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O Exercício e o Lucro da Piedade
J. C. Philpot

Título original: The Exercise and Profit of Godliness

Por J. C. Philpot (1802-1869)

Traduzido, Adaptado e Editado por Silvio Dutra

"Exercita-te a ti mesmo na piedade. Pois o exercício corporal para pouco aproveita, mas a piedade para tudo é proveitosa, visto que tem a promessa da vida presente e da que há de vir." (1 Tim. 4: 7, 8)

O homem foi chamado, e talvez com alguma verdade, um ser religioso. De qualquer modo, a religião de algum tipo parece quase indispensável à sua própria existência; pois desde a nação mais civilizada até a tribo mais bárbara sobre a face da terra, encontramos alguma forma de religião praticada. Se isto se enraíza na própria constituição do homem, ou se é recebido pelo costume ou pela tradição, não vou fingir decidir; mas que algum tipo de religião é quase universalmente predominante, é um fato que não pode ser negado.
(Nota do tradutor: Deus criou o homem para ser adorado por ele, e assim há uma inclinação natural em toda pessoa para a adoração. Todavia, quando falta o verdadeiro conhecimento de Deus esta adoração é direcionada para falsos deuses ou mesmo para pessoas e objetos que são constituídos como ídolos para serem adorados, e isto pode ser visto até mesmo naqueles que afirmam não crer na existência de Deus. A sua inclinação para adorarem algo supremamente testifica que apesar de negarem a Deus com a boca, confirmam que foram de fato por Ele criados uma vez que manifestam esta tendência para a adoração.)
Mas, não há religião verdadeira, assim como falsa religião? Se o grande volume da humanidade está envolto numa falsa religião, não há um "remanescente segundo a eleição da graça", que possui a verdadeira? Será que essa promessa falhou em sua realização: "Chegarão e anunciarão a justiça dele; a um povo que há de nascer contarão o que ele fez."? (Salmo 22:30). O Senhor Jesus Cristo ainda não reina à direita de Deus, cheio de dons e graça? E ele não prometeu estar com sua igreja e povo até o fim do mundo? Assim, embora seja perfeitamente verdade que o grande volume da humanidade segue após as sombras, contudo existem alguns cujas almas estão realmente atentas à substância. Se há aqueles que estão dispostos a acreditar em uma mentira, há aqueles que amam a verdade; e se há aqueles que adoram o que eles não conhecem, ainda há "a verdadeira circuncisão, que adora a Deus no espírito, se alegra em Cristo Jesus, e não tem confiança na carne".
Penso que encontramos esses dois tipos de religião, falsa e verdadeira, terrena e celestial, carnal e espiritual, natural e sobrenatural, discriminados nas palavras que temos diante de nós. Pois parece que o Apóstolo chama a religião falsa de "exercício físico", e diz a Timóteo que esse exercício corporal "para pouco aproveita"; e por meio de um contraste com esta falsa religião, esse exercício corporal que "pouco aproveita", o exorta a "exercitar-se na piedade", assegurando-lhe que "a piedade é proveitosa para todas as coisas, tendo promessa da vida que agora é, e daquela que há de vir."
Nosso texto, então, se divide em dois ramos.
I. "Exercício corporal", que "para pouco aproveita". E,
II. "Piedade", que é "proveitosa para todas as coisas, tendo a promessa da vida que agora é, e da que há de vir".
I. Exercício corporal, que para pouco aproveita. Mas, por que o Apóstolo deveria aplicar o termo "exercício corporal" à falsa religião? O que há na expressão que parece descritiva de sua natureza? Vamos examiná-la até o fundo e ver se ela não é descritiva de uma religião da qual Deus não é a origem nem o fim.
Por "exercício corporal", então, entendo o emprego de nossas meras faculdades naturais no serviço e adoração de Deus. E se você olhar para a religião falsa em suas várias formas e sombras, você verá o quanto há nela deste mero "exercício físico". Veja, por exemplo, os sacerdotes de Baal, cortando-se com lancetas, gritando de manhã à noite: "Ó Baal, ouça-nos!" E pulando sobre o altar que haviam feito. O que era isso, senão "exercício físico"? Olhe para os fariseus no Novo Testamento, orando nos cantos das ruas, fazendo amplos seus filactérios, deixando com ostentação seus dons no tesouro, subindo ao templo em certas horas, jejuando em certos dias e escrupulosamente dando dízimos de hortelã, anis e cominho. O que era isso, senão "exercício físico"? Olhe para todas as formas e cerimônias do Papismo; as reverências, adorações, genuflexões, mudanças de roupa, jejuns e maceração do corpo. O que é tudo, exceto "exercício físico"? Olhe para o Puseísmo, que observa certos dias, horas, vestimentas, posturas do corpo, cantos e entoações, murmúrios, e meros movimentos exteriores de órgãos corporais, e todos derivando sua suposta virtude do toque consagrado, o "exercício corporal" da mão de um bispo.
Não é tudo isso mero "exercício físico"? Nada tendo de espiritual, celestial ou divino? E não somente estes, mas a grande maioria dos professantes em geral, que discordam das tradições meramente humanas e seguem um culto mais bíblico, não é a religião deles frequentemente composta de "exercício corporal"? Eles exercitam seus pés andando a pé até a capela; eles exercitam sua voz cantando; seus ouvidos em ouvir; a língua na conversação; os joelhos na genuflexão; eles exercitam também seus olhos ao ler os hinos, ou os cotovelos em cutucar o sono; eles exercitam suas mãos talvez em dar; mas, em tudo, é apenas "exercício físico". Tudo isso talvez sendo feito por milhares, sem um grão da graça de Deus em suas almas.
Mas, o "exercício físico" também pode ser entendido como compreendendo o exercício de faculdades mentais, bem como corporais. Assim, há o exercício do entendimento na compreensão da Palavra de Deus; o exercício do julgamento sobre os dons ou habilidades do pregador; o exercício da memória ao recordar textos e sermões; o exercício das afeições em receber a Palavra com alegria; o exercício da consciência, como lemos sobre aqueles que foram "condenados pela sua própria consciência"; e dos gentios, "a sua consciência também testemunhando, e os seus pensamentos entretanto acusando ou desculpando uns aos outros." (Romanos 2:15). E, no entanto, todo esse exercício é meramente mental e intelectual. Os homens não são necessariamente participantes da graça, embora exercitem seus corpos para chegar a um lugar de verdade, ou exercitar suas mentes em ouvir o que é entregue a partir do púlpito.
O apóstolo diz sobre esse "exercício físico" (pelo qual compreendo o exercício do corpo e da mente juntos, como algo distinto e separado da graça de Deus na alma); que, "para pouco é proveitoso". "Ele lucra pouco". Ele somente aproveita enquanto ele dura. Ele beneficia o corpo, mas não beneficia a alma. Pode beneficiar o intelecto, mas não beneficia o coração. Beneficia para o tempo, mas não para a eternidade. Beneficia para as impressões momentâneas, mas não para a salvação eterna. Beneficia por uma hora ou por um dia; mas não beneficiará no leito da morte, no juízo ou numa eternidade sem fim. Pode ter valor para reprimir convicções, endurecer o coração, prender a consciência, amortecer os sentimentos, encerrar a alma numa profissão sem a graça. Pode-se lucrar até agora (se a palavra "lucro" pode aqui ser usado consistentemente com o significado do termo), mas "pouco aproveita", e lucra por um pouco de tempo, pois "o fim dessas coisas é a morte".
Agora, quando você olha para a sua religião, analise-a, avalie-a e considere-a; você não consegue encontrar muito deste "exercício físico" inerente a ela e combinado com ela? E aqui reside, de fato, uma coisa que muitas vezes deixa a mente perplexa e a consciência de um verdadeiro participante da graça, que embora tenha piedade vital, ele tenha tanto deste "exercício físico" com ele. Na verdade, toda a religião que não é forjada em sua alma de tempos em tempos, pelo poderoso poder de Deus é apenas "exercício corporal". Como então temos uma grande parte da religião que não é de Deus e, portanto, nada além de "exercício físico" (e a consciência de um filho de Deus só pode receber a religião que é operada em seu coração por um poder divino), acontece que, quando ponderamos nossa religião nas escalas do santuário, somos obrigados a escrever "Tekel" (pesado na balança e achado em falta) talvez em nove décimos.
Isso deixa perplexo o julgamento, exercita a mente e tenta a alma de muitos do povo de Deus; porque eles, tendo a luz para ver, a vida para sentir, o juízo para compreender, afeições para abraçar e uma consciência para receber, senão o que é de Deus, suas mentes estão perplexas com a estranha mistura de "exercício físico" com piedade vital e espiritual. Mas há essa distinção entre o filho de Deus e aquele que está completamente envolvido no "exercício corporal", de que um homem que não tem nada além de "exercício corporal" está satisfeito com ele; não tem ânsia de nada melhor, celestial ou divino; enquanto um filho de Deus conta toda a sua justiça como trapos imundos, atropela toda a sua falsa religião, assim como as suas próprias obras, e não se satisfaz senão com aquilo que a mão de Deus deposita no seu coração e a boca de Deus fala à sua alma.
II. A piedade, que é proveitosa para todas as coisas. Mas, passamos ao nosso segundo ponto, que é considerar essa "piedade", que é tão eternamente distinta do "exercício físico", que lucra pouco; e da qual o apóstolo diz, é "útil para todas as coisas".
Mas, o que é "piedade"? Devemos distinguir entre "piedade" e "exercício de piedade”. O Apóstolo faz essa distinção. Ele diz a Timóteo: "Exercita-te na piedade, porque a piedade é proveitosa para todas as coisas". Ele, portanto, estabelece uma distinção entre "piedade" e um "exercício" na piedade. Vamos primeiro, então, ver o que é "piedade", e então seremos mais capazes de ver o que é "exercício" na piedade.
Por "piedade", então, devemos entender o que vem imediatamente do céu; aquilo de que o próprio Deus é o autor; que "desce do Pai das luzes, em quem não há variação, nem sombra de variação". (Tiago 1:17). O Senhor Jesus é "o autor", que é o iniciante, bem como "o consumador da fé"; e da "boa obra" que Deus prometeu cumprir, é dito também ser "iniciada" por ele. Todo grão, portanto, de verdadeira religião, toda centelha de piedade vital, vem direta e imediatamente de Deus.
Mas, essa "piedade" tem ramos, partes, graças, dons, ensinamentos e operações ligados a ela. Porque a piedade é um assunto muito amplo; abraça toda a obra da graça do primeiro ao último, desde o primeiro suspiro de convicção até o último aleluia de um santo partindo. A piedade abarca toda a obra do Espírito; e já que o trabalho é tão abrangente e diversificado, deve ser um assunto muito extenso. Compreende arrependimento, fé, esperança, amor, oração, humildade, contrição, quebrantamento, paciência; em uma palavra, todo ato do Espírito abençoado sobre a alma e todo fruto que brota da ação do Espírito Santo sobre o coração.
Mas, a principal coisa que o Apóstolo dirige a seu filho Timóteo, e a qual desejo dirigir às suas mentes, é o "EXERCÍCIO" da piedade. A piedade às vezes parece estar ainda no coração. Está lá, mas sem muito movimento aparente. A vida de Deus nunca morre na alma; mas tem os seus rebentos e fluxos, as suas pulsações, os seus movimentos, os seus despertares, os seus desejos, os seus sentimentos, os seus atos, as suas saídas, as suas condições. Esta é a vida da religião na alma. De fato, só sabemos que somos participantes da piedade ao sentir o exercício dela no coração.
O exercício, também, da piedade é conhecido pela oposição que encontra. Toda graça da alma é de vez em quando atraída para o exercício; mas é atraída geralmente pela oposição feita a ela, pelas dificuldades que tem que superar, pelos inimigos que tem que encontrar, pelos conflitos que tem que atravessar. E como o corpo só é mantido saudável pelo exercício; como um homem pode ficar deitado na cama até morrer nela por falta de exercício, então a religião deve ser continuamente exercitada para que a alma possa estar viva e saudável para Deus. Todos os frutos e graças do Espírito estão, por assim dizer, ficam estagnados na alma, exceto na medida em que são levados a um exercício vivo, individual e ativo.
A. Examinemos um pouco mais de perto essas várias graças, e vejamos como elas são levadas ao exercício.
1. Há a graça do arrependimento, a tristeza pelo pecado, o santo luto pelas iniquidades do nosso coração, lábios e vida. Mas não é esta tristeza santa, essa contrição, este arrependimento, este luto pelo pecado? Esta graça do Espírito não está estagnada, por assim dizer, e adormecida na alma? Tem então que ser extraída, e ser exercitada. E é de vez em quando atraída para o exercício, como Deus tem o prazer de colocar sobre nossas consciências a sujeira e culpa, o peso e carga do pecado; para colocar diante de nossos olhos o Senhor Jesus Cristo em seus sofrimentos no madeiro do Calvário; ou para derreter e suavizar o nosso coração com alguns toques suaves do Espírito; e assim fazer-nos sentir o arrependimento. Aqui está o exercício do arrependimento.
2. Assim com a fé. Você pode ter fé; e sem dúvida há aqueles a quem me dirijo que a possuem. Mas não está esta preciosa graça e dom da fé muitas vezes, por assim dizer, em suas almas tão adormecida, que você não pode despertá-la? Tão estagnada, que você não pode movê-la? Mas, o Senhor se deleita de tempos em tempos, colocando as coisas eternas com peso e poder sobre a consciência, aplicando alguma verdade ao coração, visitando a alma com seu Espírito e graça, colocando Jesus diante dos olhos, dirigindo nossos desejos para si mesmo; o Senhor fica satisfeito em chamar em exercício esse princípio latente de fé, que antes estava enterrado e escondido no peito. É atraído para o exercício; olha para Jesus, crê e paira sobre o Senhor Jesus Cristo. Ele recebe de sua plenitude; ele vem a ele pobre, necessitado, nu, fraco, desamparado, e recebe força para acreditar em seu nome; olhar para ele; e lançar-se totalmente sobre ele.
Olhe para Jonas no ventre do grande peixe, quando ele chora como se fosse do próprio ventre do inferno; como achamos a fé sob os exercícios de sua alma; "Mas eu voltarei a olhar", diz ele, "para o seu santo templo!"
Olhe para Ezequias em cima de seu leito de enfermidade e, para seus sentimentos, no leito da morte; como ele se virou para a parede e clamou: "Lembra-te agora, ó Senhor, peço-te, de que modo tenho andado diante de ti em verdade, e com coração perfeito, e tenho feito o que era reto aos teus olhos."
Olhe para Davi através de todas as suas diversas tribulações, aflições e perseguições; como seus olhos e coração continuamente erguiam a fé para o Senhor e descansavam inteiramente sobre ele! E, de fato, Deus coloca seu povo de vez em quando em tais situações e circunstâncias difíceis, em que eles não têm mais ninguém para olhar. Eles não têm outra ajuda, abrigo ou refúgio; mas por pura necessidade são obrigados a lançar suas almas sobre Aquele que é capaz de salvar. E nisso frequentemente encontramos o exercício da fé.
3. Assim, com o exercício da esperança. Como o pobre filho de Deus afunda, às vezes, em tal angústia e desânimo que quase não lhe resta mais um grão de esperança!
Quando Satanás tenta, e a culpa pressiona sua consciência, como sua alma é agitada dentro dele! E quando Deus esconde o seu rosto, e não sente ajuda nem forças permanecendo em si mesmo, como o seu coração fica desanimado e quase desesperado! Mas como, também, nestas ocasiões é a sua esperança reavivada! Como o Senhor pode e aplica uma promessa adequada ao seu coração desanimado! Como ele pode trazer à sua lembrança o que ele fez por ele nos tempos antigos; as colinas de Mizar em que ele esteve; o Ebenézer que ele foi habilitado a levantar! Como o Senhor, colocando seu braço secretamente debaixo de sua alma, pode sussurrar uma esperança em seu peito para que não se envergonhe, e lhe dá uma âncora segura e firme dentro do véu.
4. Então, quanto ao amor; quão fria, quão morta, quão insensível, quão inanimada é a alma, às vezes, em relação a Deus e à piedade, como se nunca tivesse havido uma faísca de afeto espiritual nem a Deus nem ao seu povo! Mas, como o Senhor pode, às vezes, derreter a alma em afeição e amor, e tornar Jesus verdadeira e realmente querido, próximo e precioso! Como somos dependentes do Senhor, não só pelas comunicações da piedade, mas também pelo exercício da piedade! E como Ele próprio precisa exercitar suas próprias graças na alma!
B. Mas, passamos a considerar como esta "piedade", ou melhor, o "exercício" da piedade é "proveitoso para todas as coisas". O apóstolo falando de "exercício físico" declara que "para pouco aproveita; mas a piedade", ele diz, "é proveitosa para todas as coisas". Que termo abrangente; "todas as coisas!" De modo que não pode surgir uma única circunstância em que a piedade não será rentável. Todos os estados, todas as circunstâncias, todas as condições; adversidade ou prosperidade; o que o mundo chama de felicidade, ou o que o mundo chama de miséria - de todas as circunstâncias complicadas que acontecem a um filho de Deus através de sua peregrinação aqui embaixo; e em todas elas, a piedade é proveitosa.
Nem sempre aos seus sentimentos, nem sempre ao seu julgamento, nem sempre à sua apreensão; pois, em geral, as coisas mais lucrativas são para os nossos sentimentos as mais dolorosas. E, no entanto, "a piedade é proveitosa para todas as coisas". Você não pode ser colocado em qualquer circunstância adversa em que a piedade não seja proveitosa; você não pode sofrer qualquer aflição ou provação em que a piedade não seja rentável. Não há um único evento que possa acontecer a você, na providência ou na graça, para o qual a piedade não será encontrada no final real e verdadeiramente rentável.
Mas, o que é "rentável?" Eu posso defini-lo em uma frase curta; é o que faz a alma boa. Agora a "piedade" é proveitosa para todas as coisas, como fazendo a alma boa em todas as circunstâncias. Aqui está separada de tudo de uma natureza mundana. Aqui se distingue do "exercício físico que para pouco é proveitoso", pois ela é "proveitosa para todas as coisas". Na doença, na saúde; na luz do sol, na tempestade; sobre o monte, no vale; sob qualquer circunstância o filho de Deus pode ser, "piedoso", ou melhor, se "exercitar" na piedade, que é rentável. E ela é tirada destas circunstâncias. Vive diante das provações; é reforçada pela oposição; torna-se vitoriosa pela derrota; ganha o dia apesar de todos os inimigos; ela "está em cada tempestade, e vive por fim."
Não morre como o "exercício físico"; não floresce e desaparece em uma hora; não é como a aboboreira de Jonas que cresceu e murchou em uma noite; não deixa a alma nos horrores do desespero quando mais precisa de conforto; não é um amigo inconstante e falso que vira as costas nos dias escuros e nublados da adversidade. É "um amigo que ama em todos os momentos", pois o Autor dela "fica mais perto do que um irmão". Ela pode chegar a um leito de doença quando o corpo está cheio de dor; ela pode entrar em uma masmorra, como fez com Paulo e Silas, quando seus pés estavam no tronco; pode ir, e foi com mártires para a estaca; acalma o travesseiro da morte; leva a alma para a eternidade; e, portanto, é "útil para todas as coisas". É um amigo firme; um companheiro abençoado; a vida da alma; a saúde do coração; sim, "o próprio Cristo em vós, a esperança da glória". É a própria obra de Deus, a própria graça de Deus, o próprio Espírito de Deus, a própria vida de Deus, o próprio poder de Deus, os próprios tratos de Deus, que terminam na própria felicidade de Deus; e, portanto, é "útil para todas as coisas".
Mas, compare esta obra de graça com a alma, este ensinamento de Deus no coração, esta vida de fé no interior; compare esta religião vital, espiritual, celeste, divina, sobrenatural, com aquela frágil falsidade do "exercício corporal". Compare os atos de fé real, esperança real, amor real; os ensinamentos, as relações, as orientações e as operações do Espírito Santo na alma, com rodadas de deveres, formas supersticiosas, cerimônias vazias e uma religião teórica, por mais enrugada que seja, por mais envernizada que seja. Compare a vida de Deus no coração de um santo, em meio a todo o seu abatimento, desânimo, provações e tentações; compare esse precioso tesouro, a própria graça de Cristo na alma, com toda religião exterior, superficial, frágil e nocional. Oh, não é mais para ser comparado do que um grão de pó com um diamante; não mais para ser comparado do que um criminoso em uma masmorra ao soberano no trono. Na verdade, não há comparação entre elas.
Oh, que misericórdia para você e para mim, se formos participantes da piedade; se a graça do Senhor está em nossa alma; se há algo divino em nosso coração! Nós o acharemos "proveitoso para todas as coisas". Não vai sair na escuridão; não expirará como uma lâmpada tremulante; mas queimará mais brilhantemente até ser dia perfeito. Não precisamos invejar ninguém, se formos participantes de um só grão de piedade vital. Não precisamos invejar nenhum professante, por mais elevado que seja; não, não precisamos invejar nenhum filho de Deus, por mais favorecido que seja. Se houver verdadeira graça em nossas almas, será achada "proveitosa para todas as coisas." Ela vai fazer boa a alma. Há uma realidade nela; uma bênção nela; pois há vida eterna e bem-aventurança imortal nela. É de Deus; veio de Deus, e conduz a Deus. Ela começa na terra, mas é consumada no céu. E, portanto, dizemos, é "proveitosa para todas as coisas."
C. Mas há outra coisa dita disso; que tem "a promessa da vida que é AGORA". O que é "a vida que agora é?" E como a piedade é a promessa disso tanto quanto do futuro?
1. "A vida que agora é"; a vida que vivemos na carne; a vida desses corpos mortais; é, na maior parte, uma vida de AFLIÇÃO. Porque o Senhor escolheu a sua Sião na fornalha da aflição. Se sofremos com ele, devemos ser glorificados juntamente. Ora, a piedade tem "a promessa da vida que agora é", como uma vida de aflição. E ó, como a aflição real nos amortece para tudo mais! Quando não há aflição, o mundo dança diante de nós com um raio de sol sobre ele; atraente, deslumbrante, e bonito; e nós, em nossas mentes carnais, podemos voar de flor em flor como uma borboleta ao sol. Nossa religião está em baixa quando este é o caso; pode haver uma profissão decente; mas quanto a qualquer vida e poder, quão pouco há, exceto quando a aflição pressiona a alma para baixo! A verdadeira religião está no fundo; não é um balão pairando sobre nós a quilômetros no ar. É como a verdade; está no fundo do poço. Precisamos então descer para a religião, se quisermos ter isso realmente em nossos corações.
O Senhor Jesus Cristo era "um homem de dores, e familiarizado com o sofrimento". Ele tomou o lugar mais baixo, último e menor. Ele estava sempre embaixo; de modo que, se quisermos ser companheiros do Senhor Jesus Cristo, devemos descer com ele, descer ao vale, descer aos sofrimentos, descer à humilhação, à provação. Quando ficamos inchados pela alegria mundana, ou exaltados pela excitação carnal, não simpatizamos com o Senhor Jesus Cristo em sua condição sofredora; nós não vamos com ele então para o jardim do Getsêmani, nem o vemos como "o Cordeiro de Deus" sobre o madeiro maldito.
Nós podemos fazer sem Jesus muitas coisas quando o mundo sorri, e as coisas carnais são superiores em nosso coração. Mas venha a aflição, uma pesada cruz, um fardo para nos pesar, então cairemos no lugar onde somente o Senhor Jesus Cristo pode ser encontrado. Encontramos então, se o Senhor se agrada de trazer um pouco de piedade para a alma, e para atrair esta piedade em exercício vital, que tem "a promessa da vida que agora é". Há promessas ligadas a ela de apoio, força, conforto, consolação e paz, dos quais o mundo inteiro nada conhece; há uma verdade nela, um poder, uma realidade, uma bênção nela, que a língua nunca pode expressar. E quando a alma é pressionada no vale da aflição, e o Senhor se agrada em encontrá-la lá, e visitá-la então, e atrair a piedade em sua atuação e exercícios, então se descobre que tem "a promessa da vida que agora é." Fé, esperança, amor, arrependimento, oração, humildade, contrição, longanimidade e paz; todos esses dons e graças do Espírito são exercitados principalmente quando a alma está em aflição. Aqui está "a promessa da vida que agora é", na elaboração destas graças celestiais no coração.
2. "A vida que agora é", é uma vida de TENTAÇÃO. "Ele foi tentado em todos os pontos como nós somos, mas sem pecado." (Hebreus 4:15). "Jesus foi levado ao deserto para ser tentado pelo diabo". (Mateus 4: 1). E devemos compartilhar com ele também nestes sofrimentos. É, então, uma vida de tentação. Ó, como continuamente o pobre filho de Deus é tentado! E que fortes tentações! Quão dolorosas, quão poderosas! Como enredam! Como assediam! Como enfeitiçam com satânica escuridão! Mas, quão mais satânico é o diabo quando se transfigura em anjo de luz! Como continuamente o filho de Deus é exercitado com a tentação! Tentação tão adequada, tão poderosa, tão avassaladora, que nada além da graça de Deus pode subjugá-la ou livrar a alma dela.
Mas a piedade tem a promessa da "vida que agora é", embora "a vida que agora é", em sua maior parte, seja uma vida de tentação. Pois é quando a piedade está em exercício, que a força da tentação é derrotada. Mas onde estamos? O que nós somos? O que nós fazemos? O que não devemos fazer? Quando o pecado e a tentação se encontram, e a graça do Senhor não intervém? Ora, "a piedade tem a promessa da vida que agora é", para que "não sejais tentados acima do que podereis suportar, mas com a tentação Deus fará um caminho para escapar, para que possais suportá-la". E assim livrar (porque o Senhor sabe como livrar) o piedoso da tentação. Ele pode quebrar a tentação em pedaços, ou então livrá-lo da tentação por completo.
3. Mas é uma vida de PROVAÇÃO. "O Senhor prova os justos". (Salmo 11: 5). De fato, uma vida justa é, em sua maior parte, uma vida provada. Não há um filho de Deus, cujas graças sejam vivas e ativas, que não sejam provadas em sua alma. Eu não tenho mais a crença de que a alma possa viver sem exercício do que o corpo possa. Quanto mais a alma for exercitada, mais saudável ela será. A provação é uma das principais fontes de exercício. Se você é provado quanto à sua posição, provado quanto ao seu estado, provado quanto à realidade da obra da graça sobre a sua alma, provado na sua experiência; provado quanto às suas manifestações, libertações e evidências; provado pelos seus pecados, por Satanás, por professantes; e, acima de tudo, provado por seu próprio coração, e isso continuamente; manterá sua alma em exercício.
D. E isto é "exercício na piedade". Se estes exercícios são para a piedade, eles levam à piedade, eles te levam para o caminho da piedade, eles te aproximam da piedade, eles te levam à piedade; e, acima de tudo, trazem piedade à tua alma. E assim, há um exercício da alma na piedade. O seu coração às vezes parece sem um grão dela? Vocês veem o que é a piedade em sua natureza, em seus ramos, em seus frutos, em suas graças, no que um cristão deve ser, prática, experimentalmente e real; externa e internamente; na igreja e no mundo. Você diz: "Sou cristão? Sou uma pessoa piedosa? Deixe-me comparar-me com a piedade. Eu sou piedoso? Há graça em meu coração? Eu vivo? Eu falo? Eu acho? Eu ajo? Eu ando? Eu vivo como deve um cristão? A minha vida, a minha profissão, a minha conduta; na família, no mundo; nos negócios, na igreja; em casa, no exterior; abertamente, em segredo; em particular, em público; é tal que posso tomá-la e colocá-la passo a passo, com a piedade vital, real, experimental, bíblica? Ó, você diz, eu me encolho na hora da prova. Há muitas coisas em mim interna e externamente que não suportarão ser pesadas pela piedade como revelada nas Escrituras da verdade.
Bem, sua mente é exercitada, eu suponho, quando você tem estes funcionamentos. Agora qual é o resultado? É um exercício para a piedade. Você quer isso; você se esforça para ele; você chora por isso; você pressiona para alcançá-lo; você sabe que ninguém, senão o Senhor, pode trabalhar isto em sua alma; você se sente necessitado, nu e destituído; você sabe que sem a piedade você não pode nem viver ou morrer feliz; e que deve perecer corpo e alma para sempre.
Agora, se isto está acontecendo no coração de um pobre pecador dia após dia, será um exercício para a piedade. E esta piedade tem "a promessa da vida que agora é", porque a piedade é "proveitosa para todas as coisas"; e tem promessas preciosas para aqueles que são assim exercitados. "Minha graça é suficiente para você." (2 Coríntios 12: 9). "Como é o vosso dia, assim será a vossa força." (Deuteronômio 33:25). "As minhas ovelhas nunca perecerão, nem as arrancarão da minha mão." (João 10:29). "Aquele que começou uma boa obra em vós a completará até o dia de Jesus Cristo". (Filipenses 1: 6). "Nunca te deixarei, nem te desampararei". (Hebreus 13: 5). "Vinde a mim, todos os que estais cansados e oprimidos, e eu vos aliviarei". (Mateus 11:28). "Olhai para mim, e sereis salvos, todos os confins da terra, porque eu sou Deus, e não há outro." (Isaías 45:22). Assim, a piedade tem "a promessa da vida que agora é", tendo tais promessas adequadas às almas que são exercitadas na piedade.
Sua alma é exercitada? Se a sua alma é exercitada, você verá que é para a piedade; e você verá às vezes uma beleza em santidade, que comparada a tudo o mais, faz com que sejam nada. Pois Cristo é a própria piedade, o Autor e o Finalizador; a cabeça e o objeto; o começo, o meio e o fim; e, portanto, ter piedade, é ter Cristo.
Mais algumas palavras, e concluo. A piedade tem a promessa também da "vida que deve vir". Apoia na vida e na morte; e leva a alma para uma feliz e abençoada eternidade; e, portanto, tem "a promessa da vida que há de vir". A graça terminará em glória; fé à vista; esperança em fruição. A alma ensinada de Deus verá Jesus como ele é. Assim, a piedade tem "a promessa da vida que há de vir", quando a paz eterna abundará, as lágrimas serão enxugadas de todos os rostos e a graça consumada em felicidade infinita!



Este texto é administrado por: Silvio Dutra
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