Às vezes eu não entendo minha paixão por números ímpares, meu interesse em signo de fogo, minha continuidade em sempre usar preto.
Às vezes eu não entendo o porquê que eu tento achar justificava no meu mapa astral, em um filme, em personagens de séries favoritas, ou em poesias baseadas no amor.
Às vezes eu não entendo o porquê julgamos ter liberdade mesmo sabendo que somos aprisionados a rótulos.
Às vezes eu não entendo você mesmo sabendo que entenderia eu na mesma condição que a tua, permanecendo na retórica de contradições que se constrói na sua personalidade.
Às vezes eu não entendo como me conformei em ser dominada pela minha ansiedade, mas ao mesmo tempo sinto que sou parte dela, ou que ela é parte de mim.
Às vezes eu não entendo o que eu sou, ou que eu vou ser, ou se devo ser uma condição permanente, ou se mudar me tornaria flexível demais a ponto de não ser nada, ou de simplesmente não ser.
Às vezes eu não entendo a diferença entre se apaixonar e amar, confundo amor com paixão, porque eu sou um ser quente, e isso me dá o direito de ser intensa exatamente como a paixão é descrita na literatura.
Às vezes eu não entendo como vivi ou sobrevivi tanto tempo acreditando em conceitos sociais, religiosos, políticos, sabendo que hoje em dia tudo o que acreditei até agora me tornou uma espécie de cética moderna sem no que se apegar.
Às vezes eu não entendo o meu dia, a minha rotina, o meu trabalho, minha faculdade, e principalmente, mas principalmente a inconstância das pessoas.
Às vezes eu não entendo como passei 22 anos aceitando que a maior demonstração amorosa que terei do meu pai é um abraço, porque na maior parte do tempo a crítica pessoal dele sempre vai ser o gosto amargo e rotineiro que vou sentir e ouvir de sua boca.
Às vezes eu não entendo como minha mãe me olha e não vê o que eu realmente sou, ela insiste em me projetar em tudo o que ela quer que eu seja, me moldando como um vaso feito à mão, usando suas fórmulas imperfeitas construídas e baseadas no que os outros julgam cruelmente ser o melhor para você.
Às vezes eu não entendo como minhas crenças e valores são tão diferentes do que eu me imaginei ser, e ao mesmo tempo me sinto completa com tudo o que sou.
Às vezes eu não entendo como não consigo aceitar falhas, erros, pensamentos e opiniões de pessoas que amo sabendo que cometo idênticas falhas, erros e tenho os mesmos pensamentos e opiniões.
Por que é tão difícil aceitar quando não é com nós?
Por que é tão fácil exigir respeito, mas difícil praticar?
Por que minhas perguntas estão ligadas a clichês?
E de repente minha mente se esvaziou e parte da minha angústia foi embora se transformando nesse pequeno fragmento de palavras que faz parte do meu pensamento constantemente.
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