Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
Cacique Xamã Iorubá
Maria Vitoria

- Índios. Índios e seus tambores barulhentos. Vê? Ou melhor, ouve?

- Não ouço nada.

- É engraçado. Os índios passam em cima da sua caixa d'água, tocando seus tambores e fazendo seus rituais. Como você não consegue ouvir isso?

- Você está chapada. Muito chapada.

- Será que você consegue conversar com eles? Falar pra eles tocarem seus tambores um pouco mais baixo? Preciso dormir.

- Mais a gente não ia transar?

- Iamos?

- Sim, você disse.

- Quando isso? Antes ou depois dos índios fazerem a dança da chuva?

- Meu, para com essa brisa. Poxa vida, eu peguei até esse consolo aqui...

- HA HA HA HA HA... Isso não é um consolo sexual em formato de pinto, isso é um cacique da tribo xamã, olha só pra ele, todo vermelho e corpudo. Um grande e belo cacique xamã iorubá. HA HA HA HA...

- Sério, porque você sempre faz isso?

- Isso o que?

- Por que você sempre estraga tudo entre a gente?

- Mas não existe a gente. Existe o nós aqui e agora. Eu, você, os índios na sua caixa d’água e claro, seus dois amigos acasalando naquele colchão nojento no chão na sua sala.

- Eu tava aqui de boa fazendo minhas coisas, levando minha vida. De repende você aparece na minha porta, no meio da noite, com a maior cara lavada e me diz, “Eai, blz? Eu tava passando aqui por perto e resolvi dar uma passada aqui pra te ver.” Você é tão falsa que não sabe nem mentir. Você mora à uma hora de distancia da minha casa, Vick. Por que você faz isso comigo?

- Eu estava mesmo aqui por perto, eu só não queria ir pra casa agora, então resolvi dar uma passada por aqui pra gente trocar uma ideia.

- Esse que é o problema.

- O quê? A gente trocar uma ideia?

- Não. Você sempre some da minha vida. Sem mais nem menos. Uma hora você tá aqui na outra quando eu pisco você já se foi. E eu fico sem saber como você tá ou quando você volta. Sempre fico tentando saber aonde é que você se esconde e com quem você esta. Então do nada você resurge deus sabe lá da onde, no meio da noite, na porta da minha casa, com esse seu olhar de cafajeste e esse seu sorriso insuportável e finge que nada aconteceu, que nunca foi embora nem nada. Como você pode ser tão fria e fazer isso sempre comigo?

- Meu senhor que exagero, Cristina. Até parece que eu to sempre viajando pra outros continentes e sempre esqueço de mandar um cartão postal com algum monumento histórico de cada cidade. Calma lá mulher, vamos relaxar...

- Eu te odeio sabia?

- Me conte algo que eu já não saiba ou que eu não ouça ao menos de três a quatro vezes por semana de alguma garota.

- Você tá namorando alguém?

- Bom, até quarenta minutos atrás quando eu desliguei o telefone eu estava.

- Como é o nome dela?

- A da semana se chama Letícia. E a do final de semana se chama Suzana.

- Você tá me dizendo que tá com duas namoradas?

- Se for isso que você esta me perguntando, sim.

- E elas sabem dessa patifaria?

- Por acaso o seu namorado sabe que você esta louca pra dar pra mim?

- É diferente.

- Diferente por quê?

- Traição por traição todos nós vamos para o inferno.

- Vamos mudar de assunto.

- Tudo bem, mas antes deixa eu terminar de fumar esse baseado.

“Buga Buga...” Fazia os índios com seus tambores de pele de veado amarrados com cipó. O cheiro de Eight no ar do quarto se misturava ao cheiro de mofo do colchão esburacado, das cobertas finas e geladas e das paredes com infiltração.

- Calma, vai devagar... minha buceta não é brinquedo não.

- Eu nunca comi ninguém usando um cacique.

- Isso não é um cacique, isso é um consolo.

- Parece um cacique xamã iorubá.

- Cala a boca. Você vai ou não vai terminar de me comer?

- Talvez.

- Não vem com essa de talvez. Me come logo.

- Eu não vou conseguir com todos esses índios aqui olhando pra gente, todos pelados com seus bagos murchos e roxos.

- Porra sério mesmo que você ainda tá chapada desse jeito? Faz mais de quatro horas que você fumou aquele beck. Por falar nisso, cadê o restante do chá que você comprou? me deu uma vontade de dar uns tragos agora.

- HA HA HA HA... Acabou!

- Como acabou? O Diego comprou uma bucha de cinco.

- Exatamente. Eu fumei a bucha do Diego toda. HA HA HA HA HA...

- Você é inacreditável, sabia?

- A gente ainda pode transar no pelo?

Uma alta e longa gargalhada se fez dentro daquela pequena casa no meio da favela. Um cachorro latiu raivoso enquanto perseguia um gato que caçava um rato. Diego e Julia gemiam sem pudor em cima de um colchão velho e encardido jogado no meio da sala. Cristina abriu as pernas, retirou o consolo e o grudou na cabeceira da cama. A coisa vermelha ficou lá, ereta me encarando, esperando que eu fracasse-se também. Fui com os dedos, ou melhor, no pelo. Aquela noite eu não fracassei. Não fui derrotada. Os índios não venceram a guerra e as baratas que transavam dentro da lata de açúcar em cima do balcão da cozinha da casa de Cristina iriam proliferar e dominar o mundo. Sim, elas iram.


Biografia:
Fazendo da escrita minha válvula de escape desde, 1998 e bolinha...
Número de vezes que este texto foi lido: 52799


Outros títulos do mesmo autor

Poesias lagrimas de papel maria vitoria
Cartas Cartas para, Carolina Maria Vitoria
Crônicas Derivações de uma sexta-feira Maria Vitoria
Crônicas Formule ódio e perdão na mesma frase Maria Vitoria
Contos Cacique Xamã Iorubá Maria Vitoria
Poesias Amor dê Amora Maria Vitoria
Crônicas 748R - 10 Barra Funda Maria Vitoria
Crônicas Mulher, preta, pobre, lésbica... PRESENTE Maria Vitoria
Poesias Me deixe ser a luz Maria Vitoria
Poesias Amar sem TEMER Maria Vitoria

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 11.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 68892 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57830 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 56642 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55697 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 54918 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54735 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 54721 Visitas
O TEMPO QUE MOVE A ALMA - Leonardo de Souza Dutra 54641 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54630 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54547 Visitas

Páginas: Próxima Última