Eu queria andar,
É sério, eu queria andar!
Andar com minhas próprias pernas
Sem ter medo de tropeçar.
Eu queria poder pisar,
E, ter a segurança de ao caminhar
Sentir o vento em meu corpo me abraçar
E não se preocupar tanto nos buracos que sempre há.
Eu queria poder correr,
Porém, se o passo aumentar,
A queda é bem provável me pegar.
E o chão a espera vai estar.
Eu queria poder curtir
As calçadas e sorrir,
De mãos dadas com minha amada andar sim,
Entretanto, os desníveis matam-me.
Queria nos dias de chuva aproveitar,
Mas, quando saio as piscinas naturais vem me afundar,
E, não dar para identificar o que é calçada ou o mar
Contudo, só consigo mesmo me superar nos cais criados para ninguém mesmo ultrapassar.
Sim, não vejo.
Realmente não vejo!
Sou pessoa com deficiência visual.
Eu quero só andar, caminhar e não ter mais medo de tropeçar.
Será que é muito querer que as calçadas sejam niveladas?
Será que é demais requerer que as colocações dos pisos táteis sejam colocados de forma correta?
Será que é um absurdo questionar o porquê que meus impostos não estão servindo para tampar os buracos dos asfaltos?
E, será que sempre terei que escutar os motoristas buzinando e gritando:
Cego, sai do meio da rua, deixe eu passar!!!
Nossa, então não posso andar mais nas calçadas?
Não posso andar nas ruas?
Não posso andar nas pistas?
Oxê, então onde vou andar?
Eu sempre escuto ou sempre escutamos:
Você não precisa disso!
E por acaso sabem o que quero?
Não sabem, eu quero somente ser eu.
Eu quero andar!
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