Eu cago fezes desnutridas
E fico com o rabo a doer
Ocorre-me apenas qualquer asfalto
Para esfregar meu traseiro e a sujeira anal ali remover
Porque ninguém vê, disso estou certo
Faço-o denodado, sem papel higiénico que me acuda
Eu pego a minha mão e passo-a no risco que divide as minhas nádegas
Olho-me no espelho da camuflagem
Vejo apenas um mendigo fazendo necessidades gigantes
Que se livra do peso causado pelo lixo que consumiu na hora da fome
Obro, embora rompante, nos escombros da cidade sem nome
Cujas condições sanitárias não se diferem da minha falta de higiene
Lavo as mãos com as águas paradas que andam por aí
Ou então espero a chuva
Nunca ninguém foi tão corajoso assim
Ao ponto de fingir que é louco
Por ter já todos os músculos presos
Por conta do cocó que desce cu abaixo sem preliminares
Concentrou as veias, fez-me fugir para detrás dos carros abandonados
Por onde pessoas passam indiferentes como o Governo
Parto as tripas na certeza de que ninguém sentirá também o cheiro
Sonho com fezes
E ainda não sei o que isso quer dizer
Talvez eu esteja cheio dos bolos partidários
Repartidos para ninguém
Que quando roubo um pedaço à noite
Na hora em que os cães dormem
Como forma de ainda crer na mudança
Minha crença, meu estômago
Reage mal à prova
E repele o leite engolido
Das tetas de Angola
Sabem a sangue e suor
Lágrimas e água turva
Das chuvas diarreícas
Cocó político em forma de vidro
Das urnas que imploram confiança
Nos dias do voto
Facilmente se partem
Por não serem de verdade
O bactrim da desigualdade
Prende o ventre num instante
Deixa o corpo pesado
O cu dói
De tanto espremer as tripas
No processo o ardor
Aposenta-me durante horas
Quando entre paredes
Encho uma sanita rachada
Peido unicidade
Com o rabo da mente.
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