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"O pensamento só em você"
Widralino

Lá fora a chuva. À volta o clima que desviava seu olhar a pensar na pior das suas enfermidades, ela.

"Como acabaria esse frio se tu existisses e estivesses perto de mim?", pensava ele.

Não via outra saída. Estava cansado do ser celibatário esforçado. Foi ter com espelho e esfregou os dedos nos dedos, fervendo de raiva. E fez-se carícias com as unhas afiadas no rosto. Quase que arrancava a pele, não por descuido, mas nada mais lhe daria prazer do que se livrar do rosto que acreditava ser o que impedia Ana, cheia de graça, de olhar para si.

Não pretendia sair dali de maneira alguma. Tinha uma canseira de não gostar do si mesmo. Tinha mais ainda raiva de não poder deixar de amá-la. Amava-a como se a sua respiração dependesse totalmente disso.

Todos os dias apreciava os carros com os faróis no máximo a desfilarem no pavimento escorregadio. Chovia todos os dias que a terra era um mar de lodo. Há muito tempo a electricidade foi dar umas voltas e não sabe ninguém a que horas de quando volta. A rua deserta de edifícios está escura. Pensava nela, só nela, em como seria se pelo menos uma vez na vida fosse possível tornar tudo real, novamente, como da vez em que era tudo perfeito, tão perfeito que não durou nada, nem mesmo o amanhecer. A chuva sempre durou mais do que tudo na sua vida. A chuva começou a cair quando a Ana de si não quis mais saber. Quando ele pôs tudo a morrer, e hoje nada mais pode fazer senão desejá-la por perto, de joelhos encostados e uma troca de mãos a efectivar cafunés nas orelhas e toques amiúde de cuidado nas zonas mais sensíveis de suas cabeças. Hoje ele não pode sair à chuva e ir atrás da sua amada para porem em dia conversas estúpidas, o que, para ambos, ontem, era inteiramente normal.

Falou com espelho porque quis abandonar o celibato.

"Aceitarias uma traição?, perguntou, porque achava-se na hora de deixar a relação consigo mesmo ser rasgada como papel que se junta para atiçar o fogo. Ele quis fogo. Quis sair da relação com o homem do espelho, o que era na verdade uma relação a três: ele consigo mesmo e o pensamento preso na Ana. Largar a Ana seria como receber o céu pela morte de um demónio, porém não era santo o suficiente para tal acto e deixou-se envolver. Agora é tarde. Ficou ali, à procura no rosto e em todo resto do seu corpo do que faria com que o amor da sua vida mortal não se quisesse nunca mais voltar a aproximar.

Esperava pela noite todos os dias, e nela mais um batalhão de mosquitos preparava-se todo para a guerra. O seu corpo era o seu troféu. Tomavam a sua carne apaixonada pela Ana, e enquanto ele batia em si mesmo para sonhar à vontade com as asneiras que quisesse, os mosquitos, moscas nocturnas, multiplicavam-se, invadiam o seu quarto, e mesmo com insecticida insistiam em se manter vivos, tão vivos quanto devoradores.

Aquele "zunzun" irritante em seus ouvidos eram como hipnose. Ele não poderia evitar bater palmas, mas estas palmas eram as chapadas que sofria de si mesmo e lhe cortavam o sono sempre. E ao acordar, era na Ana que pensava. Ana, a menina que roubou sua alma e vendeu seu coração à escravidão.

Levantava-se e ficava ao pé da janela a pensar na Ana, contemplando a brancura que se tornava a noite todas as noites por causa das quedas pluviométricas que, certamente, nas manhãs, apesar dos desagrados que traziam, nunca foram notícias nos jornais.

Atirado à cama e a assistir aos relâmpagos, como se uma secção fotográfica Deus fizesse com a natureza, só pensava na Ana e mais nada.


Biografia:
Sou um guardião do alheio, procuro por mim mesmo desde sempre...
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