Login
E-mail
Senha
|Esqueceu a senha?|

  Editora


www.komedi.com.br
tel.:(19)3234.4864
 
  Texto selecionado
SÉCULO XXI
EXTREMA RAPIDEZ
Rubemar Costa Alves

A rapidez do século não nos permite parar para pensar - simplesmente agimos: é a descomunicação. Na verdade, “pra quê?” O negócio é ir logo seguindo em frente.
          “Senhor RAGNAR, é de sua não-livre e não-espontânea pressão que o senhor não-deseja casar com a senhorita LÚCIA?” Padre não esperou resposta, emendou com outra frase: “Se alguém quiser impedir este casamento.........”
          O chão tremeu violentamente, santos começaram a cair dos altares... despertador ainda estremecia e tocava escandaloso quando RAGNAR caiu da cama, suando frio. Avião não espera passageiro.
- - - - - - - - -
          “O edifício é este mesmo, sem sombra de dúvida. Sem as mordomias do atual apart-hotel, mas serve.” Pequeno restaurante num lado do térreo. No entra e sai, mulheres com pão e leite, jovens com pranchas a caminho do mar, estudantes a caminho da escola. Um descompromissado “bom dia” - entrou. Tornou a conferir o cartãozinho da imobiliária. “Certo - número 48.”
          Entrou no prédio, procurou o elevador. Outras pessoas, mulher com bebê, homem com jorna, moradores. Apertou 8º andar. Elevador subiu, tremeu todo, lá pelas tantas parou, as pessoas resmungaram e se dirigiram para a escada. Tocou campainha no 803, recepcionista da imobiliária deveria atendê-lo, acertara por telefone. Somente estranhou-se de camisola de dormir e um robe acetinado. Talvez tenha dormido lá aproveitando os últimos momentos ainda sem morador. A moça esperava alguém, devia se r ele...
          “Quem me mandou aqui foi o senhor CARLOS.” “Há, sim, o novo gerente? Ele acertou direitinho o preço?” Sinal positivo com a cabeça. Apertaram-se as mãos.
          “RAGNAR.” “LÚCIA MUITO PRAZER.”
          Não tinha como estranhar. É o que se diz nas apresentações - “Muito prazer!” Apartamento bem mobiliado, tevê em tamanho médio, a decoração era básica, dois quadros, alguns bibelôs de anjinhos, um cinzeiro na forma de cupido. Ele não traria quase nada, somente cinco caixas de papelão com poucos livros de Direito e objetos pessoais, a mala grande com as roupas - sua casa mesmo era em São Paulo, Rio de Janeiro a serviço dois dias na semana.
          “Máximo de duas horas, está bem? Ele não avisou que viria cliente agora. Tenho outro marcado no horário da tarde.” Ela tirou a camisola e o robe. Ficou somente com sedutora calcinha de renda e sutiã, pretos, contraste com sua pele um tanto desbotada e rosada ao mesmo tempo. Pensou - “Boa recepção!” Não uma deusa grega, mas uma mulher bastante bonita, aspecto saudável, cabelos claros longos e presos para trás com elástico. Perto de seus trinta anos, bem mais baixa que ele, toda na medida certa. Formavam um par harmonioso. ‘Martini?” Ele aceitou. Dirigiram-se à cozinha, RAGNAR olhou tudo rapidamente, lavou as mãos no banheiro, só faltava o quarto.
          Cama de casal, lençol com estamparia miúda, perfumado e esticadíssimo, caixa de preservativos na mesinha de cabeceira. “Assim, quem não aluga?” - não falou, pensou. “Por onde quer começar? Simpatizei com você. Beijo na boca não faz pare, mas...” Aproximou-se do rapaz e foi um longo beijo de língua. “Bom, se é assim - pensou novamente -, vamos lá.” E desnudaram-se um ao outro, como noivos ansiosos em noite de núpcias. Começaram em pé. Lambeu e chupou os mamilos com a força de um bebê faminto, a cabeça dela meio para trás, olhos fechados em êxtase. Totalmente excitados agora. Alisou as coxas, ela abriu um pouco as pernas, acariciou-a onde achou que devia. Deitaram-se. Pés minúsculos, proporcionais ao corpo. Beijou-os. Todas as vinte unhas pintadas em rosa claro. Ele conhecia a nudez feminina desde os quatorze anos de idade, iniciado por uma prima um pouco mais velha. Pensou no que aprendera de sexo ao longo de tantos anos. Pensou nos vários contos eróticos lidos ultimamente. Ela se entregou toda, como se de repente uma súbita paixão os fulminasse. Duas horas de fogo e ao mesmo tempo de paz. Para ambos, pois ao final dos olhos de LÚCIA caíram lágrimas suaves.
          “Esqueça o cinzeiro no móvel da sala, RAGNAR.” “Eu não fumo.” Não tinha sido assim um sexo qualquer, foi um quase encontro de amor. Trocaram muitas carícias e muitos carinhos. Ele só estranhou a forma que a imobiliária arranjara para conquistar um ‘inquilino de aluguel’... Marketing moderno?! As faculdades já ensinavam isso? Escreveu o número num guardanapo de papel. “No Rio, somente `s quintas e sextas.” Ela ficou de telefonar. Desceu as escadas saltitante, leve como um adolescente. Quase não sentiu oito andares - praticava atletismo nos intervalos do escritório de advocacia. “É, estou mesmo na idade de casar.”
          Debruçada no balcão da portaria, uma idosa reclamava em bom tom. “Ela pode ser bonita, educada, fina, elegante, proprietária do apartamento, mas (baixou um pouco o tom da voz irritadiça e aguda), tenho até vergonha de dizer: (voltou a quase gritar) recebe homens! É prostituta, hoje falam assim garota de programa. Bem em frente ao meu apartamento. Vejo tudo pela fresta da minha porta. Moro no 603...” Um senhor de cerca de sessenta anos, macacão sujo de graxa, alicate e chave inglesa na mão, saía também do prédio. Virou-se para um RAGNAR estupefato: “Bom palpite para a minha ’fezinha’ diária no jogo do bicho.”

                     F   I   M




Biografia:
PARVUS IN MUNDUS EST. (O MUNDO É PEQUENO DENTRO DE UM LIVRO) Ser dedicado, paciente, ousado, crítico, desafiador e sobretudo enlighned são adjetivos de um homem cosmopolita que gostaria de viver mais duzentos, ou quem sabe trezentos anos para continuar aprendendo e ensinando. Muitos de nós acreditam que uma vida de setenta, oitenta anos é muito longa, contudo refuto esse pensamento, pois estas pessoas não sabem do que estão falando. Sempre é tempo de aprender, esquadrinhar opiniões, defender, contestar ou apoiar teses, seguir uma corrente filosófica (no meu caso, a corrente kantiana), não necessariamente crer num ser superior, mas admirar e respeitar quem acredita nele. Entender a diversidade de costumes e culturas denominados de forma polissêmica nas diferentes partes do mundo, falar um ou dois idiomas, se perguntar o porquê e tentar encontrar respostas para as guerras, a segregação racial, as diferenças étnicas, o fanatismo religioso, o avanço tecnológico, o entendimento político. Enfim, apenas estes temas já levaria uma vida para se ter uma compreensão média. A leitura é o oráculo para estas informações, é ela que torna o mundo cada vez menor capaz de se acomodar nas páginas de um livro. É por isso que se diz que não há fronteiras para quem lê. Atualmente as pessoas confundem Balzac com anti-inflamatório, Borges com azeite, Camilo Castelo Branco com rodovia estadual, Lima Barreto com laranja de determinado município paulista, Aristóteles com marca de carro e por aí vai. Embora, eu tenha dissertado sobre o conhecimento culto, os meus trabalhos publicados aqui demonstram o dia a dia das pessoas comuns narrados através de divertidas e curiosas estórias. Meu público alvo são as mulheres. É para elas que escrevo, pois são elas possuidoras de sensibilidade capaz de entender o conteúdo do meu trabalho.
Número de vezes que este texto foi lido: 52839


Outros títulos do mesmo autor

Contos BERGSON E O RISO: Rubemar Costa Alves
Crônicas ROMEU & JULIETA MODERNOS Rubemar Costa Alves
Crônicas CASAMENTOS PERFEITOS Rubemar Costa Alves
Contos MARIDO DE ALUGUEL Rubemar Costa Alves
Contos SIMPATIAS CIGANAS Rubemar Costa Alves
Crônicas NOBREZA MEDIEVAL X NOBREZA DECADENTE Rubemar Costa Alves
Releases A CONFISSÃO DE LÚCIO Rubemar Costa Alves
Contos IDADE MÉDIA (de novo?) Rubemar Costa Alves
Contos SÉCULO XXI Rubemar Costa Alves
Contos SORTEIO FALSO Rubemar Costa Alves

Páginas: Próxima Última

Publicações de número 1 até 10 de um total de 38.


escrita@komedi.com.br © 2024
 
  Textos mais lidos
JASMIM - evandro baptista de araujo 68968 Visitas
ANOITECIMENTOS - Edmir Carvalho 57889 Visitas
Contraportada de la novela Obscuro sueño de Jesús - udonge 56707 Visitas
Camden: O Avivamento Que Mudou O Movimento Evangélico - Eliel dos santos silva 55783 Visitas
URBE - Darwin Ferraretto 55022 Visitas
Entrevista com Larissa Gomes – autora de Cidadolls - Caliel Alves dos Santos 54900 Visitas
Sobrenatural: A Vida de William Branham - Owen Jorgensen 54828 Visitas
Caçando demónios por aí - Caliel Alves dos Santos 54798 Visitas
O TEMPO QUE MOVE A ALMA - Leonardo de Souza Dutra 54707 Visitas
ENCONTRO DE ALMAS GENTIS - Eliana da Silva 54698 Visitas

Páginas: Próxima Última