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  Texto selecionado
Coca Cola
Patricia Munhoz e Silva

Resumo:
Fato verídico. Alemanha. Stuttgart. Verão. Agosto. 42º.

O verão europeu, definitivamente, engana os incautos que acreditam que lá é só frio e neve, onde o Sol e o calor são meros coadjuvantes sazonais. Digo isso de cadeira, pois, eu era um deles que não imaginava o quão dramático poderia ser o calor no verão europeu que facilmente pode ultrapassar os 40°C, não sendo raro ouvir nos noticiários casos de incêndios florestais que chegam a engolir algumas cidades, sem contar as inúmeras mortes em razão do mesmo.


Numa das minhas andanças por aí, lá estava eu na Alemanha, mais precisamente em Stuttgart, em agosto, no verão, meio dia, intervalo para almoço no mestrado, derretendo os picuás em cerca de 42ºC e desesperada por uma bebida gelada que, por lá, é muito difícil de achar...


Parece que eles estão tão preparados para o frio do inverno que até a bebida que, para nós, deve ser bebida fria ou gelada, lá tem que ser em temperatura ambiente, ou seja, quente... Assim sendo, na contabilidade da vida, nunca bebi tanta água, refrigerante e cerveja quente quanto lá... Cruzes!


Pois bem, nesse dia em que até o inferno deveria estar mais fresco que as ruas vazias de Sttutgart, lembrando que estava tudo fechado em virtude das férias de verão, fui até o mercado localizado ao lado da universidade para comer alguma coisa, quando dou de cara com aquela geladeira de Coca-Colas estupidamente geladas que, basicamente, entoavam o canto das sereias tentando seduzir os passantes...


Completamente seduzida e fazendo planos de amor eterno, mesmo que isso, na prática, fosse o mesmo que uma ejaculação precoce já que não duraria mais que 10 minutos para acabar, terminei minhas compras rapidinho só no intuito de poder tomar aquele que se tornou um néctar dos deuses, até porque nem gosto muito de refrigerantes e na classificação desses a Coca-Cola está entre as últimas de minha preferência.


Já na rua, pego a garrafa e começo a analisa-la: elegante como Claudia Schiffer, irreverente como Karl Lagerfeld, quase sagrada como Bento XVI e quando percebo que a tampa é de metal tenho certeza que tão estúpida quanto Marx!!!


Puta que pariu! Ali começou novamente meu calvário, pois, ter aquela garrafa de Coca-Cola estupidamente gelada e fechada com tampa de metal, naquele calor quase desértico de Stuttgart, seria o mesmo que ter uma Porsche sem gasolina no meio do deserto do Saara!!!


Nesse momento lembro do meu irmão abrindo as garrafas nas quinas de qualquer coisa e começo a olhar, na rua, se encontro algum local parecido e sim, há, e, não, minhas duas mãos esquerdas não me permitem abri-la, pois, ou não tenho força ou não tenho jeito...


Nisso, continuo meu trajeto fazendo planos de como vou abrir aquele mecanismo alemão de alta tecnologia e, como todos os dias, faço questão em atravessar a rua na faixa de pedestres próxima a instituição. Isso porque me deleitava vendo os carros pararem para os pedestres atravessarem, numa espécie de regozijo de terceiro mundo quando passeia no primeiro, quando, de repente, um carro cruza a minha frente e para na sobre a faixa...


Ei, como assim!? O que está acontecendo? Penso eu...


Nesse momento, só vejo um homem dentro do carro estendendo a mão esquerda para fora da janela e blasfemando alguma coisa em alemão enquanto aponta para minha Coca-Cola...


Logo penso: Putz! Que nhaca! Virei estatística!!! O Fritz vai levar minha Coca!!!!


De repente, o cara saca lá de dentro um abridor, abre o meu troféu de cristal preenchido com o néctar dos Deuses e fala mais alguma coisa que não entendo patavinas e vai embora...


Voltando a realidade em centésimos de segundo, só consigo olhar embasbacada para o Fritz e aquele carro que vai embora e levanto a mão e agradecendo no meu fluente inglês, só consigo dizer: _Tenquis!!! Tenquis!


Depois daquilo, feliz da vida, encosto do outro lado da rua defronte a universidade, pensando no quanto amo os alemães e a Alemanha, mas, muito mais quanto aquele calor está de matar e eu preciso, sim, matar aquela Coca-Cola...


Fato verídico. Alemanha. Stuttgart. Verão. Agosto. 42º.


Biografia:
Nada a declarar
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Outros títulos do mesmo autor

Crônicas Alemanha e seus Odores Patricia Munhoz e Silva
Crônicas Sempre leve um guarda-chuva Patricia Munhoz e Silva
Crônicas Ventilador da Paz Patricia Munhoz e Silva
Crônicas Coca Cola Patricia Munhoz e Silva


Publicações de número 1 até 4 de um total de 4.


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