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Alemanha e seus Odores
Patricia Munhoz e Silva

Fato verídico. Alemanha. Berlim. Verão. Agosto. 20ºC.

Nossos últimos 02 (dois) dias na Alemanha seriam passados em Berlim, onde a programação era simples: conhecer o campi da Universidade e também os principais pontos turísticos da cidade antes de retornar ao Brasil.

Nossa saída de Stuttgart já mostrava que algo nos esperava, pois, depois de quase 30 (trinta) dias sendo cozidos vivos num calor de mais de 40°C, exatamente no dia da viagem, passou a chover e a temperatura despencou cerca de 20°C, em questão de poucas horas, fazendo com que, das malas abertas, em plena rodoviária, começassem a sair sapatos fechados e casacos, até porque o ônibus que passaríamos a noite tinha ar condicionado prometendo algum frescor além do alcance.


Onze horas da noite, malas despachadas, partimos para as acomodações já tentando se aconchegar naquilo que seriam nossas camas até o final de nossa viagem.

Feita uma inspeção final pelo motorista acerca da lotação, as portas do double deck se cerraram e, sem demora, partimos rumo a Berlim.

Ah... Ainda lembro com exatidão da sensação de satisfação que tomou conta dentro de mim, já que ali encerrávamos a etapa principal do mestrado, ali seguíamos para Berlim, mais um dos ícones mundiais da cultura, política e ciência, sem contar que ali sairíamos daquela rodoviária suja, molhada e gelada...

Agora, como tudo que é bom também tem dia e hora para começar e terminar, dali alguns instantes um certo odor começou a tomar conta do ambiente. No início, era apenas um cheiro ruim que levou a olhar as solas dos sapatos ou acreditar que tivesse sido um chucrute mal digerido, mas, que, independentemente do que fosse, ao final não sumia...

Ali tomei coragem e como um perdigueiro passei a buscar os odores e, qual não foi minha surpresa, quando logo que me virei para trás, olhando pela fresta entre as poltronas, lá estava a origem de tudo: uma bela jovem alemã, no auge dos seus vinte anos, típicos cabelos louros e um corpo magro que delicadamente repousava o braço sobre os olhos ostentando o princípio, o meio e o fim de todo o mau, a boca do demônio, a filial do inferno num grande, polpudo, volumoso, encaracolado, louríssimo e azedíssimo chumaço de pelos sovacais...

Senhor dos Anéis! Mesmo tendo certeza do que estava vendo e, principalmente, olfatando, perguntei discretamente ao meu colega se ele também sentia aquele cheiro. Balançando a cabeça nauseabundo confirmou a informação e, automaticamente, enfiou a cabeça dentro da blusa tentando aspirar seu perfume. Tentei, na sequência, confirmar se estava certa quanto a origem, mas, como ele mostrou desinteresse em responder, num certo conformismo, desisti me dando por certa.

O desejo naquele momento era de cutuca-la de forma que simplesmente abaixasse o braço e escondesse aquele sovaco fedorento, mas, a total ignorância no alemão e o medo de ser mal interpretada na língua dos sinais me fez ficar quieta.

Sem muita alternativa, tentei me acomodar na poltrona, na esperança que o sono fosse maior, mas, infelizmente não era e o jeito foi se conformar na mesma proporção que aquele odor ia tomando cada vez mais conta do espaço.

Seguindo o exemplo do meu colega na tentativa de me proteger acabei puxando minha blusa sobre o nariz quando veio aquela golfada de perfume que foi um verdadeiro bálsamo naquela estufa azeda que se tornou o ônibus.

Maravilha, afinal, seriam só 07 horas de viagem pela frente!

Chegando em Berlim ao amanhecer, atordoada da péssima noite de sono, o que restou foi ainda dar de encontro com a jovem uma última vez e pedir a Deus que melhores ventos viessem nos próximos dias.


Biografia:
Nada a declarar
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Crônicas Sempre leve um guarda-chuva Patricia Munhoz e Silva
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Publicações de número 1 até 4 de um total de 4.


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