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Andrei segue sorrateiro para sua sala. Sem chamar muita atenção, ele organiza sua sala. Ao terminar, uma curiosidade desperta em sua mente: Quem será essa pessoa não identificada? Ele, então, decide olha o rosto dela. Ao se aproximar e estender sua mão para retirar o lençol que cobria o rosto, uma mão toca o seu ombro e Andrei se assusta...Era o Dr. Lewis, indignado pelo retorno antecipado de Andrei ao Hospital.
- Não sei como consigo me surpreender com você, Andrei. Sempre incapaz de seguir uma ordem. – Diz o Dr. Lewis.
- Perdão, Dr. Lewis, mas não consigo fica em casa. Este local é muito importante para mim, é tudo o que eu tenho. Não me proíba de estar aqui! – Suplica Andrei.
- Claro que não farei isso. Mas não falo isso como profissional, pois tendo você conosco em período integral é lucrativo e valioso. Eu falo isso como amigo. Você sempre está muito sozinho, calado. Tenho você como um filho e me preocupo. Não quero que viva a vida que eu vivi, nem que se torne o que me tornei. – Desabafa o Dr. Lewis.
- Se eu for um pedacinho do Profissional que o senhor é, serei muito mais do que já imaginei me tornar. – Andrei Elogia o Dr. Lewis.
O Dr. Lewis se identificava com Andrei. Nutria por ele um amor paterno e cuidadoso e torcia pelo seu sucesso. Lewis, embora quisesse, nunca sentiu o prazer da paternidade. Casado com a Sr.ª Anne Lewis a mais de 50 anos, com quem nunca teve filhos, o Dr. Lewis sempre foi um marido dedicado e presente, mas a infertilidade de Anne o impediu de ser pai. Isso nunca foi um problema que atrapalhasse o casamento dos dois, porém sempre foi um obstáculo no sonho de vida de Lewis. Assim, o Dr. Lewis cuidava, corrigia e orientava Andrei na sua vida pessoal e profissional. Os dois passam alguns minutos conversando e é nítida a alegria que Andrei sente ao ouvir seu mentor.
- Bom... preciso ir. Anne está a minha espera hoje para o jantar. Já que você prefere ficar por aqui, tenha um bom trabalho. – Declara o Dr. Lewis.
- Obrigado, Doutor. – Responde Andrei.
Enfim a noite chegou e com ela vem a preocupação. Dona Sonia, Tia de Miranda, fica inquieta em casa. Ela sai escondida e vai até a Delegacia de Polícia de Londres.
- Boa noite. Eu estou à procura de minha sobrinha. Ela saiu hoje pela manhã e não retornou até agora. Não foi ao trabalho... O senhor Pode me ajudar? – Pergunta Dona Sonia aflita.
- Senhora, o procedimento pede que o desaparecido esteja assim por, pelo menos, quarenta e oito horas. Ainda não deu nem vinte e quatro horas. Preciso que a senhora fique tranquila e aguarde a confirmação do desaparecimento de sua sobrinha. – Explica o Sargento Davenport.
- Como assim? Eu não posso ficar esperando algo ruim acontecer. Não posso ficar de braços cruzados. Vocês deveriam se envergonhar. Uma pessoa está desaparecida e vocês nem sequer se movem para resolver isso. – Vocifera Dona Sonia, alterando o tom de voz. – Por Deus, será que ninguém fará nada? – ela suplica.
- A Senhora precisa se acalmar. Precisamos cumprir com os precedentes. – responde o Sargento Davenport.
Dona Sonia começa desesperar-se. Olhando ao seu redor, ela vê o descaso e o desinteresse dos presentes naquela delegacia. Ela então decide agir por conta própria. Ela vai até um telefone público e liga para o seu sobrinho Peter:
- Peter. Pegue o carro. Precisamos ir atrás de Miranda. Já que não podemos contar com os defensores de nossa cidade, iremos por conta própria. – Ela avisa.
- Certo. Estou a caminho. – Responde Peter.
Os dois saem pelas ruas de Londres à procura de Miranda e, sem sucesso, voltam para casa arrasados.
Andrei já estava inquieto, perambulando pelo Hospital a procura do que fazer. De repente, ele se lembra do corpo que está no morgue à sua espera. Como se tivesse recebido uma boa noticia, Andrei corre, com um sorriso no rosto, até o morgue para verificar o estado do corpo. Temendo ser mal visto, por ser tratar de uma mulher, ele tranca a sala para que ninguém o surpreenda.
- Já estava na hora de eu lhe conhecer, senhorita. Prazer, eu sou Andrei. Normalmente, eu costumo falar mais, mas não quero intimidá-la. – Discursa Andrei, procurando o prontuário de Miranda.
Andrei confere o prontuário e fica intrigado com a causa da morte. Ele então se desloca até a maca onde estava o corpo de Miranda, respira fundo e retira o lençol de seu rosto. É como se alguém enfiasse uma faca afiada diretamente em seu coração. Andrei não consegue falar, nem reagir; não consegue nem mesmo chorar. O choque foi tamanho, que Andrei foi se afastando aos poucos da maca e procurando algo para se apoiar. A tragédia estava completa. Pela primeira vez, Andrei não brincou com o cadáver. Não fez piadas. Não dialogou. Ele simplesmente se calou, sentou-se ao chão e ali mesmo ficou. Naquele dia tão cinza e triste.
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