CONTO.
Ela devorou os três filhos, cuspiu, mas não vomitou... pegou o beco caiu na rua, louca e cheia de vontade de queimar uma pedra. Na mente, ela tinha feito uma comunhão entre a carne o espirito e na loucura "vulgo nóia', vazou cambaleante feito pipa sem rabiola...suja e errante, ninguém na noite que, á via, reagia nem se surpreendia "hoje essas mazelas são tão corriqueiras" muito menos se compadeciam, da vulgar canibal assassina...ela tonteou perto do ponto...tropeçou e miseravelmente partiu desse plano, subitamente e abrupto como relâmpagos de setembro.
O SAMU demorou, mais do que de costume, e ninguém reclamou a morte da velha podre viciada em crack.
Pós mortem
Acordou....arfante, eu a vi de longe, ainda não podia me aproximar... Os fluxos e fluidos..em torno dela exasperavam..E foi ali que pedi discernimento ao mestre...olhando de longe, quase na bruma, notei sua incapacidade e perplexidade...parecia diferente, mas era a mesma na essência, não tinha se desapegado da carne e dos vícios.
Me perguntei, "porque eu?". Porque que estava ali, e por que sabia de tudo sobre ela "aquela imunda, lixo de ser humano, assassina dos filhos, bêbada, drogada..." não sabia , só observava impotente e compulsivamente. "é castigo?" uma luz dizia sem voz que não, sei lá...to confuso... e ela em brados convulsos chorava alto, num tom agudo, parecia um violino roubado, tocado por pobres numa esquina qualquer..."senhor não quero e nem posso ver isso...me perdoe pai, sou e sempre fui trabalhador, honesto, tenho consciência que pequei, mas não quero ver essa maldita e muito menos saber, de seu crime"...foi assim que orei, me sentindo meio tolo... era inevitável,..nesse instante ela correu na minha direção, "a canibal, noia nojenta" , pensei em correr porem, meus pés se fincaram no chão como estacas...desespero total, percebi ela perto e senti sua fétida respiração..."pai me livre perdão!!!!" o bafo quente ainda com cheiro de carne queimou minha face..fechei os olhos..e ouvi um murmurio de dor....que indizivelmente traduzi.."essa é sua ultima chance!"
Acordei suado num negro quarto, como Gregório de Kafka em sua gutural "metamorfose", estava semi nu e deformado em sombras passadas, engulhando sentimentos do meu tempo não vivido, percebendo que, mesmo, sobrevivendo metafisicamente a esse vil intento e apesar das rezas o do arrependimento, a tempos "eu" já havia expirado desse plano onde, as castas sociais, raciais e culturais nos divide dos semelhantes...mas não se enganem hoje ficou irremediavelmente provado que todos somos almas errantes nos maravilhosos planos de DEUS! (OREMOS PELA LOUCA CANIBAL)
Lauro Freitas (2016)
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