei a dormir.
     Às oito horas da manhã saía e nem tomei o desjejum, faria um lanche na rua. Consultei     a
carteira e havia alguns reais. Tomei de um táxi e fui direto para o clube. Lá chegando,    inicial-
mente, fui em busca de uma lanchonete. Estava faminto...
- Bom dia, meu irmão. – Cumprimentou-me Adão.
     Voltei-me surpreso. Larguei o lanche sobre o balcão e o abracei.
- Que bom vê-lo – disse-lhe – Brevemente estaremos todos juntos na mesma casa. Este é meu
grande sonho.
- É o meu também, Álvaro e, com certeza, o sonho de todos lá em casa.
- Quer comer alguma coisa? – Indaguei.
- Não, obrigado. Tomei café em casa.
- Onde estão os outros?
- Ali – e apontou para uma mesa próxima – donde acenaram para mim.
     Peguei o lanche que havia colocado sobre o balcão e fui abraçado a Adão até a mesa.
- Conseguiu dormir? – Perguntou-me Arquimedes.
- Sim...
     Relatei-lhe o que Valquíria pensava em relação a mim e contei do sonho que havia tido du-
rante a madrugada. Todos sorriram. Depois me abraçaram e me beijaram as faces.
- Você sabe que Valquíria não atingirá seus propósitos – então, sorria conosco, vamos, sorria-
Pediu Arquimedes.
     E eu sorri e entrei no “clima” de alegria.
- É disto que preciso – falei – dessa alegria que vocês têm.
     Dali nos dirigimos à quadra, onde presenciamos o jogo. Quando terminou a partida,   Adão
levou-me até a presença de Jorge, técnico de uma das equipes, melhor dizendo, do    quinteto
que ganhou a peleja.
- Então, é este o garoto? – Jorge perguntou.
- Sim, Jorge, é ele mesmo. Joga que só, você precisa ver... – Falava Adão.
- Prazer, Álvaro.
- Prazer, Jorge. Estarei terça-feira, à tarde, esperando por você na sede do Dínamo    para   um
teste, aceita? – Convidou-me o técnico.
- Claro! – Respondi, feliz. Estarei lá, pode apostar.
- Estaremos – completou Adão – eu e meu pai também iremos ver você fazer o teste.
- Ótimo – concordei – assim me sentirei mais seguro. Obrigado!
     Retornamos ao convívio dos demais e, no restaurante do clube, almoçamos. Após a     refei-
ção, fui com eles para casa e só retornei ao meu lar à noite. Eram nove horas e não me   viram
chegar. Também, isto para eles pouco importava.
     No dia seguinte, pela manhã, fui normalmente à escola. Na hora do almoço estávamos   to-
dos em casa e foi com imensa satisfação que presenciei a cena.
- Dona Valquíria, chegou esta correspondência para senhora hoje pela manhã. –        Disse Car-
minha, a serviçal da cozinha.
     Valquíria Pilet pegou o envelope e passou a vista, desconfiada.
- Ué, correspondência da Justiça? – Inquiriu-se sem saber, ainda, do que se tratava.
     E todos ficaram curiosos, loucos para tomarem conhecimento de qual era o assunto da cor-
respondência. Lentamente Valquíria Pilet abriu o envelope e quedou-se, estupefata.
- Nossa! – exclamou – uma intimação de audiência?
     Leu atentamente o conteúdo, depois levou o olhar até mim. No momento, eu   bebia   com
tranquilidade meu suco de goiaba.
- O que significa isto, Álvaro? – Interpelou-me.
     Olhei para ela, sério. Logo ligeiro sorriso se apossou dos meus lábios.
- Você não leu? Não é preciso perguntar-me nada. Tudo está bastante evidente aí, não está?
     Valquíria levantou-se. Ordenou-me.
- Espero por você na biblioteca em cinco minutos, vamos esclarecer o porquê desta intimação.
     Após o tempo aprazado, lá estava eu na biblioteca ao lado dela, que me parecia nervosa   e
inconformada.
- Vamos, abra o jogo – sentenciou – Que palhaçada é esta? Quero uma explicação convincente.
- Não há o que explicar, minha mãe. Você mesma é sabedora de tudo. Ainda bem que o   desti-
no me foi favorável. Você nunca me tratou como filho, nem, você, nem Almiro. Germano e Silvana nunca me respeitaram como irmão que sou, sempre fui um discriminado dentro desta casa. Até aqueles que poderiam ser meus amigos por influência de todos vocês, têm em relação a mim hediondo preconceito, uma discriminação sem precedentes. Só Deus sabe o quanto tenho sofrido, só Deus sabe. Bem, agora chegou o momento de fazer-me justiça e eu sairei da convivência deste lar. Habitarei um lar onde terei recíproca amizade e carinho, coisas que nunca tive aqui. É tudo!
- Quem levou você até Arquimedes? – Indagou vermelha de ódio – Vamos, fale, fale, fale...
- Nada direi, no Tribunal você me ouvirá falar e não toque em   mim,   a polícia   já   está alerta.
Qualquer tentativa de agressão à minha pessoa e você responderá processo... Informei.
- Veremos como terminará tudo isto, veremos – ameaçou e, em seguida, retirou-se do recinto.
     Uma hora mais tarde chegava à minha casa um Oficial de Justiça e, em suas mãos, uma    or-
dem judicial para cumprimento imediato.
- Meu nome é Orlando Jucá, Álvaro. Venho fazer cumprir esta ordem. Arrume tudo o que é
seu: roupas, sapatos, material escolar, brinquedos, tudo e me acompanhe.
- Aonde me levam? – Interroguei.
- O juiz acha prudente afastá-lo daqui até que se resolva em audiência o seu futuro. Na   convi-
vência de Valquíria Pilet é arriscado você permanecer, por enquanto. – Informou Orlando Jucá.
- E onde ficarei até o dia da audiência?
- A audiência está marcada para esta sexta-feira – falou Orlando – Até lá você ficará em lugar
seguro.
- Sim, tudo bem, concordo. Mas onde ficarei?
- Será hóspede do senhor Juiz da Infância e da Adolescência. Já está tudo arrumado e   progra-
mado, não se preocupe.
     Em quarenta minutos consegui arrumar os meus pertences e entrei na carro da Justiça. Até
o instante da audiência, estaria vigiado. Uma espécie de guarda-costas me acompanhava    os
passos , aonde quer que eu fosse. Senti-me seguro e importante... Para quem sempre foi   dis-
criminado, tal fato era, ao mesmo tempo, intrigante e maravilhoso. “Da noite para o dia   tor-
nei-me celebridade.” Pensei.


                                  V

                                    No Tribunal


       
     Voltara a chover. Era intensa a força pluviométrica. Relâmpagos riscavam os céus e trovões
sinistros faziam trepidar as coisas leves. Eu era leve. Havia um metro e sessenta e nove   centí-
metros, magrinho, mas um magro cheio e bem dividido. Cabelos castanhos claros, lisos, linda
cabeleira que me enfeitava e me deixava , até certo ponto, um pouco vaidoso.    Nariz afilado,
lábios carnudos, olhos meio claros, nem azuis, nem verdes. Digamos, cor de mel.   Minha pele
era clara, sem bronze, posto que quase que não tomava sol. Meus pensamentos viviam agita-
dos. Encontrava-me no limiar de uma decisão judicial. Segredos de Valquíria Pilet viriam à to-
na, segredos que ela guardava a sete chaves. Não queria, por hipótese alguma, que seu envol-
vimento com Arquimedes fosse descoberto. Era uma mulher orgulhosa. O fato de haver se re-
lacionado intimamente com um operário de construção civil abalava profundamente seu con-
ceito de a ele ser superior socialmente. Estava cheia de ódio, não se conformava com o que o
destino colocava em seu caminho. Deveria ter pensado duas vezes antes de a Arquimedes en-
tregar-se... Agora que respondesse pelos seus atos e me aturasse como o filho “bastardo” que
considerava que eu era.
     Consegui junto ao meu protetor uma permissão especial para apresentar-me no clube Dína-
mo na terça-feira à tarde. Certamente não fui sozinho, o guarda-costas me acompanhou e me
trouxe de volta ao meu reduto de segurança. No clube me encontrei com Arquimedes e Adão,
que ansiosamente me aguardavam.
- E aí, garotão, está pronto para o teste? – Perguntou-me Arquimedes.
- Estou com o coração um pouco acelerado, mas estou pronto, sim. – Respondi.
- Como sempre, mantenha a calma. Nunca vi você jogar, porém pelo que me contou Adão, vo-
cê é um grande craque. – Tentou me acalmar.
- Tenha confiança em você – pedia Adão – apenas jogue do mesmo jeito que se houve    entre
nós lá na “pelada” – Tenho convicção de que será aprovado e com sobras.
- Caso eu seja aprovado e deseje seguir carreira, você deixará Arquimedes?
- Óbvio, filho. Se assim não fosse, não estaríamos aqui torcendo por você – Arquimedes retru-
cou.
- Tratarei de jogar o que sei – disse eu.
     Logo Jorge se aproximou, cumprimentou-nos e pediu para que eu fosse me arrumar.
- Vem comigo, Adão. Você dar-me-á sorte. Pedi.
     Aprontei-me e me dirigi à quadra. Jorge tratou de fazer as apresentações. Fui colocado no
time B e o produto do meu teste – Bem, sem perda de tempo, Jorge me deslocou para o quin-
teto considerado titular. Eu havia enchido suas vistas devido a uma atuação impecável.   Ao fi-
nal, os elogios e a sentença.
- Barbaridade, garoto! Você é um craque, está mais do que aprovado. – Colocou Jorge.
- Obrigado. – Agradeci.
     Fui em direção aos vestiários. Precisava tomar um banho e colocar roupas limpas. Adão me
acompanhou. Enquanto me banhava, ele comentou.
- Eu não disse, mano. Você é um supercraque, logo vai se destacar e será pretendido por ou-
tros clubes.
- Você acha mesmo isso? – Indaguei.
- Evidente que sim. Só quero uma coisa: caso, um dia, você tenha de ir embora jogar num gran-
de clube, não nos esqueça. – Fez tal comentário com os olhos úmidos.
- Deixa de ser besta... Jamais abandonarei vocês. Nunca! – Respondi – Caso me vá daqui, é cla-
ro que todos irão comigo. Vocês agora são minha família e eu os amo muito, viu?
     Eu ainda estava debaixo do chuveiro a tirar o sabão. Não suportando a emoção contida   no
peito, mesmo vestido, Adão meteu-se no chuveiro e me abraçou, ternamente.
- Rapaz, você está vestido... Como vai para casa todo molhado? - Inquiri.
- Ah, agora é tarde. Não aguentei. Você disse algo que mexeu comigo. – Revelou.
- O que foi que eu disse? Nem lembro mais...
- Você disse que nos amava...
     Abracei-me a ele. Eu nu e ele vestido debaixo do chuveiro. Ambos chorávamos, de alegria.
- Não somente eu, Álvaro, porém todos lá em casa somos alucinados por você, mano. –     Con-
fessou.
     Adão desvencilhou-se das roupas e ficou nu. Tomou banho e se enxugou com minha toalha.
Depois espremeu suas vestes molhadas e, assim, pô-las de retorno ao corpo. Penteamos os ca-
belos e fomos ao encontro de Arquimedes que dialogava com Jorge, animadamente.
- Eita, tomasse banho também, Adão? – Arquimedes perguntou.
- Claro! Você deveria estar lá dentro comigo para escutar o que escutei da boca de Álvaro...
     E tudo relatou. Resultado: choramos os três juntos, até o guarda-costas que me acompanhava, não conseguiu esconder as lágrimas. Chegou a fazer um breve comentário:
- Positivamente é ao lado deste homem e desta família que você tem de ficar, garoto Álvaro.
- Obrigado – E apertei a mão que me era estendida.
     Antes de sairmos, Jorge me chamou.
- Quero o mais breve possível toda a sua documentação: certidão de nascimento, identidade e
autorização dos responsáveis visto que precisarei de você no time, o quanto antes.    
     Fiquei muito feliz ao receber o pedido.
- Providenciarei com urgência. Ainda esta semana – Coloquei.
- Nosso próximo treino é na sexta-feira, no mesmo horário de hoje.
- Trarei tudo na sexta, então. Até lá, Jorge!
- Até e boa sorte no Tribunal – Desejou-me.
     Compreendi que Arquimedes tudo havia contado a Jorge sobre o processo e da    audiência
da sexta-feira.
     Na frente do clube nos despedimos e prometemos nos vermos na sexta, no Tribunal, para a
audiência.
     Voltei ao meu reduto de segurança. Havia em meu íntimo uma felicidade que jamais sentira
antes. Era uma sensação inexplicável e gostosa. “Tão bom...” – Pensava eu – “Ver-me amado e
desejado pelos amigos. Agora eu sei que é inveja o que Germano, Silvana e Almiro têm de mim – e os conhecidos, idem.”
     Subitamente veio-me à mente o rosto de Valquíria Pilet. Não conseguia atinar o juízo e    en-
tender como uma mãe tratava um filho da maneira como ela se havia em relação a mim.    Não
existia em minha lembrança qualquer sentimento ou instante de carinho... Sempre   dispensou
a mim espinhos e, aos demais, flores. Eu chorava, desconsolado.
     O tempo não possui asas, contudo, voou. Vivenciávamos a tão esperada sexta-feira. Fui    no
carro do juiz e ladeado pelo guarda-costas até o Tribunal de Justiça.   Ao entrar   no   prédio, um “friozinho” se fez em meu estômago. Na verdade, eu estava nervoso e altamente desejoso   de que tudo aquilo logo se resolvesse. Adentramos à sala das audiências. Ao meu lado se posicionaram Arquimedes, Teresa e o advogado. Do outro lado da mesa estavam Valquíria Pilet e seu marido, Almiro. Era uma advogada que os acompanhava. O juiz deu por iniciada a sessão e me solicitou que eu revelasse o modo pelo qual chegara até Arquimedes e sua família. Tudo narrei em detalhes, sem nada deixar escapar. Concluídas as minhas palavras, o juiz pediu que Valquíria se pronunciasse, concordando ou negando o que eu havia relatado. De repente, Valquíria Pilet deixou-se levar pela emoção e contou a verdade. Na medida em   que falava, Almiro se mostrava surpreso, posto que, embora soubesse do ocorrido, estava por “fora” de alguns   detalhes. Valquíria Pilet encerrou seu depoimento e silenciou. Foi a vez de Arquimedes depor.
E tudo colocou na mesma medida de Valquíria e não houve contradições, pois, ambos reve-
laram apenas o que era real. Arquimedes fez silêncio e o juiz, mais uma vez, pediu a minha
palavra. Disse, diante de todos ali presentes, a forma pela qual vivia dentro do lar   de Val-
queria Pilet. Como era discriminado por minha própria mãe, por Almiro, por meus irmãos e
pelos amigos comuns. Tudo relatei chorando e mostrando o horror que havia em minhas pa-
lavras no que se refere ao preconceito de que sempre fora vítima. O juiz pediu que eu silen-
ciasse, já ouvira o suficiente para elaborar sua sentença. Encerrou a sessão.













































                                 VI

                                Um supercraque


     Aguardamos cerca de quarenta e cinco minutos até o juiz, outra vez, convocássemos e ma-
festássemos seu veredito. Meu coração estava disparado e ansioso. Eis a resolução do   Magis-
trado perante este caso:
- Não há muito o que dizer, Diante dos fatos não há argumentos e os aqui expostos e perante
a evidência dos mesmos, reconheço o senhor Arquimedes Silva como pai biológico de   Álvaro
Pilet. Profundamente consternado pelo que sofreu esta criança ao longo dos anos   por   parte
de sua mãe, senhora Valquíria Pilet, de seu esposo, Almiro Pilet e por parte dos demais compo-
nentes da família, entrego a guarda definitiva de Álvaro Pilet ao senhor   Arquimedes   Silva e
sua senhora, Teresa Silva. Ao mesmo tempo em que lavro esta resolução, expresso uma ordem
nos seguintes termos: Valquíria Pilet, Funcionária Pública, portadora de uma renda mensal su-
perior a vinte mil reais, tem a obrigatoriedade de, como mãe e possuidora dos recursos descri-
tos, de fazer em caderneta de poupança em nome de Álvaro Pilet, mensalmente, depósito de
no valor de oito salários mínimos a título de pensão ao menor, legitimamente seu filho. Confi-
ro igualmente a Álvaro Pilet, o reconhecimento como um dos herdeiros   universais dos   bens
que ora existam e dos que futuramente vierem a ser adquiridos em nome   de   Valquíria Pilet.
Dou por encerrado o caso e não há trâmites legais para recursos. Que se cumpra tudo quanto
aqui determino.
     Cheio de alegria, antes que o Magistrado se retirasse, aventei a seguinte possibilidade:
- Senhor juiz, é de minha livre e espontânea vontade que haja uma modificação de meu   regis-
tro de nascimento. Desejo o nome do meu verdadeiro pai em tal documento, bem como dese-
jo suprimir do meu sobrenome o nome Pilet. Pretendo assinar   Álvaro Silva   assim   como assi-
nam os filhos de Arquimedes e Teresa Silva. Por favor!
- Meu caro jovem, tal procedimento é de sua livre escolha, posto que constam nos autos de re-
solução tal possibilidade. É só se dirigirem ao Cartório existente aqui no Tribunal e, no mesmo
instante, terá todos estes desejos satisfeitos. – Colocou o juiz.
     Retirei-me do ambiente em companhia dos meus novos familiares e fomos até o Cartório ali
existente. Providenciamos todos os meus desejos e já saímos de lá com regularizações   atuali-
zadas. Antes de me dirigir à minha nova residência, fomos até à casa do juiz, onde estavam to-
dos os meus pertences. Adão, Cristiano e Juvenal vieram ao nosso encontro e, para   comemo-
rarmos a vitória no Tribunal, almoçamos juntos em uma churrascaria. Eu   estava   felicíssimo e
largo sorriso se fazia perceber em meus lábios carnudos. O almoço foi alegre   e   descontraído.
Ambiente mais do que festivo.
- Estou tão feliz – comentou Adão – ganhei mais um irmão que o amo de coração.
     Difícil foi evitar que as lágrimas rolassem em minha face. Sinceramente, não consegui.
- E eu, cara, como você acha que estou me sentindo? – Aventurei perguntar.
     Não houve respostas. Todos se encontravam no mesmo patamar de felicidade. Fiquei de pé
e troquei abraços e beijos com todos. Dali em diante uma nova vida se descortinava diante   de
mim e para sempre estava livre de preconceitos.
     Terminado o almoço, fomos para casa. Em minha nova residência fui   instalado   no mesmo
quarto de Adão, mas isso era o de menos, o que importava era o que se passava em meu    ínti-
mo.
     No horário estabelecido, lá estava eu treinando no clube Dínamo, sob as vistas de Arquime-
des e Adão, que não me deixava só em momento algum. Ao final do treino,     Arquimedes pas-
sou às mãos de Jorge toda a documentação necessária à minha regularização como   atleta do
clube. Jorge não perdeu tempo, saiu apressado e se dirigiu à Federação a fim de    estivesse eu
em condições já para o jogo oficial do domingo pela manhã, pelo campeonato local.
     Tudo eram flores em minha vida, agora. Sonhava em estudar, ser alguém importante e ven-
cer na carreira de atleta. Deixamos o clube e fomos à escola onde eu estudava.   Lá, solicitamos
a transferência e me matricularam no mesmo   estabelecimento em que Adão e Cristiano fre-
quentavam. Na segunda-feira iniciaria um novo período escolar, com novos amigos e num am-
biente onde, certamente, não haveria discriminações.
     O fim de semana foi ainda festivo. Muitas brincadeiras, bate-papo e diálogos   construtivos.
O nível em que estava vivendo era bastante distinto daquele em que penosamente   sobrevivi
alguns anos. Logo me ambientei com os novos amigos de bairro e, agora, era até   por   demais
paparicado. Todos desejavam minha atenção, minha amizade. Transformação total se operou
em minha existência.
     No domingo pela manhã o ginásio estava lotado. Era minha estreia oficial pelo Dínamo.    Minha família inteira me apoiou, lá estavam confortavelmente sentados na arquibancada   e   me aplaudiam e gritavam meu nome. Meu desempenho foi excelente. Dei um verdadeiro “show” de bola, realmente encantei a todos com minha apresentação. Ao final, uma imensidão de garotos aos meus pés, pedindo autógrafos e, outros, simplesmente à cata de um   sorriso ou   de desejarem tocar-me. Senti-me um Deus, embora saiba que Deus só existe um. Foi necessária a intervenção dos seguranças a fim de que eu pudesse chegar aos vestiários.   Tiraram   muitas e muitas fotos minhas e clamavam por mim em altos brados.
     Nos vestiários, Jorge disse:
- Parabéns, Álvaro, numa só partida você conseguiu arrebanhar incontáveis tietes, além de ter
feito uma esplêndida atuação. Dos oito gols que marcamos, cinco foram seus.
- De nada, Jorge. É daqui para melhor. Seremos campeões, se Deus quiser.
     E minhas atuações nos jogos seguintes foram desconcertantes. Mais e mais ganhava tietes
e via meu nome na boca dos torcedores. Pouco tempo depois, meu nome e talento apareciam
na TV e, em consequência, inúmeros convites para que mudasse de cidade e de   clube.    Que-
riam me profissionalizar. Um convite de São Paulo deixava a mim e os meus    familiares boqui-
abertos. Mesmo antes de completar 15 anos, foi oferecido a mim um salário de trinta mil reais,
para começar. Estávamos em casa a estudar e a discutir todas as possibilidades.
- O que você acha, meu pai? – Indaguei.
- A decisão é sua, filho. Respondeu.
- Se eu tiver que ir, todos irão comigo. Não irei sozinho. Faço questão de ajudar a todos a reco-
meçarem suas vidas. Eu e vocês somos um só.
     Mais uma vez aquele lar se enchia de muita alegria e participação. Abraços e beijos para to-
dos os lados. Uma união bastante sincera e envolvente.
- Vamos pensar em conjunto- disse Arquimedes – É fundamental que todos desejem recome-
çar suas vidas.












                                 VII

                                   Difícil decisão


     Não cheguei, ainda, a tomar uma decisão quanto ao meu futuro como atleta. As evidências mostravam que, com paciência, até melhores convites poderiam surgir. E foi o que aconteceu.
Um grande clube do Rio Grande do Sul fez-me uma proposta irrecusável, especialmente   para
minha idade. Os gaúchos estavam a oferecer-me um salário de cem mil reais mensais,       mais
emprego para meu pai e escolas para meus irmãos. Ainda ofereciam uma entrada de duzentos
mil a título de luvas e à vista. Eu estava vibrando com o referido convite.
- E aí, meu pai, o que você diz? – Interpelei.
- Nossa, Álvaro, acho que agora nem temos muito no que pensar. Todavia, a última palavra se-
rá sempre sua, meu filho. – Respondeu Arquimedes.
- Então está decidido: iremos todos embora para o Rio Grande do Sul. Estão todos de acordo?-
Perguntei.
- Eu estou – disse Adão – Quero estar onde você estiver. Você é meu ídolo.
- Eu também concordo – Respondeu Cristiano – Você também é meu ídolo.
     Observei que Juvenal estava calado e não dera resposta. Mas já o   conhecendo   um pouco,
pude compreender o motivo do seu silêncio.
- Olha, Juvenal, eu sei o porquê do seu silêncio. O motivo é Nadja, não é? – Questionei.
- Puxa, Álvaro, você parece que tem uma bola de cristal, ninguém consegue esconder nada de
sua pessoa...
- É ou não é este o motivo do seu silêncio? – Insisti.
- É... Amo Nadja e não gostaria de perdê-la. É isso! – Retrucou.
- Tenho um plano para você, irmão. Se os pais da moça concordarem, apresse o casamento   e
você a traz consigo como sua esposa... – Propus.
- Sério?
- Claro!
- Mas como irei manter o meu casamento sem trabalho, Álvaro?
- Ah, mano, eu assumo tudo. Nosso pai já tem emprego certo no clube. Adão,   Cristiano   e eu
vamos estudar e você também estudará, só que passará a ser o meu representante legal, diga-
mos, meu procurador e empresário, o que responde pelos meus interesses. Dar-lhe-ei um bom
salário e,. assim, você não se sentirá humilhado ao pensar que está vivendo às minhas custas.
- Você quer mesmo que eu seja seu empresário?
- Isto, você será meu empresário. – Falei.
- Mas seu empresário não é nosso pai?
- Nosso pai será o guardião do meu dinheiro, eu não quero tocar em dinheiro, tudo   ficará   ao
encargo do senhor Arquimedes... Concorda, pai?
- Que se faça, meu lindo, tudo como você planeja. Concordo, sim, claro! – Disse Arquimedes.
- E eu terei direito a uma mesadinha? – Questionou Adão.
- Você, Adão, juntamente com Cristiano e Teresa terão direito a uma MESADONA todos os me-
ses. Gostou de saber?
- Ôba! – Gritou Adão, feliz. – Lógico que sim. Estou, quero dizer, estamos todos navegando nos
mares da felicidade. – Colocou Adão.
     Tudo aconteceu como havíamos planejado. Foi dada uma resposta positiva ao   clube    gaú-
cho. Imediatamente chegou em nossa cidade o Presidente da referida agremiação,     ladeado por dois diretores. Assinamos vários papéis e recebemos os duzentos mil reais das luvas. Nos-
sa viagem estava programada da seguinte maneira: eu teria que concluir o campeonato   pelo
Dínamo ( esta foi uma condição imposta por mim ) e, após, viajaríamos    todos. Os    gaúchos
concordaram e nós já estávamos a ganhar nossos salários. As coisas ocorriam depressa, o tem-
po igualmente voava ( embora não houvesse asas ). Ganhamos o campeonato local e,   no   dia
seguinte, uma “bomba” estourava na imprensa. Meu pai despertou neste dia com lágrimas nos
olhos, pois, era grande a algazarra dos vizinhos. Todos queriam cumprimentar-me. É   que   eu
havia sido convocado para a Seleção Brasileira da categoria, em minha faixa etária. A explosão
dentro do meu lar foi de muitos vivas e alegrias. Adão me abraçou, emocionado.
- Tudo o que ocorre a você, é a mim que acontece. Eu sinto que é como se fosse comigo. Tudo
Isto. Eu o amo muito, Álvaro, meu irmão lindo...
- Obrigado, mano, eu também o amo muito.
     Posteriormente vieram os abraços. Arquimedes, Cristiano, Teresa... Abri a janela   do   meu
quarto e a pulei, deixando-me tocar e ser apalpado pelos meus amigos da vizinhança. Era mui-
to contagiante todos aqueles arroubos.
- Estamos partindo para o Rio Grande do Sul, entretanto prometo que jamais os esquecerei.
Sempre que puder, virei visitá-los, todos são importantíssimos para mim. – Disse eu.
     E a festa com os vizinhos durou o dia inteiro. Comemoraram de todas as maneiras e eu até
fui bater uma “pelada” no campinho da praça, onde conheci a todos, particularmente a Adão.
Foi lá onde tudo começou.
     Anoitecia quando encerramos as festividades. Dentro de dez dias teria de estar no Rio   de
Janeiro e me apresentar para o treinos da Seleção. Até lá, já estaríamos todos residindo   no
Sul.
     No dia seguinte, logo cedo, uma visita inesperada acontecia em minha casa. Pensei que ja-
mais voltaria a ver aquele povo, no entanto Valquíria Pilet era minha mãe e, disso, não pode-
ria eu nunca me livrar. Era ela em companhia de Almiro que me esperavam no sofá da sala em
pleno domingo.
- Bom dia, Álvaro Silva. Desculpe-nos tirar você tão cedo do seu sono, mas não agiríamos assim
caso não houvesse uma certa urgência. – Observou Valquíria.
- O que querem de mim? – Interpelei com uma cara muito fechada.
- Não é porque agora você é um Silva que eu deixe de ser sua mãe e Germano e Silvana,    seus
irmãos. – Falou.
- Se veio até aqui só para dizer-me isso, a porta da sala é a serventia da casa.
- Calma, Álvaro, - Pediu Arquimedes – Ouça o que lhe trazem, meu filho.
- Serei breve – Prometeu Valquíria – Não estou atrás dos seus ganhos, Álvaro, porém   de   sua
caridade.
- Caridade? Que caridade? – Eu estava impaciente.
- Germano, seu irmão, adoeceu seriamente, Álvaro – Colocou Almiro – Foi diagnosticado   leu-
cemia, tem poucas chances de sobreviver...
     A notícia fez-me sentar no sofá bastante pensativo. Não esperava por isso. Pego de surpre-
sa, não sabia realmente o que dizer, nem o que fazer.
- Eu sinto muito – falei – e o que é que posso fazer por Germano?
- A única chance de sobrevivência dele, meu filho, é um transplante de medula óssea. Eu, Almi-
ro e Silvana não somos compatíveis, Álvaro, você é a derradeira esperança – Confessou Valquí-
ria Pilet.
     Fiquei de pé. Vieram à minha consciência todos os instantes de discriminação e preconceito
que passei perante amigos devido à influência de Germano. Andei de um lado para o outro   da
sala e permiti que as lágrimas levassem meu rosto. Eu era a última esperança, sua vida depen-
dia de mim, caso fosse eu compatível. Abracei-me à minha mãe e chorei, chorei, chorei...      Al-
guns minutos se passaram até que me recobrasse das emoções e coloquei:
- Coloco-me à disposição – disse – aguardem aí só um pouco. Vou tomar um banho e trocar de
roupa. Meu pai Arquimedes me acompanhará. Farei o que for preciso para salvar Germano,
quanto a isso não tenham dúvidas.
- Oh, meu filho, obrigada – Valquíria me abraçou – Deus está vendo tudo isto.
     Não dei resposta. Retirei-me e me preparei para sair. Conforme dissera, Arquimedes acom-
panhou-me e fomos todos até o hospital onde Germano estava interno. Não quis vê-lo e   me
coloquei à inteira disposição dos médicos para todos os exames de praxe. Internei-me   igual-
mente. Enorme ansiedade tomou de conta de todos. Após alguns dias, os médicos anunciavam
através da enfermeira, chefe do setor:
- Você é compatível, Álvaro – Falou- Coloca-se à disposição para o transplante?
- Sim.
      Foi a única coisa que falei. Estava por demais emocionado para   emitir   qualquer   posição.
Precisei ficar quase uma semana internado, até que a equipe médica me liberou a fim de   que
eu pudesse dar sequência à minha vida e aos meus compromissos.
- Pode levar normalmente sua vida – O doutor não é você – Colocou   Dr. Sérgio. –   Boa sorte.
Sou seu fã, garoto!
- Obrigado, doutor. Retirar-me-ei imediatamente, posto que amanhã eu e minha família viaja-
remos para o Rio Grande do Sul, onde haveremos de residir.
- Eu sei, Álvaro. Tenho um filho de sua idade e que é “louco” por você – Confessou Dr. Sérgio-
Por sinal, eu o trouxe hoje a fim de que o conhecesse pessoalmente. Aceita recebê-lo?
- Por que não? Onde ele está? – Indaguei.
- Neste exato momento está a conversar com Germano, que se recupera do transplante.   Te-
nho certeza de que foi sucesso o que fizemos.
- Graças a Deus! – Frisei.
- Venha comigo, sei que seu tempo é curto – Pediu Dr. Sérgio.
     Eu não desejava encarar Germano, mas o destino operou contrário aos meus   propósitos.
Ao lado do médico, entrei nos aposentos em que ele estava instalado. Quando me viu junto a
si, os olhos de Germano se encheram de lágrimas e sua voz ficou embargada. Cheguei à sua ca-
beceira e acariciei seus cabelos quase loiros. Finalmente ele conseguiu falar:
- Eu não merecia o que você fez por mim – Confessou – Nem sei mesmo o que dizer, Álvaro.
- Não diga nada – Aconselhei – Quer eu queira ou não, você é meu irmão e eu não poderia dei-
xá-lo morrer. Fiz minha obrigação. Espero que sobreviva e seja feliz, Germano.
- Pelo menos diga que me perdoa por tudo que fi-lo passar ao longo desses anos – Pediu.
- Só a atitude que tomei de doar a você a medula óssea é o maior de todos os perdões. – Colo-
quei.
     Esta cena foi presenciada por Valquíria Pilet e seu marido, por Silvana e Arquimedes, posto
que neste exato momento adentravam no recinto. Eu e Germano nos abraçamos como verda-
deiros irmãos, pela primeira vez na vida. Posteriormente abracei Silvana, Valquíria e, por   últi-
mo, abracei Almiro. Estava selada definitivamente a paz entre nós.
- Minha mãe, disse eu, ainda hoje eu e meu pai iremos à Justiça e assinaremos um documento
liberando você de pagar-me a pensão. Não preciso mais desta ajuda. Ponha o referido    capital
nas poupanças de Germano e Silvana todos os meses. Deus me abençoou, bem como abençoa
a todos nós.
     Ao concluir as palavras, chamei Arquimedes e rumamos a fazer o   que   acabara   de   dizer.
Após fomos para casa, porque havíamos de preparar-nos para a viagem no dia seguinte.
     Estávamos no avião, a família completa. Rio Grande do Sul era o nosso destino. Ao    descer-
mos no aeroporto, lá estavam à nossa espera toda a direção do clube a que eu serviria. Fomos
levados para uma bela residência.
- Esta casa pertence ao clube. – Disse o Presidente – Vocês nela residirão enquanto estiverem
a servir ao clube. Faz parte de uma das cláusulas do contrato. Boa sorte a todos. E nos    deixa-
ram a sós.



                             VIII

                                    O sucesso
                                        Epílogo

     Não poderia ser melhor nossa convivência no Rio Grande do Sul. Na data prevista, apresen-
tei-me à Seleção e meu desempenho foi notável. Fui titular absoluto em minha posição e arre-
banhamos todos os títulos internacionais que disputamos. Meu nome virou manchete e   me
tornei celebridade do esporte. Era adorado por garotas e garotos do mundo inteiro.     Nunca
podia sair sozinho para qualquer que fosse o lugar, porque era perseguido pela   tietagem   e,
até, pela imprensa a qual não me deixava em paz. Retornei ao Rio Grande do Sul exatamente
no dia em que estava a completar 15 anos. Não fizemos festa pública, comemoramos apenas
em família, assim foi o meu desejo.
     Pelo time gaúcho, embora tenhamos perdido alguns embates, conquistamos todos os títu-
los locais e nacionais da categoria. Como atleta valia uma fortuna e, meses depois, uma    pro-
posta astronômica chegava à agremiação gaúcha a fim de que me liberassem para o   futebol
espanhol. Os dirigentes do clube em que eu atuava, várias vezes me convocaram   para   uma
reunião. Na sessão estavam sempre presentes meu pai, Arquimedes e meu empresário, meu
irmão Juvenal, que havia se casado e, em breve, tornar-se-ia pai. Estava feliz da vida.    Eu não
pretendia abandonar o país, no entanto não era isso o que permitia transparecer aos     meus
patrões, assim, cheguei aos 16 anos ganhando a fabulosa quantia de quatrocentos   mil   reais
mensais. Adão e Cristiano estudavam e logo entrariam numa faculdade. Estavam encaminha-
dos. Juvenal, como meu empresário, tinha ótimo salário: cinquenta mil reais por mês. Teresa
trabalhava com Arquimedes, ambos eram os responsáveis pela aplicação do nosso   dinheiro.
O que mais poderia eu desejar da vida? Tudo se transformara em derredor de mim. Daquela
criança tímida, sofredora, solitária de anos passados, nada amais restava. Eu era ídolo   para
jovens de todo o mundo e fazia questão de a todos atender em meus perfis das redes sociais.
Vez por outra dava de afoito e atendia a convites de tietes, que me convidavam a passar tar-
des ou dias inteiros em suas residências quando, na oportunidade, jogava, conversava e brin-
cava com eles. E tudo sempre acontecia dentro dos parâmetros na normalidade, sem maiores
consequências.
     Certa vez atendi ao convite de uma revista de circulação internacional. Na oportunidade,
relatei toda a minha trajetória até chegar onde conseguira nos dias atuais, tudo isso de forma
compartilhada com uma centena de fotos minhas publicadas. Venderam no mundo   inteiro
mais de duzentos milhões de exemplares.
     Minha vida estava completa, aliás, era completa... Ou faltava alguma coisa? Em minha cabe-
ça nada me faltava, era muito feliz ao lado dos meus familiares. Chegamos, inclusive, a rece-
ber Valquíria Pilet, Almiro, Germano e Silvana em nossa casa para umas férias.    Estávamos
todos unidos, nada mais havia que pudesse interferir em nossas relações. No dia em estavam
a despedir-se, no aeroporto, Germano me confidenciou:
- Estou com uma namorada. Uma linda garota chamada Salete. Silvana namora Caetano e vo-
cê via ficar solteiro?
- Sinceramente, Germano, meu coração ainda não está preso a ninguém. Quem sabe? Quan-
do eu descobrir alguém que queira a mim a não ao meu dinheiro, aí sim, talvez mude de ideia.
FIM
              


Biografia:
Nascido em Recife, em 09/10/1953. Professor de língua portuguesa e literatura. Poeta desde adolescente. Livros publicados: SINFONIA DE AMOR; POESIA, AMOR E VIDA; REFLEXOS; SEARA DE RITMOS; SO...NETANDO.Temas mais comuns em seus versos: o amor, a natureza, o homem, o socia, o cosmos, o metafísico, religiosidade...
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